Rússia cerca Bakmut e ucranianos explodem ponte; Otan hesita em enviar caças
Em uma etapa da guerra marcada por poucos avanços territoriais, tropas russas fecharam o cerco sobre a cidade de Bakhmut, considerado um ponto estratégico de apoio às ações militares na província de Donetsk, no leste da Ucrânia. O movimento, que pode representar a conquista mais significativa para a Rússia nos últimos meses de guerra, pressiona as forças ucranianas que reforçaram a retirada de civis e explodiram uma ponte de acesso à cidade na segunda-feira, 13, enquanto esperam pela chegada da prometida ajuda bélica da Otan – embora os sinais de um retirada total sejam cada vez mais intensos.
Oficialmente, Kiev nega que esteja organizando uma retirada total de tropas de Bakhmut. Autoridades russas também afirmam que os combates segue ativos e intensos na cidade, embora as forças russas tenham obtido ganhos nas últimas semanas, cortando algumas das linhas de abastecimento da Ucrânia.
O chefe do grupo mercenário Wagner, Ievgeny Prigozhin, que no domingo comemorou a tomada da comuna de Krasna Hora, alguns quilômetros ao norte de Bakhmut, afirmou que as forças ucranianas estão “intensificando” e enviando reservas especialmente no norte da cidade, onde os combates mais intensos estão ocorrendo.
“Bakhmut não será tomada amanhã, porque há muita resistência”, disse Prigozhin em um comunicado compartilhado por um canal ligado ao grupo Wagner no Telegram. “O moedor de carne está funcionando”, completou, referindo-se aos combates.
De acordo com Denis Pushilin, chefe da autoridade pró-Rússia em Donetsk, os confrontos estão mais acirrados na vila de Paraskoviivka, na periferia norte da cidade. “Não há perspectiva de que o inimigo se renda e deixe suas posições sem lutar”, afirmou à televisão russa nesta terça-feira, 14.
Embora Kiev negue uma retirada total, autoridades dão sinais de que a resistência pode estar perdendo ímpeto. O chefe da administração militar regional ucraniana responsável por Bakhmut, Pavlo Kirilenko, afirmou nesta terça-feira que a operação na região “precisa focar em preparar linhas defensivas”.
O oficial também revelou que as forças ucranianas reforçaram a operação de retirada dos poucos civis que permaneceram na cidade após quase um ano de guerra. Da população de 70 mil antes do conflito, menos de 5 mil permanecem no local, dentre os quais, cerca de 140 crianças.
Após o sucesso da contraofensiva lançada em setembro do ano passado, que retomou boa parte do território perdido para a Rússia no começo do conflito, o avanço ucraniano estagnou ao se deparar com as tropas russas mais concentradas – e reforçadas por novos recrutas – em Donetsk e Luhansk. Com os avanços cada vez mais raros, a guerra se tornou uma “guerra de desgaste e uma batalha logística”, segundo definiu o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, na segunda-feira, em uma reunião de líderes de Defesa do bloco em Bruxelas.
“O ritmo atual do gasto de munições da Ucrânia é muitas vezes maior que o nosso ritmo atual de produção. Isto coloca nossas indústrias de defesa sob pressão”, disse Stoltenberg em uma coletiva de imprensa após o encontro.
O papel da Otan na defesa da Ucrânia é cada vez mais preponderante. Kiev espera ansiosamente pela chegada dos tanques ocidentais prometidos no mês passado, apontado por lideranças militares como itens necessários para romper as linhas de defesa russas no leste. Atualmente, cerca de 100 soldados ucranianos estão na Polônia para aprender a operar o tanque Leopard 2, de fabricação alemã. Os armamentos devem ser os primeiros a chegar em um número relevante ao país, antes do lote de M-1 Abrams, de fabricação americana.
Na reunião da terça, os aliados da Otan se comprometeram a manter o envio de enormes quantidades de munição e armas que a Ucrânia, e acelerar a entrega dos tanques. Quanto aos pedidos por caças e mísseis de longo alcance, contudo, autoridades adotaram um tom de cautela.
Pouco depois das autoridades ocidentais concordarem em enviar os tanques pesados para a Ucrânia, o presidente Volodmir Zelenski e a cúpula do governo ucraniano direcionaram seus pedidos a aviões de caça, alegando a necessidade de melhorar a capacidade de defesa antiaérea. O pedido não foi imediatamente atendido, pois há o temor de que as armas possam ser utilizadas contra o território russo.
Na segunda-feira, Stoltenberg disse que a questão dos aviões “não é a questão mais urgente no momento”, mas admitiu que se trata de uma “discussão em andamento”. “A necessidade urgente agora é cumprir o que já foi prometido”, afirmou. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)