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  • 31/07/2022 12:52
    Por Ataualpa A. P. Filho

    Distrair-se não é assim tão simples. Os mecanismos de fuga são inúmeros. Ocorrem até de forma inconsciente. A tentativa de fugir de si reflete uma não aceitação da realidade, uma dificuldade em assumir a verdade nua e crua, sem relativização.

    A sabotagem é um sério problema. Pode ser deflagrada tanto no âmbito coletivo quanto pessoal. A chamada “PEC Kamikaze”, que já foi aprovada no Congresso com votos de todos os lados, é um exemplo de uma ação com propósito eleitoreiro que pode causar graves danos à economia do país.

    Para não sair do plano básico, pelo senhor Google, fui ao Wikipédia para pegar uma simplória explicação do termo “Kamikaze”: “eram os pilotos de aviões japoneses carregados de explosivos cuja missão era realizar ataques suicidas contra navios dos Aliados nos momentos finais da campanha do Pacífico na Segunda Guerra Mundial.”

    Popularmente temos aqui a expressão “tiro no pé” para designar as atitudes que prejudicam quem as executam. A autossabotagem, inquestionavelmente, revela um problema psicológico que precisa ser tratado com atenção.

    No campo político, as sabotagens ganham mais complexidades, porque, em muitos casos, são planejadas estrategicamente. Existem aqueles que jogam no time do “quanto pior melhor”. Torcem pelo insucesso dos outros, alegram-se com as desgraças alheias. Buscam o riso pela ridicularização do outro.

    – É muito triste ver um povo dividido!

    Todos sabem que, com frequência, recorro à infância para tentar expor a minha forma de pensar e agir. Portanto, para ilustrar a nossa prosa de hoje vou lhe contar um fato:

    Quando me deparo com as intransigências diante de propostas referentes a gestões públicas, lembro-me de três quadros que havia na parede da sala de aula da escola em que concluí o antigo primário, o Centro Social Leão XIII, em Teresina. Eu sentava na primeira carteira da fileira que ficava ao lado de uma área em que havia um jardim. A minha atenção, muitas vezes, ficava nos beija-flores. Mas quero lhe falar que, em um dos quadros, encontrava-se a imagem de dois burros: um puxava a corda para comer o molho de capim que estava em um lado. O outro puxa a corda em sentido contrário, com o desejo de comer o outro molho de capim do outro lado. Esticavam a corda a ponto de sufocarem. Porém nenhum dos dois comia nada. Abaixo da ilustração, havia uma narrativa que apontava o consenso como moral da história. Os dois chegaram a um acordo: primeiro comeriam um molho, depois iriam comer o outro…

    A PEC Kamikaze me levou a lembrar essa imagem que é de domínio público: chegaram a um acordo para pegar o voto do povo pela política assistencialista. É válido lembrar que essa PEC só vale até dezembro, ou seja, neste período eleitoral. Mas já abriu precedente: esse recurso pode ser usado em outros períodos eleitorais. Há uma incógnita pessimista sobre o que pode acontecer na economia do país após esse pacote. Não se trata de um projeto de criação de emprego, mas de medidas paliativas por tempo limitado. A procrastinação é uma das formas de autossabotagem.

    A postergação tem sido uma alternativa usada por muitos que não assumem a incapacidade para resolver determinados problemas. E aqui vamos pelo popular: “quem não pode com o pote não pega na rodilha”. No campo político, às vezes, busca-se a popularidade como forma de encobrir a incompetência.

    Muitos candidatos não são “cândidos”. Exercer a cidadania perpassa pela liberdade no processo de escolha dos gestores públicos pelo sufrágio que revela o desejo da sociedade. A cada dia fica mais difícil separar o trigo do joio, por isso precisamos aprimorar o nosso discernimento para não sermos traídos pelas aparências. Não levar gato por lebre.

    Para não lhe deixar na curiosidade, cito aqui as outras histórias que estavam penduradas na parede da sala em que estudei na infância: uma se referia àquela corrida entre a tartaruga e o coelho. Este, muito autoconfiante, desdenha, subestima a tartaruguinha e é derrotado. A outra era a fábula de Esopo “O Sapo e o Boi”, que explora a questão da inveja e tem como proposta de lição de vida o reconhecimento dos nossos limites, destacando a importância da autenticidade.

    Uma das características da honestidade está em não negar a própria identidade. Precisamos ficar atentos para não sermos enganados. O que chamam de fake news faz parte de um esquema de sabotagem. O processo eleitoral limpo é uma exigência da democracia.

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