• Sem acesso a recurso público, 89% das empresas custeiam inovação

  • 09/03/2022 08:05
    Por Cleide Silva / Estadão

    A Montrel Tecnologia, empresa especializada em soluções para o setor de energia elétrica, vai dobrar sua área produtiva neste ano para atender à demanda por um equipamento inédito que detecta erros e fraudes em medidores. O sistema, 100% desenvolvido no País, é usado por grande parte das distribuidoras de energia e exportado para 12 países.

    Mas a empresa enfrentou um problema comum para quem precisa investir na inovação de seu processo produtivo no Brasil. Todo o investimento em desenvolvimento do produto e na aquisição de nova área para a fábrica em Mogi Guaçu (SP) foi feito com recurso próprio, após várias tentativas frustradas de obter financiamento público. A empresa esbarrou em dificuldades como limites no teto do faturamento e burocracia nos programas para a área, explica Lucas Zancopé, gerente comercial da empresa.

    Como a Montrel, que desembolsou cerca de R$ 5 milhões em seus projetos, 89% de um grupo de empresas ouvidas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) também tiveram de custear programas de pesquisa e desenvolvimento em razão da dificuldade em acessar recursos públicos voltados à área de inovação.

    CONTRAMÃO

    O Brasil segue na contramão em relação a outras regiões, afirma Gianna Sagazio, diretora de Inovação da CNI. “Países mais inovadores e mais desenvolvidos facilitam o acesso a recursos para alavancar a inovação, que é o principal vetor de desenvolvimento do país e das suas empresas”, diz.

    A CNI ouviu 196 empresas de vários setores, entre outubro de 2021 e fevereiro deste ano. Apenas 10% delas informaram ter utilizado recursos públicos para inovação.

    O resultado completo da pesquisa será apresentado no 9.º Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, promovido em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O evento ocorre hoje e amanhã no WTC, em São Paulo, e é aberto a todos os interessados por meio de inscrições.

    “A área de inovação nunca foi prioridade no Brasil”, lamenta Gianna. Por outro lado, diz ela, a pesquisa indica que aumentou de 68% para 73% a fatia de empresas que desenvolveram produtos ou processos inovadores em 2020 no comparativo com o ano anterior. Boa parte dos investimentos foi para a formação de mão de obra especializada, outro gargalo do País.

    A diretora da CNI afirma serem necessárias políticas públicas voltadas à pesquisa e desenvolvimento, assim como um marco regulatório, segurança jurídica e menor burocracia entre outras medidas.

    Ela acredita, porém, que novos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, já anunciados, podem ajudar a mudar o quadro neste ano.

    Outra empresa que usou recursos próprios inovação foi a Recigreen, de Itu (SP), que desenvolveu processo exclusivo para descontaminação de embalagens de cimento, argamassa, cal e gesso. Com isso, deve ampliar sua capacidade de 30 toneladas por mês para 100 toneladas.

    Segundo Felipe Barbi, fundador da empresa, caso a Recigreen tivesse acesso a mais do que os R$ 500 mil investidos no projeto, seria possível processar mais do que isso.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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