• Série ‘Os Ausentes’ lida com o drama dos desaparecidos no Brasil

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  • 23/07/2021 08:41
    Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão / Estadão

    De acordo com um levantamento do Ministério da Justiça e Segurança Pública, cerca de 80 mil pessoas desaparecem todos os anos no Brasil. Só na Grande São Paulo, foram mais de 24 mil casos em 2019, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ou seja, a cada hora, 8 pessoas somem no País. Com a pandemia, a situação parece ter piorado. No primeiro trimestre deste ano, os pedidos de busca por pessoas desaparecidas aumentaram 60,2% em relação a 2020, na cidade de São Paulo. É essa realidade o tema da série Os Ausentes, já no ar com dez episódios de 45 minutos, a primeira produção original brasileira da HBO Max, lançada no dia 29 de junho. A série, criada por Maria Carmem Barbosa e Thiago Luciano, tem roteiros dele, de Renê Belmonte e Bruno Passeri.

    Na trama, Raul Fagnani (Erom Cordeiro) é um ex-delegado de polícia de São Paulo que, depois do desaparecimento de sua filha Sofia, abriu a agência chamada Ausentes, especializada na procura de pessoas desaparecidas. Muitas vezes, os clientes são pessoas que não podem recorrer às vias oficiais. “Eu comecei a minha pesquisa na internet, buscando detetives particulares. E é inacreditável o número de pessoas que pagam esses profissionais, seja para descobrir traições ou para buscar gente desaparecida”, disse o ator Erom Cordeiro ao Estadão. “No caso de pessoas desaparecidas, existe muita gente nesse mercado paralelo. São pessoas que não querem ou não podem recorrer à via institucional, ou porque têm problemas com a Justiça ou pela morosidade da polícia.”

    O ator teve uma experiência no passado com o desaparecimento de uma pessoa próxima. “São coincidências trágicas. Anos atrás, alguém com quem trabalhava desapareceu. A gente foi ter notícia anos depois. É preciso ter total sigilo para o andamento pelas vias institucionais. Então eu tive infelizmente um pouco de know-how.” Mesmo assim, ele ficou assustado com os números de desaparecidos no Brasil. “E há 500 razões: pessoas que querem se desligar de alguma situação, pessoas raptadas para tráfico humano, de órgãos, redes de prostituição”, disse Cordeiro.

    Como passou pela mesma coisa, Raul sabe exatamente o que está vivendo quem teve parentes ou amigos desaparecidos. “O Raul tem um buraco gigantesco no peito, na alma. Ele era um policial bem-sucedido e esse trauma da perda da filha causou um rompimento tão grande na vida dele que ele não consegue mais ficar ali”, revelou Cordeiro. “O que o conecta às outras pessoas que vão procurá-lo é a dor, a pressa, o desespero. Sanando a dor do outro, ele tenta sanar a própria dor.”

    Não à toa, ele acaba atraindo para sua agência outros com dores parecidas, como Maria Júlia (Maria Flor), que chega à Ausentes se dizendo jornalista interessada em acompanhar o trabalho de Raul. Mas, na verdade, ela fugiu de Buenos Aires depois do sumiço do pai. Maria Júlia vai se tornar uma parceira de Raul nas buscas, virando membro da equipe, como Valdir (Augusto Madeira), que ajuda nas investigações, Tai (Indira Nascimento), a hacker da turma, e Edite (Flávia Garrafa), secretária, faz-tudo e dona da loja de doces que fica na frente da agência. “Eu me interesso por séries de personagem. Mesmo quando são procedurais (com um caso por episódio), quero me apegar ao personagem”, contou ao Estadão a diretora-geral Caroline Fioratti, que divide a direção dos episódios com Raoni Rodrigues. “A série Os Ausentes tem personagens muito humanos, desde o Raul e a Maria Júlia, que têm suas ausências, seus vácuos, até o time dessa agência, Valdir, Tai e Edite, que têm um tom um pouco mais leve. Eles todos têm histórias muito humanas que tornaram esse encontro possível. É um procedural, mas com muito engajamento de personagem.”

    Os Ausentes examina um caso por episódio, mas também tem arcos maiores envolvendo os personagens principais. “Eu gosto do formato porque sacia a vontade do espectador que quer assistir a um episódio e não necessariamente se comprometer no mesmo momento a ir para o próximo”, afirmou Fioratti. “Esse comprometimento não é para todos os espectadores. Tem gente que não gosta dessa sensação de ‘agora tenho de ver o outro’. Você sacia a necessidade de desfecho, mas tem também um gancho para aquele espectador que quer fazer o binge-watching (assistir a tudo de uma vez só).”

    A série, rodada antes da pandemia, tem muitas cenas de externas, nos mais diversos cantos de São Paulo, da Avenida Paulista à Vila Brasilândia, passando pela região da Represa de Guarapiranga. No total, são mais de cem locações, com dezenas de personagens secundários e centenas de figurantes. Há muitas cenas de ação, com perseguições e tiros. Para a diretora-geral, foi uma oportunidade e tanto. “Sou apaixonada por séries criminais, de suspense, thriller. Me identifiquei com o assunto, achei que a gente podia desenvolver questões humanas, além da ação, do suspense”, disse. “E fiquei muito feliz porque é muito difícil mulher ser convidada para fazer a direção-geral, ainda mais de uma série de gênero. Só outras mulheres, como a produtora Mara Lobão e, acima dela, a Silvia Fu, da WarnerMedia, para falar que uma mulher era a melhor escolha.”

    Erom Cordeiro, que já tinha experiência com o universo policial, adorou fazer as cenas de ação. “Foi muito empolgante”, disse. Mas seu principal desafio foi atingir a dor sem par de alguém que perdeu um filho. “É algo que não dá para mensurar. Às vezes o desaparecimento é pior que a morte, porque a morte tem a realização. Quando a pessoa desaparece, é mais difícil de lidar com a ausência. Foi muito rico o processo todo. Foi muito doloroso, mas para o bem.”

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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