• SP-Arte Rotas Brasileiras expõe a diversidade artística e destaca veteranos

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  • 27/ago 15:24
    Por Daniel Silveira / Estadão

    Este ano, o evento irmão da SP-Arte, o SP-Arte Rotas Brasileiras, realiza a sua terceira edição. A feira de arte contemporânea, com foco na produção de artistas das cinco regiões do País, traz criações de nomes mais novos no mercado ao lado de outros mais consagrados. As obras poderão ser vistas – e compradas – entre os dias 28 de agosto e 1º de setembro na ARCA (Av. Manuel Bandeira, 360, São Paulo).

    Uma dessas artistas consagradas é a fotógrafa Maureen Bisilliat que, aos 93 anos, é uma das mais experientes a expor na feira. A fotógrafa inglesa radicada no Brasil é apresentada pela Galeria Marcelo Guarnieri. A sensação de seguir expondo sua obra, “são e salva”, como ela diz, com sua idade, é “ótima”.

    “É um pequeno milagre pelo qual agradeço de corazón! Mas esta energia também pode vir de mim para vocês, de vocês para mim, e de toda mistura rica que faz parte da gente: da Itália, da Argentina, da Inglaterra, da Irlanda, da França e deste Brasil tão bem percorrido e interminavelmente rico”, comenta, nesta entrevista por email, a artista que, desde os anos 1950, se dedica a investigar a alma brasileira por meio da fotografia.

    Em seu trabalho, Bisilliat usa seu olhar de estrangeira aliado ao respeito por seus temas, que incluem, sobretudo, sertanejos e indígenas. “Vem toda a força da negritude, suas culturas, ritmos e religiões e a multiplicidade indígena”, complementa.

    Maurren integra a lista dos mais longevos artistas participando do Rotas, ao lado de outros importantes nomes como: Claudia Andujar, 93 anos, na galeria Carbono; Luis Carlos Lima, 85 anos, na Lima Galeria; Emanuel Nassar, 75 anos, na Galeria A & D; Vera Chaves Barcellos, 85 anos, na coleção Moraes-Barbosa; José Tarcísio, 83 anos, na Pinakotheke; e Ascânio MMM, 82 anos, na Galeria Frente. (No final deste texto, você pode ler um mini perfil de cada um deles.)

    Arte brasileira

    A fundadora e diretora executiva da SP-Arte e do Rotas Brasileiras, Fernanda Feitosa, conta que a feira surgiu com a finalidade de olhar com mais afinco para a produção de artes visuais do País, focando na diversidade e levando em conta as dimensões continentais do Brasil, principalmente depois que a pandemia de covid reduziu as possibilidades de viagens longas.

    “A pandemia acabou trazendo uma percepção de um esgarçamento do movimento de globalização”, comenta. “O Rotas surge com essa vontade de falar: ‘o DNA brasileiro é bom para caramba, o artista brasileiro, do norte, do nordeste, do centro-oeste, é muito bom e a gente conhece pouco porque ele vem pouco para o Sul, onde se concentra o mercado brasileiro de arte'”, segue.

    Fernanda Feitosa diz ainda que esta é uma “feira dos artistas brasileiros, do regionalismo”, que se volta para beleza das individualidades das regionalidades e mostra como elas são diferentes entre si – tanto no estilo quanto nas temáticas.

    Além de nomes já consagrados, como o de Maureen, é possível ver obras de artistas não tão conhecidos, que dão uma voz maior às influências africanas, indígenas e populares.

    O que o evento propõe, portanto, é apresentar uma arte brasileira, feita pelas diversas potências culturais e artísticas do País, e mais. “É uma retomada na discussão de algumas questões culturais brasileiras fundamentais”, comenta Rodrigo Moura, curador, editor, crítico de arte, que assume a direção artística da feira.

    “O Brasil não é uma entidade fixa. Dependendo do jeito que você olha, ele vai mudar”, comenta o curador. “O que é muito forte nessa feira, em termos de ‘projeto de Brasil’, é que ela propicia uma descentralização – que a arte desenvolvida nas diferentes diversas regiões do Brasil não seja definida pelas galerias que estão no sudeste, mas que possa ser um reflexo desses diferentes circuitos e sistemas de mercado, de artistas, galeristas e colecionadores que compõem essa coisa mais ampla que se chama Brasil”, finaliza.

