• Salles legitimou ação de criminosos, não do servidor público, diz delegado da PF

  • 26/04/2021 19:53
    Por André Borges / Estadão

    Afastado do comando da Polícia Federal no Amazonas, o delegado da PF Alexandre Saraiva reafirmou nesta segunda-feira, 26, as críticas que disparou contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, alvo de uma notícia-crime enviada por ele ao Supremo Tribunal Federal.

    Em comissão realizada pela Câmara dos Deputados para discutir o assunto, Saraiva disse que Salles decidiu se colocar ao lado dos madeireiros a partir da avaliação de duas toras de madeira, quando estava diante da maior apreensão de madeira ilegal já feita pela PF em toda história.

    “Não se pode, com análise de duas toras, anular todo esse trabalho que foi realizado pelos peritos da Polícia Federal. Se é para criticar, que se colocasse uma equipe técnica do Ibama para fazer verificação da área”, declarou o delegado aos deputados.

    Saraiva disse que existem aproximadamente 40 pontos na região que foram alvos de apreensão de madeira, mas apenas dez pessoas apresentaram documentação até o momento, com o objetivo de tentar retirar o material. “Nós temos mais de 70% da madeira apreendida que não apareceu dono, ninguém reivindicou. Como é que o ministro pode dizer que aquilo ali está tudo certo e que a Polícia Federal está errada?”, questionou. “A principal empresa que está na região recebeu mais de 20 multas do Ibama, deve aproximadamente de R$ 9 milhões. O senhor ministro fez uma inversão, tornou legítima a ação dos criminosos e não dos agentes públicos. Em linhas gerais, sendo bem conciso, foi isso que nos motivou a fazer essa notícia crime.”

    Saraiva, que foi afastado do cargo após a denúncia contra Salles, apresentou detalhes das áreas onde a madeira foi apreendida e afirmou que “não como essa madeira ser legal, sob nenhuma hipótese”.

    No sábado, 24, o delegado publicou em seu perfil no Twitter uma foto da placa que recebeu do efetivo da PF no Amazonas e afirmou: “Honra maior não existe”.

    “Demonstrou coragem, atitude e profissionalismo, desde os trabalhos mais simples às mais complexas operações, sendo reconhecido por seu brilhante trabalho em defesa da Amazônia e da Polícia Federal, colocando esta Superintendência em destaque nacional e internacional”, registrou a homenagem.

    Saraiva foi substituído no comando da PF no Amazonas pelo delegado Leandro Almada, que já atuou como seu número 2 e foi responsável pelo grupo de investigações ambientais sensíveis na superintendência.

    A troca no comando da unidade foi confirmada um dia após Saraiva enviar ao STF notícia-crime contra Salles por obstrução de investigação ambiental, advocacia administrativa e organização criminosa. A justificativa era de que o delegado já havia sido sondado sobre a mudança.

    Ao Estadão, o delegado afirmou que recebeu a ligação de um ‘amigo’ sobre uma audiência. Saraiva diz que ‘não foi comunicado antes’ sobre sua saída do comando: “Só tem duas formas de me comunicar oficialmente – ou meu chefe me liga, pelo princípio da hierarquia, que é o diretor-geral, ou publicação no Diário Oficial”.

    Saraiva passou quatro anos na chefia da PF da Amazonas. Em 2019, o delegado foi o pivô da primeira crise entre o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e o presidente Jair Bolsonaro, em 2019.

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