• Saudades, sim. Tristeza, não

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  • 27/10/2016 08:00

    Neste mês de novembro lembramos, de maneira especial, dos entes queridos que já partiram. É normal chorar o vazio da saudade. Mas, reviver as virtudes, os bons exemplos e o carisma de quem partiu é um grande estímulo para vivermos melhor, na certeza de que, com nossas almas purificadas, estaremos, um dia, juntos novamente. É essa certeza que deve sobrepor-se à tristeza e à dor da separação, acompanhada da consciência de que a vida neste mundo é finita.

    Em geral, na medida em que vamos envelhecendo, adquirimos consciência de que devemos estar preparados para um dia encerrar nossa caminhada neste mundo. Envoltos em sonhos de conquistas e realizações, os mais jovens, como é natural, tendem a fugir dessa certeza de finitude, da qual somente se aproximam em momentos de perdas – do pai, da mãe, de um irmão, de amigos. E as separações são sempre mais traumáticas em caso de um acidente ou de doenças graves prematuras.

    Jovens ou idosos, todos devemos ter a consciência de que ninguém vive para sempre – exceto nossas almas. Como o nascimento de uma criança é sempre fonte de grande felicidade para uma família, devemos estar certos de que a morte é o renascimento para a eternidade. É essa certeza, pregada por todas as religiões, que dá sentido à nossa vida aqui na Terra e alimenta nossa luta em busca da Verdade. 

    O grande autor e líder espiritual japonês Ryuho Okawa nos lembra, em Mensagens do Céu (IRH Press do Brasil), que “tanto Buda quanto Jesus ensinaram que a alma é nossa verdadeira natureza e que estamos vivendo neste mundo apenas temporariamente. Essas verdades nunca irão mudar” e apenas precisam ser transmitidas em linguagem atual às pessoas de nosso mundo materialista e consumista.

    “O mundo precisa de conhecimento espiritual, isto é, saber de onde vêm as almas e para onde irão após a morte. É essencial para a nossa felicidade sabermos que somos seres espirituais”, diz Okawa. “Não importa o quanto acumulemos de conhecimento, não teremos sabedoria de fato e não encontraremos o caminho de casa se não soubermos de onde viemos e para onde vamos.”

    Somente com essa fé na eternidade conseguiremos aceitar as marcas do tempo e nosso próprio fim. William Shakespeare, em seu Soneto 19, descreve de forma magistral o envelhecimento. Refere-se ao tempo como voraz, que “corta as garras do leão” e “arranca os dentes afiados da feroz mandíbula do tigre”, não evitando nem o “crime hediondo” de marcar “com as horas” a bela fronte de um amor. Mais lírico, o educador e poeta Rubens Alves diz que “Deus existe para tranquilizar a saudade. Quem é rico em sonhos não envelhece nunca. Pode até ser que morra de repente. Mas morrerá em pleno voo…” 

    Que este mês de novembro reavive em cada um de nós, idosos ou não, a consciência de que devemos estar sempre preparados para deixar este mundo, vivendo cada dia como se fosse o último, com fé, amor, confiança e tranquilidade. Em As Leis da Sabedoria, outro de seus mais de dois mil livros publicados, Ryuho Okawa ensina que, “depois da morte, a única coisa que o ser humano pode levar de volta consigo para o outro mundo é seu ‘coração’. Dentro dele reside a ‘sabedoria’”. O autor afirma que “é importante que você leve um tipo de vida que não seria motivo de vergonha ou desonra se você estivesse no mundo celestial” (do livro Trabalho e Amor).

    Que a lembrança dos que já partiram renove nossa fé em uma vida eterna e nos estimule a imitar os bons exemplos e as virtudes cultivadas pelos entes queridos, realizando nossos próprios sonhos de felicidade. A lembrança de tudo o que eles fizeram de bom ao longo de sua vida é um grande estímulo em nossa caminhada. Saudades, sim. Tristeza, não.

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