‘Segundo Tempo’ revela a busca da memória que nos define como pessoa
Se há algum tema que atravessa a história do filme Segundo Tempo, em cartaz nos cinemas, é a memória. Não apenas a necessidade de lembrar algo, mas também aquela memória que molda nossa personalidade, que nos faz ser alguém.
Na trama, os irmãos Ana (Priscila Steinman) e Carl (Kauê Telloli) vivem um momento de luto. O pai (Michael Hanemann), imigrante alemão que veio ao Brasil em busca de novas histórias, morreu subitamente e deixou mais perguntas que respostas na mente dos dois. Eles, que nunca se deram bem, precisam deixar de lado as diferenças na tentativa de encontrar seu lugar no mundo, assim como novas respostas.
É a deixa para os dois viajarem à Alemanha, terra do pai, para encontrar um pouco da memória da família – enquanto também buscam afeto. “Essa é uma questão central. Dois temas são recorrentes nos meus filmes: a cidade, como espaço e como personagem; e as relações afetivas”, explica o diretor Rubens Rewald ao Estadão. “O último de um é o outro. Se não nos relacionamos, a gente não consegue.”
Tal visão de mundo fica evidente conforme a trama avança. Ana e Carl precisam, juntos, descobrir o passado. A relação aflora, ganha vida. “Gosto muito do ser humano”, diz o diretor. “Por isso, sempre busco compreender as relações humanas, sejam elas de atrito, ou de amor e afeto. É um filme sobre a busca pela identidade. Mas é algo abstrato. O material central do filme acaba sendo a relação dos dois irmãos.”
OUTRO TEMPO
Priscila Steinman, que interpreta Ana, não tem relação com a personagem – ela é solar, carioca, conversa bastante, enquanto Ana é retraída, quieta, deixa o cabelo esconder o rosto. “Não me vejo ali. Claramente não sou aquela pessoa. É alguém com outro tempo”, conta. “Eu e Ana absorvemos o mundo de uma outra forma.”
Assim como acontece na trama, o filme foi gravado no Brasil e na Alemanha – Rubens arrisca dizer que 30% ou 40% da produção realmente se passa no país europeu, já que as cenas internas foram todas rodadas no Brasil. “Foi uma experiência maravilhosa de troca. Vimos outras formas de ver o mundo, de ver cinema”, lembra o diretor. “Mas o mais interessante é ver como eles estavam interessados no filme.”
É, afinal, tudo uma questão de memória. Um dos principais desejos de Rubens com este seu novo filme.
“Assim como é importante o País ter noção da sua história para compreender as suas relações sociopolíticas contemporâneas, para não cometer os mesmos erros do passado, no sentido pessoal isso também é muito importante. Nós compreendemos quem somos para não cometermos os mesmos erros”, completa o cineasta. “Em um mundo cada vez mais fragmentado, as pessoas ficam cada vez mais fechadas em suas bolhas individuais. No eterno presente. Por isso, quero romper essa bolha do presente.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.