RTI do BC traz box sobre impacto de condicionantes sobre projeções de inflação
O Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado nesta quinta-feira, 30, pelo Banco Central, traz um box sobre o impacto dos condicionantes sobre as projeções de inflação para justificar a discrepância entre as projeções da autoridade monetária para inflação e o resultado efetivamente alcançado neste ano. O BC responsabiliza os choques de commodities, combustíveis e energia elétrica por essa diferença.
O objetivo do box é criar um cenário contrafactual ao apresentado no RTI de dezembro do ano passado, quando o BC previu uma inflação de 3,4% em 2021 bem inferior ao resultado que será entregue pela autoridade monetária. No RTI desta quinta, a estimativa central é de uma alta de 8,5% no IPCA deste ano.
De acordo com o documento, entre as mudanças dos condicionantes desde dezembro, destaca-se a elevação dos preços de commodities mais forte que a considerada, com um crescimento de 36,5% no Índice de Commodities Brasil (IC-BR) entre novembro de 2020 e agosto de 2021 enquanto o preço do petróleo subiu 60,3% na mesma comparação. O BC também cita a bandeira tarifária “escassez hídrica” de setembro a dezembro de 2021.
“Nesse cenário contrafactual, a projeção de inflação para o ano de 2021 é de 7,8%, apresentando elevação de 4,4 p.p. em relação ao cenário-base de dezembro de 2020”, aponta o BC. Segundo o exercício, trajetórias das variáveis combustíveis, bandeiras de energia elétrica e commodities contribuíram com 2,3 p.p., 1,0 p.p. e 0,6 p.p. para a elevação das projeções, respectivamente.
“Nessa simulação, esses choques de custos contribuíram conjuntamente com 3,9 p.p. para o aumento das projeções para 2021, equivalentes a cerca de 90% do aumento total das projeções de inflação. As expectativas de inflação Focus contribuíram com 0,3 p.p. Por outro lado, a atualização do hiato do produto, que compreende o impacto de vários condicionantes, teve contribuição negativa, de -0,4 p.p.”, detalhou o BC.
Já a diferença entre os 7,8% do cenário contrafactual para o 8,5% do cenário básico do BC se deve a surpresas disseminadas em bens industriais ao longo do ano.
O box argumenta ainda que os economistas ouvidos pelo BC no Questionário Pré-Copom também estimaram uma inflação para 2021 bem menor que a verificada. Em dezembro de 2020, a mediana das respostas apontava para uma alta de 3,3% no IPCA deste ano. Agora, em setembro, a medida ficou em 8,3%.
“Observa-se que choques de custos explicam uma parcela importante dessa elevação das projeções, principalmente os preços de commodities, em particular combustíveis, e as bandeiras de energia elétrica. Além disso, as expectativas de inflação também atuaram no sentido de aumentar as projeções, enquanto o hiato do produto contribuiu no sentido oposto e a taxa de câmbio teve um efeito neutro. De modo mais geral, os resultados deste boxe elucidam o importante papel que os condicionantes desempenham nas projeções”, concluiu o BC.