• ‘Schmigadoon!’: protagonistas e espectador em musical clássico desconstruído

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  • 30/07/2021 08:00
    Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão / Estadão

    Quando as coisas estão ruins, não existe lugar melhor para se refugiar do que um musical. Na série Schmigadoon!, do Apple TV+, é meio o que acontece com Josh (Keegan-Michael Key) e Melissa (Cecily Strong), um casal em crise que vai passar um fim de semana num acampamento para reaproximação e termina no meio de um musical à la Brigadoon, transformado em filme com Gene Kelly e Cyd Charisse em 1954. Eles não poderão sair até encontrar o amor verdadeiro. A série estreia novos episódios todas as sextas.

    Mas ninguém vai ver sinais de Hamilton, O Livro de Mórmon ou Querido Evan Hansen em Schmigadoon!. A série em seis capítulos é uma grande e bem-humorada homenagem aos musicais das décadas de 1940, 1950 e 1960. Quando Josh, que odeia musicais, e Melissa, que adora, chegam à cidade são recepcionados por moradores que cantam e dançam para expressar seus sentimentos, mesmo que ele seja simplesmente o amor por suflê de milho. São muitas as referências aos clássicos do gênero, de Oklahoma! a Carrossel, passando por No Sul do Pacífico, Eles e Elas e Sete Noivas para Sete Irmãos. Não que seja obrigatório ter visto nenhum deles, mas os fãs vão ser presenteados com easter eggs. “Para mim, não é exatamente uma paródia, mas uma desconstrução dos musicais”, disse o ator Keegan-Michael Key, que esteve recentemente nos musicais A Festa de Formatura e Uma Invenção de Natal.

    Assim, mesmo se espelhando em musicais da era de ouro, Schmigadoon! é uma obra de 2021. “Para nós, era importante que o elenco não fosse como os dos filmes da época, mas que estivesse de acordo com os Estados Unidos de hoje”, disse o produtor executivo, showrunner e autor das músicas originais Cinco Paul, que é mais conhecido por animações como Meu Malvado Favorito. Paul é criador da série, dirigida por Barry Sonnenfeld, em parceria com Ken Dario. Os personagens fazem comentários sobre a diversidade do elenco, que conta com o mexicano Jaime Camil (Jane the Virgin) como o médico Lopez, Ariana DeBose no papel da professora Emma e Ann Harada como a conformada Florence Menlove, mulher do prefeito.

    Alguns temas que eram tratados de maneira velada ou simplesmente ignorados nos clássicos puderam ser explorados. “Nós homenageamos os musicais antigos, mas, como Keegan disse, é uma chance de desconstruí-los e de comentar aspectos que eram problemáticos, melhorando algumas coisas”, disse Paul. Alguns personagens são familiares, como a beata Mildred (Kristin Chenoweth), casada com o Reverendo Layton (Fred Armisen), a ninfeta ingênua Betsy (Dove Cameron), o rapaz que não quer compromisso (Aaron Tveit). O médico bonitão namora a Condessa (Jane Krakowski), como em A Noviça Rebelde. Mas suas atitudes e circunstâncias são colocadas em discussão. Mildred é uma antagonista e fica claro que Betsy é tratada de maneira machista. O prefeito Menlove (Alan Cumming), como o sobrenome indica, esconde sua orientação sexual.

    O elenco, dá para perceber, é dos melhores. Chenoweth venceu o Tony por You’re a Good Man, Charlie Brown e ficou famosa por Wicked. Krakowski levou o Tony por Nine. Cumming também é ganhador do Tony por Cabaret. Tveit fez Hairspray e Moulin Rouge! na Broadway, Harada esteve em Avenue Q e Ariana DeBose participou de Summer: The Donna Summer Musical e Hamilton. “Nós queríamos talentos musicais genuínos e variados, porque precisávamos que todos cantassem e dançassem de verdade”, disse Cinco Paul. Para o diretor Barry Sonnelfeld, havia um desafio adicional. “O tom da série é tanto naturalista quanto teatral. Então as interpretações tinham de ser tanto teatrais quanto naturalistas, e nós tivemos muita sorte porque todo o elenco foi capaz de fazer.”

    Foi ainda mais especial porque a série foi rodada e lançada durante a pandemia, quando a Broadway estava fechada – a reabertura está prevista para setembro. “Ao andar em Nova York, vemos todos os teatros fechados. É triste ver a Broadway assim, mas nós conseguimos fazer um musical nessa época tão dura. Foi maravilhoso. É nossa carta de amor à Broadway”, disse Cecily Strong. Para a atriz, estamos em um momento que parece um filme de terror. “Schmigadoon! é um lugar de sonho, onde gostaríamos de viver agora”, disse Cinco Paul. Um abrigo para tempos difíceis. É preciso ter um coração muito duro para resistir à graça e positividade de Schmigadoon!, mais um acerto do Apple TV+, que adoça esta pandemia também com a animação musical Central Park e a comédia otimista.

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