Sam Altman, da OpenAI, bancou um estudo de renda básica universal. Veja o que aconteceu
Sam Altman, CEO da OpenAI, dona do ChatGPT, é conhecido por ser um entusiasta da ideia de renda básica universal – ou seja, transferir renda para grupos mais pobres da sociedade sem a exigência de contrapartidas. O tema ganhou mais força com o crescimento da inteligência artificial (IA), um setor impulsionado graças ao próprio Altman. O temor de economistas e outros especialistas é que a IA possa roubar empregos e empurrar para fora do mercado de trabalho milhões de trabalhadores. Agora, Altman tem um uma resposta para programas do tipo.
O executivo encomendou um estudo, cujos resultados foram publicados nesta semana. Trata-se da maior pesquisa randomizada de renda básica universal conduzida nos Estados Unidos até hoje. O trabalho é da OpenResearch, um laboratório sem fins lucrativos ligado à OpenAI, e foi publicado pelo Bureau Nacional de Pesquisa Econômica.
Altman falou sobre a vontade de financiar uma pesquisa do tipo pela primeira vez em um post de 2016 no site da aceleradora de startups Y Combinator.
O levantamento foi feito entre novembro de 2020 e outubro de 2023. No experimento, mil pessoas entre 21 e 40 anos e residentes nos estados norte-americanos do Texas e Illinois recebiam US$ 1.000 mensalmente. Para participar da pesquisa, a renda familiar do indivíduo em questão teria que ser menor do que 300% da linha da pobreza federal dos Estados Unidos no ano de 2019.
As transferências significaram um aumento de 40% nas rendas dessas pessoas, cujos ganhos anuais ficavam abaixo dos US$ 29 mil.
Além do grupo principal, havia um grupo de controle, em que duas mil pessoas recebiam US$ 50 por mês. O resultado: dois artigos publicados nesta semana, sendo que um tratava dos efeitos do recebimento do dinheiro no emprego e o outro na saúde.
O estudo revelou que, na média, a renda dessas pessoas caiu cerca de US$ 125 mensais – algo que guarda muita relação com o fato de que, por causa do dinheiro extra, muitos indivíduos optaram por trabalhar um pouco menos. Em média, essas pessoas trabalharam oito dias a menos por ano. Com o tempo restante, sobraram para o lazer.
O trabalho descobriu ainda que o dinheiro extra foi para fins essenciais como aluguel, transporte e comida.
À CBS MoneyWatch, a professora assistente de economia da Universidade de Toronto e uma das líderes do estudo, Eva Vivalt, afirmou que foram observadas quedas moderadas no trabalho. “Do ponto de vista de um economista, é um efeito moderado”, disse.
Segundo ela, os pesquisadores esperavam que participantes ganhariam salários maiores ao aceitar empregos que pagam mais, mas não foi o que aconteceu. “Achávamos que, se você pode procurar trabalho por mais tempo por ter um ganho extra, você pode se dar ao luxo de esperar empregos melhores, ou de se demitir de empregos piores”, declarou Vivalt ao veículo. “Mas não encontramos efeitos de qualquer tipo na qualidade do emprego.”
Impactos na saúde
Já na saúde, os impactos foram menos notáveis. De acordo com o artigo, não foram encontradas evidências de melhoras na saúde física devido às transferências. Apesar disso, foi registrada alguma melhoria nos níveis de estresse, que desapareceu ao final do primeiro ano de experimento.
Os indivíduos que receberam a renda viram a hospitalização crescer em 26% no ano passado, em comparação ao grupo de controle. Houve ainda um crescimento de 10% na probabilidade de ter visitado o departamento de emergência em 2023. Isso indica que as pessoas passaram a se cuidar mais, considerando que os EUA não têm um sistema público de saúde, o que afasta pessoas mais pobres de consultas e exames.
Pelo lado bom, as pessoas gastaram cerca de US$ 20 a mais com saúde todos os meses, em média, o que pode levar a benefícios a longo prazo. No total, aproximadamente US$ 45 milhões foram doados a milhares de pessoas pelos Estados Unidos. Novos artigos devem focar em outros pontos do experimento, como mobilidade, crime e política.
De acordo com os pesquisadores, os resultados do experimento continuarão a ser estudados, especialmente conforme outras cidades dos Estados Unidos conduzem suas próprias pesquisas do tipo.
Discussões no mundo tecnológico
Vale notar, por fim, que Sam Altman não é o único a alar de renda básica universal entre os grandes nomes da tecnologia. Elon Musk, por exemplo, acredita que a inteligência artificial trará uma onda de desemprego, fazendo com que seja necessário que haja uma renda básica para manter o bem-estar da população.
Em 2017, Musk afirmou que “será necessário” haver esse tipo de renda, uma vez que “haverá menos e menos empregos que um robô não conseguirá desempenhar melhor.”
Neste ano, por outro lado, o bilionário sul-africano afirmou que “não teremos renda básica universal”, mas sim uma “renda alta universal”.