• Sobre fatos consumados

  • 23/05/2019 12:00

    A intermitência da crise econômica iniciada 10 anos atrás e a incapacidade do receituário liberal de sair dela, fazem emergir contradições latentes até então represadas pelo consenso do mercado em torno da agenda conservadora que se implantou no país.

    A destruição da legislação social e trabalhista somada ao avanço nas privatizações não foram suficientes para aplacar a voracidade do capital por realinhar para cima seus lucros, nem contribuíram pra gerar emprego e renda, nem para o país voltar a crescer e zerar o déficit público como alardeavam seus defensores à época. Aparentemente, um fato consumado.

    Restaram ainda a Seguridade Social e a Aposentadoria da população a serem enquadradas numa das linhas auxiliares deste grande esquema de reprodução do capital eufemisticamente chamado de “reformas”. Uma dessas linhas auxiliares é a Reforma da Previdência, que está sendo tocada hoje mas que também ainda não é um fato consumado.

    Este ataque definitivo aos direitos do povo em geral, e da classe trabalhadora em particular, completa o cerco que se fez ao que se considera como um dos empecilhos à acumulação capitalista, os direitos sociais, descortinando um futuro de barbárie onde as inevitáveis explosões populares tendem a ser tratadas pelo Estado democrático burguês com mais repressão social e criminalização da pobreza.

    O discurso oficial do governo se resume a uma chantagem explícita, sugerindo que o país voltará a crescer e tudo melhorará somente após a Reforma da Previdência. Foi assim também com a Reforma Trabalhista e o desemprego de lá pra cá só cresceu, ao contrário do que afirmavam em uníssono os mesmos cretinos que hoje fazem coro a favor de mais um retrocesso.

    Poucos acompanham, mas estão paralelamente em curso a Reforma Tributária, que desonera ainda mais os ricos e as grandes empresas, e o Programa de Privatizações, que segue alienando o patrimônio público construído por gerações de brasileiros. A grande mídia pouco fala quando não se cala a respeito deste crime de lesa-pátria cometido pelos que se propunham a salvar o país dum inimigo inexistente, como no passado.

    Fato consumado é que este governo mal começou e já deu mostras suficientes de a que veio e o futuro que se descortina não parece nada promissor. A escalada de retrocessos políticos e sociais avança todos os dias e tende a se aprofundar e somente a luta organizada da classe trabalhadora e dos movimentos populares poderá frear a ofensiva do capital sobre nossos direitos, reverter as medidas impopulares implantadas desde o golpista Temer, derrotar o bolsonarismo protofascista e iniciar um novo processo político no país, marcado pelo resgate dos direitos sociais e pelas mais amplas liberdades democráticas para todo o povo e não apenas para uma elite egoísta, retrógrada e excludente.

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