• Rodrigo Santoro dá voz a tartaruga com TOC em animação

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  • 26/jan 08:14
    Por Matheus Mans / Estadão

    Bizarros Peixes das Fossas Abissais pode deixar o espectador perdido. A animação é surreal e quebra noções do cinema e do senso comum. No meio da loucura, entre uma nuvem com incontinência pluviométrica e uma tartaruga à beira de um ataque de nervos, o público vai achar ali algo comum, familiar: a voz de um dos principais atores brasileiros.

    Rodrigo Santoro já trabalhou com a voz outras vezes, também dublando animações – e diz que gosta de ter a voz como única ferramenta para humanizar os personagens. Quando questionado sobre essa sua ligação com produções brasileiras, ao mesmo tempo que tem uma carreira internacional bastante consolidada e interessante, Santoro vai direto ao ponto.

    “Eu nunca saí desse mercado brasileiro. Agora é Bizarros Peixes, logo mais tenho Bom Dia, Verônica, depois há o filme O Outro Lado do Céu”, afirma. “Eu continuo trabalhando. Sempre fiz pelo menos um projeto no Brasil. Pode ter um ano ou outro que tenha passado mais tempo lá fora, mas nunca separei muito minha carreira.”

    “O Brasil ainda faz parte da minha estrada e o que guia minhas escolhas é a relação com os projetos. Além disso, interpretar em português não tem comparação com o inglês. São nossas histórias”, diz ele.

    Mas aqui se trata de uma história brasileira fora de qualquer expectativa. “Minha bunda é um gorila”, exclama a protagonista da animação logo nos primeiros minutos. Segundos depois, o filme do diretor Marão começa a mostrar a que veio: essa parte do corpo da personagem começa a realmente se transformar em um grande macaco, que luta contra vilões que a perseguem.

    Isso já dá a tônica do longa, que estreou na quinta-feira, 25. É uma animação fora de qualquer obviedade e que fala sobre essa mulher transmorfa, uma tartaruga com transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e uma nuvem com vergonha de chover – os três em busca de cacos de um objeto antigo que pode ajudar o avô da protagonista.

    “É muito corajoso artisticamente[É UM FILME] sair das regras preestabelecidas, da normatividade. Tudo isso ainda permeado por uma linha dramática bem construída com uma motivação muito humana, verdadeira”, declara Natália Lage, que dubla a personagem principal, ao Estadão.

    “É especial poder contar essa história divertida, que flerta com o nonsense. É uma liberdade criativa sem concessões”, explica também a atriz.

    Apesar de sua narrativa totalmente “fora da caixinha”, Bizarros Peixes das Fossas Abissais está longe de ser incompreensível. Pelo contrário: o longa tem um enredo linear, com começo, meio e fim, ainda que o desejo real da personagem seja revelado somente no final.

    Também foi muito importante para o projeto o trabalho de Guilherme Briggs, dublador veterano de franquias como Toy Story e Transformers, que dá voz à nuvem.

    Liberdade

    “Quando ele me chamou, topei de cara. Bizarrice é com a gente”, diz Briggs. Segundo ele, é um trabalho gostoso de fazer justamente pela liberdade que oferece. “Quando é dublagem de algo de fora, vem junto um monte de executivo intermediando. Demora mais. Quando você é a voz original, é mais emocionante.”

    Assistir a Bizarros Peixes é mergulhar em uma trama autoral, tocada quase na íntegra por Marão, que usa traços que trazem certa imperfeição para lembrar que existe alguém ali controlando o lápis.

    Era esse o objetivo do cineasta. “Queria passar mais tempo com as minhas criações. Não queria ficar engessado”, conta. “Sendo um projeto meu, posso exagerar e improvisar. É uma história bem simples, o que me dá margem para inventar cenas inspiradas no que aconteceu na minha vida.”

    Isso também dá um frescor ainda maior para a animação nacional. Mostra que podemos criar histórias surpreendentes. “Você pode fazer qualquer coisa com a animação. Pode contar qualquer história brasileira, de qualquer época, usando a imaginação”, completa Guilherme Briggs.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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