Saiba como é a celebração da Páscoa na Igreja Luterana
Neste domingo (31), é celebrada a Páscoa, uma das datas mais importantes para o cristianismo, onde é lembrada a morte e ressurreição de Jesus Cristo. A Tribuna de Petrópolis entrevistou o pastor Elton Pothin, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, para entender como os protestantes realizam esta celebração e outras datas do chamado Calendário Litúrgico, que é um cronograma de dias especiais para a Igreja.
A Igreja Luterana, assim como metodistas e presbiterianos, vem na corrente do protestantismo histórico. Neste caso, costumam considerar o Ano Litúrgico, iniciado no Advento (a expectativa pelo Natal). Com isso, a Quaresma e o Tríduo Pascal também foi celebrado em grande parte destas comunidades de fé.
Já as igrejas pentecostais e neopentecostais, como a Assembleia de Deus, costumam seguir apenas as datas de Natal e Páscoa, por exemplo, não observando o Calendário Litúrgico. Um dos grandes destaques nessas comunidades é o Culto da Ressurreição, que acontece no Domingo de Páscoa e costuma atrair diversos fiéis.
Na Igreja Luterana, as celebrações já começaram na última quinta-feira, com a cerimônia do lava-pés, que relembra a última Ceia de Jesus com os doze discípulos antes de sua morte. Nesta entrevista, o pastor explica também outros detalhes da tradição luterana.
Tribuna de Petrópolis: Como é a celebração na Igreja Luterana? Quais as principais diferenças, principalmente em relação a Igreja Católica?
Pr. Elton Pothin: Para dizer a verdade, nós também fazemos aquilo que se chama de Tríduo Pascal. Começa na quinta-feira, com o Culto Lava-pés, segue na Sexta-feira Santa, com o culto da Paixão. No sábado, não temos nenhuma celebração. Nesse dia, lembramos o Cristo que desceu ao mundo dos mortos e que pregou àqueles que haviam falecido antes de Jesus estar entre nós na Terra e que, então, não haviam tido conhecimento de Jesus. Ele pregou a eles no mundo dos mortos, para que também se convertessem e acreditassem Nele.
Depois, no domingo, temos o culto da Ressurreição às 6h e, depois, às 9h, o culto do Domingo da Páscoa. Assim, celebramos quinta, sexta e domingo, o Tríduo Pascal.
TP: A Igreja Luterana também segue a Quaresma?
EP: Sim. Seguimos a Quaresma. Mas ela não é mais no sentido de você fazer algo diferenciado, no sentido de jejum ou outra coisa. É no sentido de uma reflexão mais profunda que você vai fazer neste tempo. Então, nós sugerimos orações específicas para o tempo da Quaresma, leituras bíblicas.
Para a Semana Santa, sugerimos um roteiro específico de reflexão diária, além das normais que cada pessoa faz em casa. Então, a nossa Quaresma é no sentido de uma reflexão mais profunda, que nos aproxima mais de Deus e nos faz refletir no grande Amor e grande Graça que Deus nos dá através de Jesus, morrendo e pagando por nossos pecados e nos oferecendo a salvação, através de sua ressurreição.
TP: Explique um pouco sobre a importância desse momento de Páscoa para a Igreja Luterana.
EP: Uma frase precisa ser dita em primeiro lugar: se não houvesse Páscoa, que é a ressurreição de Jesus, não haveria cristianismo no mundo. Eu não seria pastor, não haveria igreja, não haveria comunidade. A Páscoa precisa ser celebrada com toda intensidade e alegria porque é devido a ela [Páscoa] que nós temos esperança para além da vida aqui na terra.
“Se não houvesse Páscoa, que é a ressurreição de Jesus, não haveria cristianismo no mundo”
Pr. Elton Pothin
Se Jesus não tivesse levantado dos mortos e pagado os nossos pecados, todos nós terminaríamos nossa vida e estaríamos perdidos para a eternidade. Então, a origem de tudo é a Páscoa. Sem Páscoa, não há cristianismo, não há salvação.
TP: Quais outros eventos do Calendário Litúrgico são comemorados pela Igreja Luterana?
EP: Nós seguimos todo o ano litúrgico. Começamos com o advento, depois vem o Natal e a Epifania, que são os reis magos. Depois, tem o tempo da Páscoa, segue Pentecostes, Trindade e o tempo comum. Em junho, também comemoramos Ações de Graças e em outubro, o Dia da Reforma. E também temos a celebração onde lembramos aqueles que faleceram durante o ano, não em finados, mas no último domingo do ano eclesiástico, que é antes do Domingo de Advento.
