Risco fiscal e produção industrial mais forte elevam taxas de juros
Embora tenham perdido fôlego em relação ao repique observado na parte da manhã, os juros futuros registraram firme alta no pregão desta sexta-feira, ainda pressionados pela percepção de aumento do risco fiscal que se instaurou após a aprovação do projeto de reforma do Imposto de Renda pela Câmara dos Deputados. Segundo agentes, o desempenho mais forte que o esperado da produção industrial em agosto, divulgada hoje pelo IBGE, foi um motor adicional à abertura da curva.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro para janeiro de 2027 aumentou de 14,092% no ajuste de quinta-feira para 14,105%. O DI para janeiro de 2028 subiu de 13,454% no ajuste a 13,510%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,425%, de 13,366% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2031, que chegou a abrir 13 pontos-base na primeira etapa da sessão, avançou de 13,562% no ajuste da véspera a 13,615% no fechamento.
Sócio e economista-chefe da G5 Partners, Luis Otavio Leal afirma que a discussão que dominou as mesas ontem ainda elevou os prêmios de risco embutidos nas taxas hoje: depois de o Executivo ter conseguido aprovar com unanimidade na Câmara o projeto que isenta de IR para pessoas que ganham R$ 5 mil, o mercado ficou bastante arisco em reação a rumores que circularam sobre estudos do governo para viabilizar redução ou gratuidade da tarifa de ônibus no Brasil.
Apesar das dificuldades operacionais para tirar essa proposta do papel, os boatos foram suficientes para elevar a aversão ao risco, diz Leal. E, num ambiente já mais fragilizado, a alta de 0,8% da produção industrial entre julho e agosto, feitos os ajustes sazonais – frente a uma expectativa de 0,3% apontada pela mediana do Projeções Broadcast -, não ajudou. “O dado veio bem mais forte do que o mercado estava esperando, com revisão para cima de números anteriores. Um número destes já teria tendência de pressionar a curva de juros e, num momento em que o mercado está mais sensível, a reação acaba sendo amplificada”, afirma.
Não por acaso, a curva a termo agora embute menos apostas de redução de 25 pontos-base da Selic em janeiro, que passaram de 48% para 44% entre a sessão de ontem e a de hoje, observa Luciano Rostagno, estrategista-chefe da EPS Investimentos. A taxa básica projetada para o fim do próximo ano também subiu, de 12,60% na quinta-feira para 12,77%. Para Rostagno, a produção industrial acima do previsto deu suporte ao movimento de alta dos DIs que já ocorria ao longo da semana, em virtude das preocupações fiscais crescentes.
No balanço semanal, o saldo foi de ganho de inclinação da curva, com alta também maior dos juros longos. Segundo a equipe econômica do Santander, os DIs sofreram em meio a um ambiente de maior aversão ao risco, sobretudo do lado doméstico. “Avaliamos que as discussões no legislativo a respeito da isenção do Imposto de Renda levaram à renovação das incertezas fiscais, impactando os mercados de juros”, pontua a equipe econômica do banco.
Em revisão de cenário divulgada hoje, o Santander ajustou para baixo suas estimativas de inflação para 2025 e 2026 – que agora estão em 4,7% e 4,2%, respectivamente – mas manteve sua perspectiva para a política monetária, que só deve começar a ser flexibilizada a partir de janeiro do próximo ano. A probabilidade de que o início do ciclo de redução seja adiado para março, no entanto, é “comparável”, de acordo com os economistas do banco, tendo em vista as projeções de inflação acima da meta do BC no horizonte relevante e o tom conservador do Comitê de Política Monetária (Copom).