Sobre cantilenas e verdades objetivas
“A Reforma Trabalhista fará o país voltar a crescer e gerar emprego e renda”. Esta cantilena, repetida à exaustão pelos políticos burgueses à época da reforma liderada pelo usurpador Temer e sua quadrilha golpista, produziu efeitos devastadores sobre a opinião pública e o senso comum. Veiculadas insistentemente pelos meios de comunicação, as palavras de ordem do rico empresariado, paradoxalmente, acabaram na boca de trabalhadores que passaram a verbalizar um discurso que não era seu, confundidos que foram pela manipulação midiática e por longos anos de apassivamento.
Da mídia burguesa já se esperava cumprir com zelo seu papel alienante. Só não estava prevista a passividade com que boa parte dos trabalhadores se submeteria à retirada de seus direitos. Fruto de anos de uma política de conciliação levada a cabo pelo PT e seus aliados mais próximos, a perda de combatividade que se abateu sobre a classe trabalhadora refletiu em sua falta de mobilização, de unidade e de um discurso comum, resultando em dura derrota da qual ainda não tirou as devidas lições.
Da aristocracia operária responsável pela prática de apassivamento da classe trabalhadora, e de sua pretensa representação parlamentar, responsável pela desastrosa política de conciliação com as classes dominantes, não se pode esperar mais nada. A história já se encarregou de escancarar seus equívocos e relegar suas lideranças ao lugar que a burguesia lhes reservou. Cabe ao conjunto dos trabalhadores, à sua base, tornar a percorrer os caminhos que ajudaram a construir sua autonomia e combatividade e que hoje são obstados por práticas oportunistas alheias aos seus interesses.
Refundar o movimento sindical sobre bases combativas é mais que uma necessidade premente. Trata-se de uma luta vital para a representação dos trabalhadores, hoje incapaz de mobilizar as categorias contra os ataques frontais aos seus direitos, que vão sucumbindo um a um até não restar mais qualquer anteparo social que dê dignidade àquilo que nos diferencia dos animais: o trabalho.
Não por acaso, o mesmo movimento se verifica agora em relação à Reforma da Previdência, que está sendo imposta à população sem resistência pelos mesmos cretinos que promoveram a Reforma Trabalhista, com os mesmos interesses e o mesmo discurso. O bordão da vez é o de “pelo bem do Brasil”, que não difere do enredo para implementar outros retrocessos, nem dos resultados já previstos. Quem sobreviveu à Reforma Trabalhista deve ter aprendido a diferenciar a cantilena da verdade objetiva e quem sobreviver à Reforma da Previdência, se ainda não se convenceu, fatalmente aprenderá. Ainda que tarde demais.