• Saúde Mental: Vamos falar sobre isso?

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  • 05/ago 14:30
    Por Vanisa Moret Santos

    Vida é mar à tona 

    Ontem aconteceu algo inusitado comigo. Fui caminhar no Aterro do Flamengo, por volta das 9:00 da manhã, e fui surpreendida por uma multidão de maratonistas em direção ao Centro do Rio. Pensei comigo mesma, “será que um dia conseguirei participar de uma maratona?”.  Foi então que me dei conta de que eu estava no meio de uma meia maratona! Como já venho treinando há meses, eu me confrontei com uma provocação interna, “Por que não entrar nesse bonde de maratonistas andando?”. Afinal, caminhando se chega ao longe. Apertei o ritmo da passada em direção ao Aeroporto Santos Dummont, mas, para completar a meia maratona, ainda faltavam alguns quilômetros no caminho de volta. Em pouco tempo, a caminhada vigorosa se transformou em uma corridinha leve e lá estava eu correndo no meio de uma meia maratona. Quando cansava, caminhava, mas recuperava o fôlego, e seguia em frente. 

    Parece uma metáfora para falarmos das dificuldades que enfrentamos ao longo da vida, mas esse foi o meu momento de descoberta de que eu podia seguir em frente em um novo ritmo. E, mesmo parecendo ter ciência disso, havia algo que ainda não tinha trazido para a consciência e que precisava se confirmar em ato. 

    Isso aconteceu de um modo surpreendente. Sim, foi uma grande surpresa que eu tenha efetivamente corrido! Um ato que resultou de um encontro inesperado, gerando, em seguida, uma sensação de serenidade, uma espécie de suave alegria.

    Quem acompanha minhas mais recentes postagens no instagram e meus artigos na Tribuna, deve ter lido alguns de meus relatos pessoais sobre minha mudança de hábitos alimentares e de meu estilo de vida desde novembro de 2023. Tem sido uma construção contínua, mas que só teve início depois de muita análise. 

    Para me referir ao momento de mudança de estilo de vida, recorro à máxima de Freud em sua “Conferência sobre a dissecção da personalidade psíquica” (In: Obras completas, Standard Edition: 1996/1933) , “Onde estava o isso deve estar o eu”(Freud/1933, pág 84). Essa conhecida assertiva freudiana tem sido traduzida de diferentes maneiras. Gosto de traduzi-la como, “lá onde o isso era, eu devo surgir”. Tal máxima nos remete ao cogito de René Descartes. Após duvidar de sua própria existência insistentemente, Descartes só conseguiu tal confirmação ao admitir que, se ele pensava, ele existia. 

    O cógito cartesiano se popularizou como, “penso, logo, existo”. Foi Lacan, que, ao retomar o aforismo freudiano, juntou-o de modo inusitado ao aforismo cartesiano, resultando em, “sou onde não penso, penso onde não sou”.

    Enfim, fiz todo esse preâmbulo teórico para dizer que, quando caminho, “sou com meus pés em curso pulsante”. Assim, continuo seguindo adiante no percurso. Existindo lá onde “não penso”. Simplesmente passo-a-passo, verifico que posso e, nisso que faço, sou. 

    Ao me autorizar acelerar o ritmo da caminhada, confirmo, em ato, que posso correr como sempre pude, mas algo em mim me fizera tomar distância desse saber prévio das brincadeiras de criança, dos “piques-bandeira”, das corridas e escaladas.

    Passo a passo, vejo que posso e sigo em frente.

    A confirmação de minha existência diária, se dá pelo pensamento colocado em ação. É muito parecido com o que faço quando escrevo, quando me autorizo a publicar o que penso, isso vira um poema a mais que também sou eu, ou seja, essa “pensação”que emergiu de um lugar de mim, de onde vieram as palavras e as coisas que me contornavam até eu poder escolher aquelas que decidi trazer à tona. Fui fazendo isso ao longo dos tempos. 

    Sobre isso que disseram de mim, sigo reescrevendo as cenas do meu jeito. Um novo estilo, novos caminhos, um novo poema em curso.

    @vanisamoretsantos

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