• ‘Se (a anistia) viesse para eu vetar, pode ficar certo de que eu vetaria’, diz Lula

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  • 17/set 19:17
    Por Geovani Bucci e Gabriel Hirabahasi / Estadão

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira, 17, em entrevista à BBC, que vetaria qualquer projeto de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aos demais condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. “O presidente da República não se mete numa coisa do Congresso Nacional. Se os partidos políticos entenderem que é preciso dar anistia e votarem assim, isso é um problema do Congresso”, disse Lula.

    “Se for PEC (proposta de emenda constitucional), não precisa de sanção. Se for uma lei aprovada e os partidos estiverem de acordo, o presidente da República… se viesse para eu vetar, pode ficar certo de que eu vetaria. Pode ficar certo que eu vetaria.”

    O petista também foi questionado sobre a possibilidade de novas retaliações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após as recentes sanções comerciais impostas ao Brasil. Lula respondeu que se trata de “política pequena”, sem efeitos práticos, e disse ter confiança de que o “tempo será o senhor da razão”, mostrando qual seria o desfecho da situação.

    “Eu não tentei fazer chamada porque ele nunca quis conversar”, disse Lula. O presidente afirmou ainda não ter relação pessoal com o presidente americano e fez críticas ao seu comportamento. “Eu não tenho nenhuma relação com Trump porque, quando ele foi eleito pela primeira vez, eu não era presidente. E agora ele tem relação com Bolsonaro, e não com o Brasil”, disse.

    Lula afirmou que o comportamento de Trump é “muito ruim para a democracia”, destacando que o americano “nega princípios básicos” de respeito às instituições democráticas e apoia pessoas antidemocráticas em várias partes do mundo. Segundo ele, contudo, essa postura não interfere na relação entre Brasil e Estados Unidos.

    “Tive relação com todos os primeiros-ministros da Inglaterra sem nenhum problema. Eu não quero saber se é de direita ou de esquerda. Eu quero saber se é primeiro-ministro, se tem voto. A minha relação com Trump é a mesma coisa”, continua. “Se ele foi eleito pelo povo americano, é o presidente dos Estados Unidos, e é com ele que eu tenho que ter relações. E ele, da mesma forma, comigo.”

    O presidente afirmou que, se necessário, está disposto a negociar diretamente com Trump, mas ressalta que “exige respeito”. Ele disse querer que o Brasil seja tratado de forma digna, o que, segundo ele, não tem ocorrido até agora.

    Lula lembrou que, após o governo brasileiro enviar uma carta pedindo uma definição sobre as propostas apresentadas, a Casa Branca optou por divulgar a taxação à imprensa brasileira, em vez de responder oficialmente. Considerou essa atitude inaceitável e acusou Washington de ter divulgado “mentiras” ao justificar a medida, alegando que o Brasil não poderia regular as big techs americanas. Lula reforçou que o que está em discussão não é a regulação das plataformas nos Estados Unidos, mas sim daquelas que atuam em território brasileiro, como já ocorre em diversos países.

    Ele também defendeu uma relação civilizada entre os dois países, mas lembra de episódios históricos de tensão. Ressaltou também que a última guerra travada pelo Brasil foi contra o Paraguai, há quase dois séculos, e diz querer manter um convívio respeitoso com os americanos.

    Observou, contudo, que não esquece a participação dos Estados Unidos no golpe de 1964 e criticou declarações recentes de autoridades norte-americanas, que considera desrespeitosas à soberania nacional. Citou, como exemplo, uma fala do secretário do Departamento de Estado, Marco Rubio, que teria mencionado a intenção de aumentar punições ao Brasil e retirar vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal.

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