    Quem são os artistas mais longevos na SP-Arte Rotas Brasileiras

    Maureen Bisilliat – 93 anos

    A fotógrafa inglesa vive no Brasil desde 1953, quando mudou para São Paulo com seu primeiro marido, o também fotógrafo espanhol José Antonio Carbonell. Entre 1964 e 1972, trabalhou como fotojornalista na Editora Abril, quando fez dois trabalhos notáveis – A batucada dos bambas, sobre o samba tradicional carioca, e Caranguejeiras, com mulheres catadoras de caranguejos na aldeia de Livramento, na Paraíba. Ao longo de sua carreira também saiu pelo Brasil buscando equivalências com obras literárias de autores como Jorge Amado, Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, Adélia Prado e Mário de Andrade. A artista é apresentada pela Galeria Marcelo Guarnieri.

    Claudia Andujar – 93 anos

    Nascida na Suíça, mudou-se para o Brasil em 1955, quando veio ao País encontrar sua mãe, iniciando sua carreira na fotografia. Além de um trabalho, sua arte foi uma forma de criar um maior contato com o Brasil. A artista viajou pelo País colaborando com revistas nacionais e internacionais. Um dos destaques de sua carreira foi sua exposição na 27ª Bienal de São Paulo e para a exposição Yanomami, na Fundação Cartier de Arte Contemporânea em 2002, em Paris. Uma das marcas de sua trajetória artística é justamente o destaque dada aos povos Ianomâmi. Claudia é representada pela galeria Carbono.

    Luis Carlos Lima – 85 anos

    O artista autodidata do Maranhão, ele incorpora elementos da natureza sintetizando biologia com as formas de frutos, favas e sementes. Lima usa uma técnica própria e sua linguagem singular para recriar formas orgânicas misturando diversos materiais como argila, resina, serragem de madeira, pigmentos naturais e cera de carnaúba. No Rotas Brasileiras 2024, o artista apresenta seus trabalhos no estande da Lima Galeria e vai mostrar um conjunto de peças produzidas entre 2001 e 2016, que testemunham a conjugação entre singularidade e pluralidade na sua prática.

    Emmanuel Nassar – 75 anos

    O paraense Emmanuel Nassar é pintor, desenhista e fotógrafo que usa a estética popular como ponto de partida para realizar diálogos com a arte erudita. Formou-se em arquitetura, trabalhou com publicidade, mas acabou se dedicando à produção artística quando passou a trabalhar como professor na Universidade Federal do Pará (UFPA). No início de sua carreira, Nassar brincava de representar o limite entre o popular e o erudito, mas seu trabalho tornou-se mais objetivo a partir de 1988. Seus trabalhos retratam cultura e cores de seu lugar de origem, criando um diálogo entre a realidade local e as referências cultas e globais, lançando mão de um tom irônico e provocativo. Nassar será apresentado pela Galeria A & D.

    Vera Chaves Barcellos – 85 anos

    Uma das fundadoras do Grupo Nervo Óptico (1976-1978), que tem uma importante participação no cenário cultural de Porto Alegre, do Espaço N.O. (1979-1982) e também da Galeria Obra Aberta (1999-2002). Em 2005, criou uma fundação dedicada à difusão, preservação e divulgação da arte contemporânea, que leva seu nome e da qual é presidente. Sua produção artística inclui gravura e fotografia. Muitos de seus trabalhos discutem limites da linguagem fotográfica, usando manipulação com pintura e não só imagens próprias como apropriadas da mídia. Também incorporou objetos às imagens, criando uma série de instalações. A artista é apresentada pela Moraes-Barbosa.

    José Tarcísio – 83 anos

    Tarcísio é pintor, artista intermídia, gravador, escultor, cenógrafo e figurinista. Seus primeiros trabalhos em artes plásticas datam de 1960. O artista será apresentado pela Pinakotheke, que vai mostrar o resultado de sua produção dos anos 1960 até 1990 – como um inédito recorte do fim da década de 1970, época em que o artista conviveu com comunidades indígenas do Peru e da Bolívia, retornando para o Brasil com pinturas e desenhos.

    Ascânio MMM – 82 anos

    Ascânio Maria Martins Monteiro é escultor e arquiteto, um importante nome do abstracionismo geométrico no Brasil, com uma obra marcada pela experimentação com volumes e materiais. Uma de suas marcas foram as experimentações volumétricas com módulos de ripas de madeira pintadas de branco e organizadas em eixo, criadas nos anos 1970. O artista associa rigor matemático à intuição lírica. As peças de Ascânio serão apresentadas pela Galeria Frente.

    Serviço

    Rotas Brasileiras

    Quando: de 28 agosto a 1º setembro, das 12h às 20h e no domingo, 1, das 12h às 19h

    Onde: ARCA (Av. Manuel Bandeira, 360 – Vila Leopoldina)Horários

    Quanto: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada). Compre online.

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