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  • 20/10/2021 16:16
    Por Ataualpa Filho

    Dificilmente a humildade se dissocia da gentileza. E ambas carregam consigo a simplicidade. A ternura emana da consciência do servir que dá sentido ao viver.É preciso louvar as virtudes que plantam a bandeira da paz e da preservação do Bem. Quando encontramos alguém com esse propósito de vida, aumentam as nossas esperanças de ver o mundo melhor. E quem tem esse amor pela vida sabe valorizar a natureza e preserva-a não somente por uma questão de respeito à fauna e à flora, mas também pela harmonia pacífica do homem no ambiente em que vive.

    Por este hábito de expor o que penso e sinto, tenho encontrado pessoas belas que me fazem esquecer até as críticas negativas. A beleza da diversidade de cores encontra-se quando são vistas de forma harmônica.Os contrastes evidenciam as essências.

    A verdade é que nenhum escritor é capaz de predeterminar as possíveis interpretações de seus textos. Até as obras não-literárias são expostas a diversas óticas. A linguagem sempre será matéria de estudo, porque é o instrumento usado pelo homem para relacionar-se com o mundo. A língua é um produto cultural, não tem dono. E caso, queiram determinar uma paternidade, que seja dada ao povo que a mantém viva.

    Neste século que já se personificou como da comunicação, a análise do discurso tem sido efetuada por várias vertentes, desde o aspecto estrutural até o neurolinguístico. E cada vez que tento me assegurar de algumas certezas, mais me deparo com as dúvidas. Vejo que a palavra com sentido absoluto só mesmo no dicionário.Se cair no texto, corre o risco de perder o seu significado denotativo.

    Quem já esgotou todas as interpretações da Bíblia?  Quem domina todas as interpretações dos versos de Fernando Pessoa? Quem já leu toda a obra de Machado de Assis e conseguiu mapear as ironias e metáforas? Nesse universo, não há espaço para a prepotência, pois nenhum ser humano é onisciente. Vamos continuar nesta de “aprender a aprender” e despojar-se para somar ao outro até mesmo na linguagem.

    E, por exaltar a simplicidade, a gentileza, a ternura, a humildade, é que hoje estou aqui para prestar uma homenagem a quem sempre terá todo o meu respeito: – o leitor.

    A minha reverência a quem dedica um pouco do seu precioso tempo para seguir a linha de raciocínio de quem se atreve a traduzir a vida em palavras. Há muito tempo que deixei de fazer assinatura de jornais impressos. Prefiro ir até a banca para comprá-lo e tecer alguns dedos de prosa com os jornaleiros. É uma maneira de sentir o termômetro da opinião pública. Fico ali em pé, por alguns minutos, ouvindo os comentários de quem passa para ler as manchetes expostas. Às vezes, puxo uma conversa, mas sem provocar polêmica.

    Um dia, em uma banca perto de casa, o jornaleiro, com quem já tenho uma amizade construída, falou-me:

    – Professor, tem um senhor que toda terça-feira vem aqui comprar o jornal, só pra ler o seu artigo.

    – Verdade?!…

    – Quando o jornal chega, já separo o dele. E, se ele não vem na terça, pega no outro dia. Já deixo reservado aqui.

    Isso para um aprendiz de cronista é o máximo! Fiquei interessado em conhecer o referido leitor. Em uma terça-feira, fui à banca, como de hábito, para pegar os jornais, o jornaleiro falou:

    – Se você tivesse chegado aqui uns cinco minutinhos antes, encontraria o senhor que gosta dos seus artigos.

    Olhei para o relógio. Vi as horas e fiz meus cálculos. Comecei a criar uma expectativa na esperança de encontrá-lo. Até que um dia, isso ocorreu, não na terça-feira, nem no início da manhã; mas, no início da tarde:

    – Este é o senhor que sempre compra os jornais na terça-feira.

    – Eu já o conheço! Ele já me emocionou outro dia na Casa de Cláudio de Souza! Abriu a agenda e me mostrou um recorte de jornal com uma crônica que havia escrito…

    Esse cidadão de grande formação humana chama-se: Luiz Antônio Sanseverino. Membro atuante da Academia Brasileira Ambientalista de Letras (ABAL), exercia a função de diretor cultural. Por duas vezes, fui convidado para falar da presença da natureza na Literatura Brasileira. A convite dele, fiz parte do corpo de jurado do concurso de poesia promovido por essa conceituada Academia.

    O professor Luiz Sanseverino muito trabalhou em defesa do meio ambiente em nosso Município. A simplicidade, a generosidade, a gentileza dele já conhecia, mas ampliou quando vi o seu trabalho na ABAL. Tê-lo como leitor foi uma honra.  A notícia do seu falecimento me deixou muito triste. E aqui externo a minha eterna gratidão e expresso os meus sentimentos de pesar à família e aos Membros da ABAL.

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