• ‘Ruído Branco’ abre Festival de Cinema de Veneza com sátira à cultura americana

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  • 01/09/2022 14:37
    Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão / Estadão

    Ruído branco é aquele som constante, seja da televisão ou do rádio não sintonizados, ou do ar-condicionado, ou do tráfego em uma estrada, que está lá, nem sempre é notado, mas que muita gente não vive sem. É a isso que se refere Ruído Branco (White Noise), livro de Don DeLillo cuja adaptação cinematográfica dirigida por Noah Baumbach abriu o 79º Festival de Veneza, na noite desta quarta-feira, 31, em competição.

    O filme tem a combinação perfeita para a abertura de um festival do porte de Veneza: elenco e diretor respeitados, temas atuais e importantes, mas também uma certa leveza. Aqui, o tom é por vezes teatral, exagerado, absurdo, caótico, refletindo os anos 1980 em que é ambientado, mas completamente atual para hoje. “Acabei relendo o livro durante a pandemia e não acreditei como era relevante para o momento, mas também como seria em todos os momentos”, disse Baumbach na entrevista coletiva após a sessão de imprensa. Greta Gerwig, diretora, roteirista, atriz e mulher do diretor, completou: “DeLillo estava inspirado quando escreveu. É algo que você lê e quer compartilhar, é empolgante emocionalmente e intelectualmente”.

    Adam Driver é Jack Gladney, um grande especialista sobre Adolf Hitler. Ele é casado com Babbette (Gerwig), uma mulher de cabelo chamativo. A família é formada por dois filhos dele, um dela e um do casal. Jack e Babbette preocupam-se com a morte, às vezes de forma excessiva. Ela anda esquecida, a ponto de não lembrar os nomes das crianças, e toma uma pílula misteriosa. Um acidente acontece perto da casa da família, e uma nuvem tóxica faz com que eles tenham de ser evacuados.

    “O filme é sobre a vida e a morte”, disse o diretor. “Criamos essas estratégias para evitar a morte, mas às vezes ela vem ao nosso encontro.”

    Não só. O longa é uma grande sátira da cultura americana, falando do meio acadêmico e da cultura pop, da obsessão por medicamentos, por autoestradas e por hipermercados, da tendência de falar com segurança sobre coisas das quais não têm a mínima ideia.

    Ruído Branco examina como a desinformação se espalhava, mesmo antes da internet. E comenta o cinema americano em si, com suas explosões como momentos de euforia, seus super-heróis, seus fora-da-lei, suas famílias em aventuras malucas – há uma cena hilária em que eles tentam fugir seguindo um carro com um adesivo a favor da Segunda Emenda, que trata do direito de portar armas.

    O filme até termina com um número musical em um supermercado, com música de LCD Soundsystem. Baumbach contou ter pedido a James Murphy para criar uma canção pegajosa e divertida sobre a morte.

    O “branco” do título também tem outro sentido: a obra é um estudo e uma sátira especificamente da branquitude americana, que se toma como a única cultura americana. A presença de atores negros, como Don Cheadle e Jodie Turner-Smith, que fazem professores universitários, só acentua isso.

    Ruído Branco estreia dia 30 de dezembro na Netflix.

    Trailer

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