• Retratos da República

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 11/02/2017 13:30

    O memorialista Pedro Nava dizia que a experiência “é um farol voltado para trás”. Graças à experiência aliada à impagável vivência do historiador Vasco Mariz, o escritor lançou Retratos da República (Ed. Resistência Cultura, São Luiz, Maranhão, 2017), usando os mesmos critérios que, em muito, agradaram os leitores de Retratos do Império – Os Orleans, os Saxe-Coburgo e outras personalidades da época (Ed. Topbooks, 2016). 

    Mantendo intocada a vocação intimista, aliando erudição e leveza ao texto, o autor reuniu na obra, 25 perfis de personalidades já falecidas que se destacaram, não só no Brasil como também no exterior. Com a preocupação em evitar uma eventual frieza biográfica, Mariz incluiu nos relatos um tom personalíssimo, adicionando episódios de leitura saborosa e pouco conhecidos, tais como o namoro dele, de pouco mais de um ano, com a escritora Clarice Lispector, na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, onde costumavam andar de mãos dadas pelo campus. Com o fim do relacionamento, ela se encantou com outro colega de turma da faculdade, Maury Gurgel Valente, com quem se casou e teve dois filhos.

    Outros episódios de destaque incluem nomes consagrados de nossa mais alta literatura, tais como histórias compartilhadas com Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles, poetisa que conheceu de perto, cujo charme e encantamento pessoal são descritos com lirismo.  Sem contar com as memórias onde figuram Guimarães Rosa, seu colega no Itamaraty. Sobre o autor de Grande Sertão: veredas, Mariz relembra que, ao contrário do que já se escreveu, foi trabalhando como médico em Itaúna, Minas Gerais, que Rosa teve maior contato com os elementos do sertão que aproveitaria em seus contos e livros.

    Diplomata com longa experiência internacional, historiador da música brasileira, estudioso da vasta obra de Villa-Lobos, íntimo dos arquivos nacionais e estrangeiros, Vasco Mariz é um dos personagens mais admirados da nossa vida cultural. Em sua carreira como diplomata, antes de ser embaixador, desempenhou o papel de delegado brasileiro junto a vários organismos internacionais de importância – como a Onu, Fao, a OEA, o Gatt e a Unesco. 

    Desde a publicação, em 1948, do livro Figuras da música brasileira contemporânea não cessou de dar importantes contribuições no campo da musicologia e da história do Brasil. Sócio-emérito do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Pen Club do Brasil e da Academia Brasileira de Música, membro do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio e outras instituições nacionais e estrangeiras, aos 95 anos de idade, autor de 75 livros,  Vasco Mariz entrega aos leitores uma obra que se lê com gosto, tamanha riqueza de detalhes.

    A clareza do texto expõe curiosidades dos biografados – todas figuras ilustres – sobre as quais encontramos novidades até então desconhecidas, narradas numa construção atraente, cujo prazer de ler é imediatamente despertado. Mais um sucesso certeiro na já extensa e prodigiosa bibliografia do escritor, cuja leitura tenho o prazer de recomendar.

    Últimas