Ruindo como castelo de cartas
O governo Temer vem ruindo como castelo de cartas. Somente a equipe econômica, com Henrique Meirelles, desfruta de alguma estabilidade. E não se sabe até quando, pois tudo dependerá do desempenho da economia, ora em cenários mais otimistas, ora num quadro de alguma incerteza.
Desde o início, o coração da administração vem sendo atingido pela Lava-Jato, a partir do próprio presidente. Já foram afastados o ex-ministro do Planejamento Romero Jucá, apanhado em gravação na qual anunciava sua disposição de “estancar a sangria” da Operação de Curitiba, e Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, envolvido em advocacia administrativa no caso da construção de um prédio no centro histórico de Salvador. Antes, Henrique Eduardo Alves, ministro do Turismo e amigo de longa data de Temer, não teve melhor sorte, obrigado a deixar a pa sta, acusado de práticas ilícitas. Moreira Franco, dos mais íntimos do presidente, é citado em mais de 30 ocasiões em um único depoimento de um dos dirigentes da Odebrecht, mantido no Planalto e blindado, após ser nomeado ministro, em decisão ratificada pelo Supremo Tribunal Federal.
José Serra acaba de deixar o Ministério das Relações Exteriores, a pretexto de um problema de saúde, que esconderia as causas reais de seu afastamento, de igual modo ligado a denúncias correntes na Lava-Jato e a certo desprestígio nas áreas centrais do poder. Como se não bastasse, o notório Eliseu Padilha, com apelido esplendidamente desprimoroso que lhe pregou no passado Antônio Carlos Magalhães, fazendo trocadilho com seu nome, afasta-se da Casa Civil, com licença até o dia 6 de março, a fim de submeter-se a uma prostatectomia. Com o depoimento do advogado José Yunes, amigo de copa e cozinha de Temer, que confirmou a entrega de recursos da corrupção realizada pelo doleiro Lúcio Funaro, dificilmente Padilha, que recebeu os recursos, retornará ao centro do poder em Brasília. Realmente, com amigos do tipo Yunes, o presidente dispensará outros inimigos, hoje muito bem encastelados no lulopetismo oposicionista.
Michel Temer, ao invés de formular um apelo à sociedade brasileira, em torno de um grande pacto nacional, mostrando a verdadeira situação do país, inteiramente quebrado pela ex-presidente Dilma Rousseff, tem repetido alguns erros de sua antecessora. No trato da questão política, embora sem os atropelos da petista, impaciente e desastrosa em suas relações com o Congresso, o presidente vem seguindo a mesma receita fisiológica do falido presidencialismo de coalizão. Fundado no “franciscanismo” da pior espécie, na mixórdia do toma lá dá cá, tendo como atores agentes de balcão, vê-se que quanto mais recebem, mais querem ou mais exigem, insaciáveis e devoradores da honradez e da ética na política.
E é nesse conjunto de fatos que se ajusta e se insere o PMDB, após o afastamento trágico de Ulysses Guimarães, o grande timoneiro durante o período negro da ditadura militar. Portanto, não seria com outra espécie de partido e de políticos que Temer chegaria ao governo, exercendo-o exatamente como o tem exercido. Com figuras carimbadas e bastante conhecidas da opinião pública, explica-se o crescimento da candidatura de Lula para 2018, uma tragédia.
A esperança ainda reside na economia, “a economia, estúpido!”, nas palavras de James Carville, única capaz de sepultar de vez a herança maldita do lulopetismo.
paulofigueiredo@uol.com.br