• Setor de eventos projeta retomada de 100% da capacidade no fim de 2022

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  • 04/10/2021 17:05
    Por Bruno Villas Bôas, com colaboração de Audryn Karolyn / Estadão

    Shows, exposições, bienal do livro, corridas de rua, feiras corporativas… O mercado de eventos de entretenimento e negócios começa a retomar a presença de público e espera acelerar a atividade nos próximos meses, com o avanço da vacinação e de autorizações do poder público. Um dos primeiros a parar na pandemia, o setor é agora um dos últimos a iniciar a recuperação.

    Presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), Doreni Caramori Júnior diz que o plano é voltar a operar com 50% da oferta regular do mercado nos próximos três meses. Em 2022, ele espera que 100% da programação de eventos tenha voltado – o que representa, em média, 440 mil eventos no ano.

    Recentemente, a Prefeitura de São Paulo autorizou a volta de público aos estádios de futebol e a realização de preparativos para o carnaval. No Rio, o prefeito Eduardo Paes autorizou três eventos-teste em outubro sem exigência de máscara e distanciamento, sendo dois deles para até 5 mil pessoas. A cidade também liberou eventos para até 500 pessoas.

    Para Duda Magalhães, sócio e presidente da Dream Factory, empresa de entretenimento ao vivo do grupo Dreamers, do empresário Roberto Medina, o cenário permite investir na retomada dos eventos, quadro que não existia há seis meses. “As prefeituras sinalizam a retomada com base em dados que mostram que os poucos eventos ocorridos não mexeram no ponteiro de contágio e internações”, diz Magalhães.

    A Dream Factory é responsável pelo Rally dos Sertões, o Rio Montreux Jazz Festival e a ArtRio, feira internacional de arte. A empresa realiza a Maratona do Rio, que vai ocorrer em novembro, além dos carnavais de rua do Rio e de São Paulo. “Pelas características dos projetos, acho que vamos conseguir fazer tudo no ano que vem”, afirma Magalhães (veja mais abaixo).

    Milena Palumbo, CEO da GL Events no Brasil, conta que o São Paulo Expo, espaço de feiras e exposições administrado pela gigante francesa, tem reservas que ocupam 70% do calendário e da metragem no próximo ano. “A perspectiva de chegarmos a novembro com toda a população adulta vacinada nos deixa otimistas”, diz.

    Uma das primeiras feiras da empresa será o Boat Show 2021, em novembro, no São Paulo Expo. No mês seguinte, no Rio, realizará a Bienal do Livro, no Riocentro, com capacidade para 300 mil pessoas ao longo de dez dias (metade do público de antes da pandemia). A empresa vai ainda participar da montagem de instalações temporárias do GP de Fórmula 1 na capital paulista.

    Milena afirma que o mercado de eventos corporativos e feiras de negócios demorou a reagir não apenas porque as empresas se retraíram e mantiveram funcionários em home office. Para ela, o setor foi tratado sem isonomia: permaneceu com muitas restrições, enquanto shoppings foram rapidamente reabertos.

    Na área de entretenimento ao vivo, a empresa voltou a realizar shows na Jeunesse Arena, no Rio. Este mês, 2 mil pessoas assistiram a uma apresentação do sambista Diogo Nogueira. Com as medidas de distanciamento e exigência de certificação da vacinação, o público era de 15% da capacidade da casa, de 18 mil pessoas. A expectativa é de que turnês internacionais voltem nos próximos meses.

    Custos

    O setor reconhece, porém, que ainda existem desafios nessa retomada. O mais imediato deles é equilibrar os custos gerados pelos protocolos sanitários e a menor receita provocada pelos limites de ocupação. Bernardo Fonseca, CEO da X3M, conta que desistiu de realizar uma etapa de seu circuito de corrida de trilha em Ilhabela, no litoral de São Paulo, porque não seria lucrativa. “Conseguimos a autorização para realizar o evento, mas teríamos 2,5 mil, e não as 5 mil que tínhamos antes da pandemia. Então, decidimos não realizá-lo. Não adianta executar um evento por executar”, explica Fonseca.

    O presidente da Abrape acredita que a maioria dos eventos é pouco ou nada lucrativa no momento. Para auxiliar nessa retomada, a associação está lançando uma plataforma chamada Radar de Eventos do Brasil, que cruza dados atualizados e projetados do panorama geral de vacinação e do número de vítimas da covid-19 até dezembro de 2021 para avaliar o retorno seguro dos eventos. “A ideia é que a ferramenta possa atender tanto ao poder público quanto ao setor privado”, explica Caramori.

    A reportagem fez cinco perguntas para Duda Magalhães, sócio e presidente da Dream Factory. Confira:

    1. O setor de entretenimento ao vivo começou a sua retomada?

    A pandemia não acabou, mas estamos em um momento de mais conhecimento, segurança e avanço da vacinação. O setor de eventos está, gradativamente, sendo reaberto e a curva de contágio continua em queda. A retomada começou e o setor deve operar mais próximo da plena capacidade a partir do ano que vem. O cenário nos permite investir nessa retomada. Conseguimos realizar o Rally dos Sertões no final de agosto, cruzando vários Estados do Nordeste. Em setembro, realizamos a ArtRio, uma edição muito especial, com galerias bem fortes, o público voltando. Em novembro, vamos realizar a Maratona do Rio de Janeiro.

    2. Como garantir a segurança dos participantes?

    A retomada ocorre com medidas de segurança e protocolos. No caso da Maratona do Rio, por exemplo, vamos adotar mais medidas para evitar as aglomerações. Teremos menos ativações de marcas no local de largada e de chegada, vamos realizar a largada em ondas.

    3. O setor se adaptou na pandemia com a realização de eventos virtuais. É algo que, agora, vai permanecer?

    Houve, sim, uma aceleração e ampliação do contato com o mundo digital durante a pandemia. Isso não vai se perder. Mas os novos formatos não substituem o evento presencial. O ser humano é naturalmente sociável, ou seja, precisa estar em comunidade e estabelecer relações. Sinal disso é que o próprio modelo de lives de artistas, muito comum no início da pandemia, se esgotou um pouco.

    4. E qual o risco para essa retomada?

    O risco é o surgimento de alguma variante não coberta pelas vacinas, e que faça impacto na curva de contágio e de óbitos pela covid-19. Não acredito nisso, é uma hipótese muito remota, mas é a opinião de um empresário, não de um infectologista.

    5. Como a Dream Factory se saiu durante a pandemia?

    Sofremos em 2020, como todo o setor, mas conseguimos nos adaptar. Fizemos a Rio Oil & Gás para o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) em formato virtual, lançamos uma rede nacional de drive-ins que percorreu cinco capitais. A crise não mudou nossa visão estratégica de criar um ecossistema de experiências, com aquisição de participações majoritárias em eventos, mantendo no comando seus fundadores. Aceleramos o plano de fornecer mais serviços para eventos, como uma empresa de “ticketeria” (GoDream), uma de locação de equipamentos (Dream Loc) e uma plataforma de pagamento “cashless” (sem dinheiro).

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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