TP: Falando sobre o surgimento da Igreja Luterana. Como foi? Lutero ficou muito conhecido pela Reforma Protestante, mas a intenção dele não seria de se afastar da Igreja, não é isso? Ele queria realmente reformar.
EP: O que Lutero fez foi, essencialmente, voltar à Sagrada Escritura. Ele tinha quatro frases que era a base de tudo o que falava: somente a Graça, somente a Sagrada Escritura, somente Cristo e somente a Fé.
Onde você encontra que é somente a Graça de Deus que te salva? Na Bíblia. E onde encontra que Cristo pagou por seus pecados na cruz e deu a salvação? Na Bíblia. Onde você encontra que é somente pela fé no que Cristo fez por você que vai te salvar? Na Bíblia. Então, o que Lutero fez foi chamar a todos para voltar à Sagrada Escritura e olhar o que nela está escrito, para seguir o que ali está colocado, a vontade de Deus para nós.
Por isso, não temos uma grande diferenciação, nem mesmo em relação ao aspecto dos nossos templos, nem mesmo em relação ao Ano Litúrgico, comparado ao catolicismo romano. Porque essas questões não estão erradas, mas precisam ser olhadas sempre sob a vista da Sagrada Escritura somente, e não por outras questões.
TP: Sobre a história da Igreja aqui em Petrópolis. Foi o primeiro templo não católico da cidade. Quanto tempo o senhor está aqui e como se sente estando em uma igreja centenária, como é a Igreja Luterana de Petrópolis?
EP: Na realidade, também existia uma Igreja, a primeira Catedral católica, ali próximo ao Palácio do Imperador, um pouco adiante. Ela foi demolida quando se deu início a obra da Catedral. E com essa demolição, a nossa passou a ser a mais antiga igreja, o mais antigo templo da cidade.
Só que naquela época, esse templo não tinha torre, nem sinos, nem órgão, porque isso não era permitido a igrejas não católicas. Então, só depois da Proclamação da República é que se pôs a torre em 1903, enquanto, em 1863, é que foi inaugurada a nave do nosso templo.
Eu estou aqui há 15 anos e é uma responsabilidade. Nossa comunidade se caracteriza pela transparência, pela lisura, pela idoneidade, e nós procuramos sempre fazer aquilo que é o correto. Ser transparente para as pessoas, explicar todas as nossas ações, enquanto igreja. Os membros têm ciência disso, temos assembleias, nós temos prestação de contas, qualquer um pode olhar as nossas contas. Então, a transparência, idoneidade, honestidade, que é isso que Cristo quer de nós. O que Cristo criticou? A hipocrisia. A hipocrisia é a falsidade, isso não pode haver numa igreja.
Nós precisamos ser transparentes e honestos e, passando isso para as outras pessoas, você vai ter credibilidade na cidade. Tudo o que nós fazemos é sempre pensando no Evangelho, no bom exemplo que nós precisamos dar.
“Tudo o que nós fazemos é sempre pensando no Evangelho, no bom exemplo que nós precisamos dar.”
Pr. Elton Pothin
TP: E como que uma pessoa que se interesse pela Igreja Luterana pode conhecer, em relação aos cultos, mas também em relação à visitação?
EP: Os horários de visitação são aos sábados, a partir das 10h até às 17h. E no domingo, a celebração de culto é às 9h. Após a celebração de cultos, até às 14h, também há pessoas que recebem, turistas, pessoas da cidade, que gostariam de conhecer o templo e também um pouco da história da nossa comunidade.
TP: Deixe um recado para os nossos leitores, voltado para esse período de Páscoa.
EP: Como mensagem, o Martinho Lutero escreveu uma frase: “quisera não ter outro pensamento senão este: a ressurreição aconteceu para mim”. E que você também possa ter esse pensamento. Cristo ressuscitou para você. E Ele deve estar vivo no teu coração, para que você possa seguir vida fora, tranquilo, pensando, Cristo já fez tudo por mim. Eu vou servi-lo, eu vou agradecê-lo, eu vou permanecer firme nesta fé, porque Ele fez tudo por mim. Quisera não ter outro pensamento, senão este: a ressurreição aconteceu para mim.
“Quisera não ter outro pensamento senão este: a ressurreição aconteceu para mim.”
Martinho Lutero