• Santa Cecília: legado e compromisso

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  • 26/04/2021 17:58
    Por Joaquim Eloy

    Quando o maestro pernambucano João Paulo Carneiro Pinto, que assinava apenas Paulo Carneiro, organiza e inicia o ensino musical em Petrópolis, em fevereiro de 1893, por sua competência e carisma logo conquista amigos e seguidores para coadjuvá-lo na Escola de Música Santa Cecília.

    O musicista consegue espaços para a implantação de sua escola, conquista a admiração e o respeito da população serrana, que contribui para a manutenção do ensino do viés gratuito, conseguindo, heroicamente, fazer sobreviver a instituição até o ano de 1923, quando falece.

    Paulo Carneiro mantém, por 30 anos, a escola e, ao criar a orquestra esta consegue auxiliar no suporte financeiro pelas exibições em todos os festejos de Petrópolis; uma presença obrigatória requisitada sempre e permanentemente.

     O maestro, muito querido e amado, comove o poder público, o qual, em algumas ocasiões, remunera seus serviços e sua divina arte.

    A história petropolitana tem aceito a afirmativa de que a Escola de Música Santa Cecilia era o maestro e este a Escola.  

    1923: falece o idealista; a Escola deveria fenecer com ele, de quem é o acervo instrumental mínimo e a magnífica e respeitada obra.  A escola não possuí prédio e nenhuma outra instalação física, e de sua propriedade e em uso apenas velhos móveis e instrumentos especiais à natureza do ensino musical. Tudo se agrava pelo programado e inevitável fechamento do Hotel Bragança, onde o maestro funciona gratuitamente e é um dos últimos hóspedes-usuários das velhas instalações do gigantesco imóvel, em visível decadência.

    Se a Escola de Música era o maestro, ela estava findando por ali.

    Ah! O destino é caprichoso e a crença de certas criaturas humanas – as idealistas, sempre – no ideal santificado de suas missões, sempre oferecem a espada certa ao combate, em momentos de luminosidade. Paulo Carneiro, no ofuscar do brilho de seus olhos, a seu lado, cinco discípulos, admiradores-amigos, a eles balbucia o pedido:

     – Não deixem a minha Escola morrer!

    E eles, após o sepultamento do mestre, entreolham-se, entre assustados e destemidos – proclamando no cenário da bela e musical natureza petropolitana, o propósito de honrar o pedido.

    – Reuniremos os seus professores, alunos, musicistas integrantes da orquestra…! – conclama Reynaldo Chaves.

    – O maestro e sua obra merecem todo o esforço! – o musicista André Tannein, declara emocionado.

    – Como fazer? – é a preocupação de Walter Eckardt.

    – É um compromisso e devemos cumpri-lo! – a manifestação de José de Castro Wendling!

    – Façamos uma reunião com todos! – diz Manoel Gomes de Carvalho, este o arrendatário do Hotel Bragança e que cedia salão e salas de seu hotel, graciosamente, para as aulas, ensaios e apresentações musicais da Escola de Paulo Carneiro.

    E assim ocorre:  uma reunião, marcada para o dia 23 de setembro de 1923, ganha expressão de Assembleia Geral. Estão presentes dois admiradores de Paulo Carneiro; o primeiro, amigo pessoal de Reynaldo Chaves, o acadêmico da Associação de Ciências e Letras, Joaquim Gomes dos Santos, convidado a secretariar a Assembleia; o segundo, o farmacêutico integrante da orquestra Santa Cecilia, Oscar Monteiro Lázaro, eleito o primeiro presidente da Escola. Ambos se tornam personagens chaves da reorganização e sobrevivência da Escola.

    A história se escreve com documentos e nada melhor do que a ata da Assembleia de admiradores de Paulo Carneiro, visando respeitar o desejo do maestro pela continuidade da Escola de Música Santa Cecília.

    Joaquim Gomes dos Santos redige e firma a histórica ata.

    No próximo artigo será reproduzido o texto integral do valioso documento.                                                                                                                                                                              (continua)

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