Sylvio de Carvalho, personalidade ímpar da história da cidade, completa 90 anos
Uma das figuras mais importantes da história petropolitana comemora 90 anos na próxima terça-feira. Nascido em 7 de junho de 1926, Sylvio de Carvalho é considerado patrimônio do jornalismo petropolitano, tendo exercido a atividade durante décadas na Tribuna de Petrópolis, depois de ter passado pelo Jornal de Petrópolis. Também atuou no jornal carioca Última Hora, com Samuel Wainer; e na Universidade Católica de Petrópolis, onde trabalhou por cerca de 35 anos. Ao longo dessas nove décadas, conquistou grandes amigos e também admiradores. Dono de uma personalidade ímpar, deixou rastros de alegria e competência por todos os lugares onde passou. Pai de quatro filhos: Luiz Eduardo Carvalho da Silva, Lucianita Carvalho, Luiz André Carvalho e Geraldo Luiz Carvalho, o jornalista tem 9 netos e uma bisneta.
Sylvio possui uma experiência vasta no jornalismo, área que começou a ter contato aos 12 anos quando escreveu o primeiro artigo em Rio Negro, no Paraná, onde foi estudar no Seminário dos Franciscanos. Aos 20, lançou a primeira revista em Petrópolis, chamada Vida Serrana, que teve apenas duas edições. Ao longo da carreira, entrevistou diversas autoridades e personalidades da história do país. Quem ajuda a resgatar um pouco dessa memória é o professor Oazinguito Ferreira, amigo e um dos admiradores do trabalho do jornalista. “Em sua carreira entrevistou Carlos Lacerda, João Goulart, Jânio Quadros, entre outros, com furos de reportagem que foram reproduzidos pelos jornais O Globo e Última Hora. Até mesmo um chanceler norte-americano que, em 1952, em uma conferência internacional confirmou que os Estados Unidos declararia guerra à Coréia”, mencionou.
Naquela década chegou a fazer a cobertura jornalística dos principais congressos e conferências internacionais que aconteciam no Palácio Quitandinha e que chegaram até a ser transmitidas pela BBC e outras rádios estrangeiras. Já nos anos de 1960, foi editor do Jornal de Petrópolis e depois fez parte da equipe da Tribuna. Na empresa, foi responsável pela criação de inúmeros cadernos especiais, como o Vultos Históricos, em 2005 e 2006, que apresentou a história de grandes personalidades como Santos Dumont, Getúlio Vargas e também sobre os prefeitos que governaram a cidade até 2006, quando a prefeitura comemorava 90 anos.
O diretor-presidente da Tribuna, Francisco de Orleans e Bragança, contou que ele sempre foi muito brincalhão e também um incentivador, na época que a Tribuna comprou a Rádio Imperial. “Conheço o Sylvio desde 1961, porque era amigo de infância dos filhos dele. Sempre teve boas iniciativas e gostava muito da história de Petrópolis. É um profissional carismático e agregador, que eu admiro muito”, afirmou.
Sylvio também foi o idealizador da revista Tribuna Festas, que chega esse ano a 11ª edição. Claudia Queiroz, gerente comercial da empresa atualmente, trabalhou com ele durante 11 anos e lembrou um pouco de como era a convivência e como surgiu a publicação. “Ele esbanjava alegria, estava sempre com alto-astral, o que tornava o ambiente de trabalho leve. Dono de um espírito jovem, estava sempre antenado”, disse. Segundo ela, quando idealizou a Tribuna Festas já vislumbrava a importância do segmento para a cidade. “E até hoje a revista é um sucesso”, comentou. A gerente comercial lembra ainda que ele sempre tinha uma história para contar, o que acrescentava muito no dia a dia. “Ele era rico de informações o que fez com que aprendêssemos muito com a convivência”, contou.
Cristina Vargas, também do departamento comercial da Tribuna, trabalhou durante 10 anos com ele. “O Sylvio era muito alegre, otimista, futurista. Sempre apresentava novas ideias e com muita riqueza de detalhes. Tínhamos um ótimo relacionamento e ele estava sempre nos colocando para cima”, disse. O jornalista também idealizou o especial de 100 anos da Tribuna de Petrópolis. Ele deixou a empresaem Tribuna aos 85 anos.
Segundo Oazinguito, ele também foi pioneiro na década de 1950 na locução local de reportagens pela PRD3 Rádio Difusora junto a gloriosa e histórica equipe do radialista que fez escola no estado. Sylvio é conhecido ainda por outras iniciativas, como a criação da Rádio UCP, quando era assessor de imprensa da universidade. E também criou um informativo naquela época, que passou a ser acompanhado pela PUC, no Rio, e outras faculdades católicas. “Ele teve uma carreira expressiva”, comentou, lembrando ainda que Sylvio também foi comissário da polícia estadual e, nessa época, realizou cursos de segurança em universidades norte-americanas como convidado.
E não foi só a área profissional que fez com que ele conquistasse tantos amigos. “Tudo que eu falar será pouco porque sou um de seus maiores admiradores. Sylvio é parte integrante da história da cidade e símbolo do jornalismo petropolitano. Um homem extremamente gentil, humanista ao extremo. Durante sua trajetória ajudou centenas de pessoas. Era capaz de saber o que todos estavam passando”, disse Oazinguito que o conheceu em 1981, quando era responsável pelo Arquivo Histórico da Biblioteca Municipal.
Outro admirador é o historiador Joaquim Eloy. “O Sylvio é um dos últimos e mais autênticos jornalistas que Petrópolis já teve, escrevia muito bem e estava sempre disposto a ajudar o próximo”, afirmou. Amigos há mais de 50 anos, Eloy não economiza elogios: “Ele é um patrimônio do jornalismo petropolitano”.
Paulo Antônio Carneiro, diretor-presidente do Diário de Petrópolis acrescenta: "Antes de tudo, ele era jornalista. Amava a notícia", acrescentou. Amigos durante anos, acrescentou que ele é uma figura importante para a cidade, que sempre defendeu Petrópolis e gostava de fato de redação
Família e atuação no serviço público
Casado há 65 anos, com Ondina Maurício Carvalho da Silva, de quem não abre mão da companhia, Sylvio sempre esteve junto dos filhos e se destacou sendo um bom pai e marido. O filho Geraldo Luiz Carvalho, o Nino, contou que até hoje, aos 90 anos, o pai gosta de ler jornais, é muito dedicado a família e também a religião. “Ele é muito dinâmico, está sempre criando e cheio de ideias”, contou.
Nino relembrou um pouco da trajetória do pai, pontuando entrevistas que marcaram a carreira, como uma que aparece, no Hotel Quitandinha, com Ademar de Barros, influente político brasileiro, entre as décadas de 1930 a 1960. Sylvio também atuou em três governos do município, tendo sido o primeiro secretário de serviços públicos do primeiro governo do Paulo Gratacós, entre 1967 e 1968. Também trabalhou com João Caldara, na década de 1970, época em que idealizou a construção do Relógio das Flores, inaugurado em 1972, na rua Barão do Amazonas, e um dos principais pontos turísticos da cidade. Em 1989, voltou ao governo Gratacós. Mesmo trabalhando na prefeitura, nunca deixou o jornalismo de lado.