Supercomputador do LNCC ajuda a desenvolver uma vacina contra a Zika
A vacina contra o vírus Zika, está cada vez mais perto de se tornar realidade. Pesquisadores do Departamento de Virologia do Instituto Aggeu Magalhães (IAM), da Fundação Oswaldo Cruz de Pernambuco (FiocruzPE), com o auxílio do supercomputador Santos Dumont, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), no Quitandinha, desenvolveram a primeira etapa da vacina que imuniza contra o vírus Zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue e a chikungunya.
O trabalho, coordenado pelo pesquisador Roberto Lins, teve início em 2016. Um ano após a epidemia da doença, que aconteceu, principalmente, no nordeste do país, em abril de 2015. O desenvolvimento da vacina segue em fase de teste com colaboradores experimentais da Universidade de Oxford (Reino Unido) e da Universidade de Glasgow (Escócia).
Com o auxílio do supercomputador, os pesquisadores conseguiram identificar e criar uma proteína sintética de uma região do vírus da Zika. A partir dessa molécula os pesquisadores do Reino Unido e Escócia conseguiram aplicá-la em coelhos. E tiveram um resultado muito favorável em relação a produção de anticorpos destes animais. Baseada nessa sequência, quatro novas vacinas foram desenvolvidas, com um novo ensaio imunológico para atestar a eficácia das vacinas.
As vacinas foram testadas em camundongos e os resultados indicaram que duas das quatro vacinas desenvolvidas induzem a produção de anticorpos neutralizantes (aquelas capazes de parar a replicação viral) de longa duração. Os roedores que receberam a dose, durante quatro semanas, foram expostos ao vírus e não foram contaminados. Agora, a vacina irá para fase de testes em primatas, para só então ser testada em seres humanos.
O vírus da Zika causou um surto explosivo nas Américas e representou uma das maiores emergências de saúde pública na história do Brasil, com rápida disseminação para mais de 70 países. Embora cerca de 80% das pessoas infectadas pelo vírus sequer apresentem sintomas e, no caso dos sintomas aparecerem, a evolução da doença ser benigna, sendo raros casos graves, a associação com casos de microcefalia faz da doença um problema grave. Atualmente, não existem vacinas ou antivirais licenciados para o Zika com o objetivo de prevenir ou tratar infecções, até seu diagnóstico ainda não é muito fácil de ser identificado.
O vírus da dengue e da Zika são muito parecidos e para identificar a região que distingue um do outro também foi utilizado o supercomputador. Segundo o pesquisador, a utilização da tecnologia foi fundamental para ganhar tempo no desenvolvimento da vacina. “O supercomputador foi fundamental, acelerou esse processo de pesquisa em, pelo menos, dois anos”, completou.
O supercomputador atende a cerca de cem projetos de pesquisa em diversas áreas. Pelo menos 25 deles são ligados à área de saúde. São pesquisas no planejamento racional de fármacos e no processo de aceleração do desenvolvimento de novas vacinas. Os projetos são de pesquisadores de vários estados. Além de projetos que estão sendo desenvolvidos por pesquisadores da cidade, com enfoque na simulação do sistema cardiovascular e ortopedia.
“O supercomputador é um instrumento para obter mais rapidamente os resultados das pesquisas. Ele trabalha em várias pesquisas ao mesmo tempo. Mas imaginemos que toda capacidade dele fosse concentrada em um único problema, que demoraria um ano para ser resolvido no Santos Dumont. Se esse mesmo problema fosse ser resolvido em um computador comum demoraria 10 mil anos para ser resolvido”, explicou o coordenador do comitê gestor Santos Dumont, o pesquisador Antônio Tadeu Azevedo.
O processo de pesquisa até esta fase de testes da vacina, levou pouco mais de dois anos. Em média até que seja disponibilizada para a população, uma nova vacina leva quinze anos para ser desenvolvida. O pesquisador Roberto Lins destaca a importância da elaboração da pesquisa com a tecnologia do país, que além de facilitar o mapeamento nas regiões, onde inclusive ocorreu o surto da doença, ajuda o poder o público a distribuir melhor as políticas públicas em favor da saúde. Além de melhorar os estudos de como diagnosticar os sintomas da doença e informar a população sobre os cuidados para evitar uma nova epidemia.
“A infraestrutura computacional do supercomputador permite essa evolução na pesquisa técnica nacional. O que ajuda a baratear os resultados para que chegue logo a população, não só na área de saúde, mas também na economia”, completou o pesquisador Antônio Tadeu.