“Roda Mundo, Roda Gigante, Roda Moinho…”
Pois é, vivo agora cantarolando essas canções maravilhosamente inspiradas e elas vão me levando a reflexões e pensamentos às vezes inesperados. Deixo-me guiar pelas minhas associações para ver em que costados vou parar.
Continuando a estrofe-título: “…Roda Pião, o Tempo Rodou num Instante nas Voltas do Meu Coração”. Esta, a parte que mais me toca, pois se refere ao Tempo, coleção de instantes, e a um tempo fugidio. Seria ele nosso aliado ou inimigo? Tudo vai depender de como o interpretarmos, influenciados pelas circunstâncias e pelo nosso estado de espírito: se estivermos “numa boa” é bem provável que desejemos que ele possa parar: -“congela”, diriam os profissionais da imagem quando se deparam com aquela que julgam ideal. Aqui trata-se de fixar uma cena num determinado momento transformando-o em material palpável ao qual se possa recorrer sempre que necessário ou aplicável.
É claro que temos a capacidade de recordar e até de revivenciar através da nossa imaginação e memória esses momentos iluminados que não gostaríamos que se extinguissem. Mas também não é absolutamente seguro que não acrescentássemos detalhes talvez até construindo novos cenários e movimentos, dramatizando e deturpando a experiência original.
Podemos imaginar também, e nada é vedado à nossa mente criadora, que o instante mágico que nos encantou seja capturado e desligado do motor do tempo! Por mais perfeito que fosse, certamente perderia o encanto, sofreria um amortecimento (e olha a morte contida aí nesta palavra) ao se pretender cimentar algo que pertence ao mundo dos vivos, por natureza sempre em movimento.
Nesse sentido, a permanência na imobilidade, traz um elemento de patologia. Exemplifico: independente da nossa vontade, certas situações muito desagradáveis ou violentas, causadoras de grandes sofrimentos físicos e/ou emocionais, dos quais não tivemos condições de nos defender naquela hora por falta de recursos internos, ou por imaturidade, podem ficar presas àquela altura na estrutura da psique, impedindo em parte nosso desenvolvimento. Trata-se dos traumas, experiências que, para continuarem até certo ponto esquecidas, melhor dizendo, represadas/recalcadas, consomem parte significativa da energia psíquica disponível no sujeito.
Esse trauma, incrustado na psique, altera seu dinamismo, danificando-o como uma roda presa na engrenagem mental. Para liberá-la desse entrave, será necessário resgatar o trauma através de um trabalho psicoterápico, ao longo do qual ele será finalmente elaborado, não mais precisando repeti-lo inconscientemente na tentativa de pôr fim ao sofrimento psíquico.