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  • 20/09/2021 07:30
    Por Mariane Morisawa – Especial para o jornal O Estado de S. Paulo / Estadão

    Roteiristas de ‘The Morning Show’ correram para incluir a covid-19 e as discussões sobre justiça racial

    The Morning Show é uma série de televisão, mas vem se comportando como o programa matinal de entretenimento e jornalismo que lhe serve de cenário. Originalmente, a série, produzida por Reese Witherspoon e Jennifer Aniston e baseada no livro-reportagem Top of the Morning, de Brian Stelter, focaria nas rivalidades e no ambiente competitivo de uma atração do tipo. Mas aí estourou o movimento Me Too, que atingiu também esses programas, com a demissão de Matt Lauer, apresentador do Today, da NBC. The Morning Show se adaptou para incluir o assunto, transformando Mitch Kessler (Steve Carell), apresentador ao lado de Alex Levy (Aniston), em abusador e assediador. Bradley Jackson (Witherspoon), uma repórter de um canal local em West Virginia, é escolhida para substituí-lo.

    Funcionou. A primeira temporada teve oito indicações ao Emmy, rendendo ao Apple TV+ sua primeira estatueta – para Billy Crudup, como ator coadjuvante – e seu primeiro grande sucesso. Na segunda temporada, já disponível, a showrunner Kerry Ehrin precisou se virar nos 30 de novo, quando a pandemia interrompeu a produção. Não tinha como uma série sobre um programa matutino de televisão ignorar a covid-19. Então ela foi incorporada, assim como as discussões sobre justiça racial provocadas pelos protestos contra a morte de George Floyd no verão americano de 2020.

    “The Morning Show é uma caçada”, disse o ator Mark Duplass, que faz o produtor executivo Chip, demitido na temporada anterior por causa do escândalo envolvendo Mitch, em entrevista com a participação do jornal O Estado de S. Paulo, por videoconferência. “É tudo o que está acontecendo agora, é como pular em um mar cheio de tubarões e descobrir o que fazer na hora. Eu aplaudo os roteiristas e produtores pela coragem de fazer isso em uma plataforma tão grande.”

    A verdade é que na temporada 2 a série fica ainda mais ambiciosa, trazendo mais questões sobre o ambiente de trabalho nos dias de hoje. “Vamos falar dos meses logo antes de tudo fechar por causa da pandemia e de racismo sistêmico, homofobia, etarismo, do nosso poder recém-conquistado e qual nossa relação com o poder, sendo mulheres dentro de uma organização de mídia”, disse Witherspoon em coletiva de imprensa virtual, referindo-se às duas protagonistas.

    O primeiro episódio começa logo depois que Alex Levy e Bradley Jackson falarem no ar, para milhões de americanos, sobre a cultura tóxica no fictício canal UBA que tinha permitido a Mitch Kessler agir impunemente durante anos. “Vamos lidar de cara com as repercussões daquele ato e com a culpa que cada um carrega em relação ao que permitiram ou não ocorrer. Há muita autocrítica”, disse Jennifer Aniston, na coletiva.

    Esse logo depois do final da primeira temporada é uma espécie de flashback, porque em seguida há um pulo no tempo, em que fica claro que Alex decidiu sair da emissora, e Bradley tem um novo companheiro de bancada, Eric Normani (Hasan Minhaj). Claro que isso não vai ficar assim, e logo o executivo Cory Ellison (Billy Crudup) chama Alex Levy de volta, que por sua vez recontrata Chip como seu produtor.

    Mia Jordan (Karen Pittman) é agora a produtora executiva do show, o que traz uma série de novos temas, que empolgaram a atriz. “Me pareceu uma oportunidade de compartilhar minhas próprias experiências e falar de assuntos relacionados a raça e política racial”, disse Pittman em entrevista com a participação do jornal O Estado de S. Paulo. “Mia tem desafios muito diferentes daqueles que Chip enfrentava na posição.”

    Daniel Henderson (Desean Terry), que foi colocado de escanteio na primeira temporada, também vai ser condutor desse debate. “Eu cresci na fantasia dos Estados Unidos pós-racial”, disse o ator. “Mas os últimos anos deixaram claro que não é assim, e estamos lidando com o assunto de forma mais complexa.”

    Daniel, que é mandado para a China para cobrir um vírus misterioso atacando a população de Wuhan, está lutando por seu espaço, sendo um homem negro e gay.

    Aniston ficou animada de fazer uma série que reproduz o que está acontecendo em tempo real, quando o mundo está aprendendo como viver em uma nova realidade. “Mas para nós era muito importante não abordar nenhum assunto em preto e branco, mas buscar os tons de cinza. Queremos ouvir aquelas conversas que acontecem atrás de portas fechadas, aquilo que as pessoas sentem que não podem dizer em voz alta, por medo de serem banidas.”

    Um dos temas da segunda temporada é, justamente, o julgamento apressado da chamada cultura do cancelamento – um tema bastante espinhoso de navegar. “Nunca houve tanta transformação cultural”, disse Witherspoon. “Mas somos todos humanos tentando descobrir como agir e viver. Somos todos capazes de coisas terríveis e coisas maravilhosas. Ninguém se resume a uma ação horrível. Há um custo humano em exilar as pessoas ou condená-las por um erro cometido, porque ninguém é perfeito.”

    Ao mesmo tempo, como Daniel deixa claro em dado momento, um pedido de desculpas nem sempre é suficiente. É uma época complexa, e The Morning Show está na caçada para capturá-la, absorvê-la e discuti-la, por mais complicado que seja. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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