Retificações sociais
É comum citar a escola como agente de transformação, uma vez que a educação é sempre mencionada como um elemento que promove a mudança de hábitos. Só que hoje a carga que se coloca nos ombros das instituições de ensino é muito pesada, está além do que elas podem suportar. E isso tem dificultado muito o trabalho que verdadeiramente é da sua alçada. É oportuno dizer que a educação de uma sociedade não é exclusividade da escola. A família, as organizações sociais, as igrejas, as instituições governamentais têm a sua função nesse processo, ou seja, a escola não é a única instituição a exercer influências sobre crianças, jovens e adultos. É preciso que se diga que a educação não ocorre somente no período dito escolar, pois se trata de um processo contínuo, aprende-se durante toda a vida.
O ilustre educador Anísio Teixeira (1900 – 1971), um dos precursores do movimento “Escola Nova”, já se posicionara sobre essa transferência de responsabilidade para as instituições de ensino no livro “Pequena Introdução à Filosofia da Educação” :
“Mas o homem é um animal de hábitos. E todas as vezes que lhe renovam as roupas ou os pensamentos, ele julga que perdeu qualquer coisa…
E na sua necessidade de localizar os culpados dessas perdas, investe contra isso e contra aquilo.
Mais do que tudo, costuma investir contra as escolas. Se há crise nas letras, se não se escreve como dantes, se a língua evolui e perde antigos sabores primitivos e ingênuos, é que as escolas já não são as mesmas e urge reformá-las.
Se há crise do ‘espírito’, como hoje se diz, se os valores humanos, na sua perpétua transformação, conquistam novas formas, e velhas ilusões se vão desfazendo em troca de valores realistas e ásperos, – é que as escolas estão a falhar na sua finalidade espiritual… e urge reformá-las.
Se há crise de costumes e de maneiras e o homem, longe de se comprazer na velha dissimulação habitual, reorganiza os seus valores com brutalidade quase, encarando a realidade de face, – é que as escolas já não formam o caráter… e urge reformá-las, ou antes, obrigá-las a voltar aos velhos ídolos e velhas fórmulas.”
Na escola, é possível pensar a sociedade. E esta deve pensar a escola como um segmento responsável pelo desenvolvimento cognitivo, pela transmissão de conhecimento científico, pelo aprimoramento de habilidades e competências e como um ambiente de discussão em que se questionam os princípios que devem ser priorizados no atendimento ao bem comum.
Quando alguém me diz que a corrupção já está institucionalizada em nosso país, eu sempre falo que essa institucionalização não foi feita nos bancos escolares. Nenhuma unidade escolar trabalha para consolidar a prática da corrupção. Fato este que remete para as atitudes praticadas fora das salas de aula que exercem influências no comportamento social. Por isso muito me preocupa essa tendência de querer banalizar as atitudes que lesão os cofres públicos.
As ações, envolvendo políticos e executivos que lesam a Pátria, merecem uma atenção crítica, pois se identifica claramente o vício de um sistema que permite a formação de cartéis. Por isso que as punições devem ser aplicadas exemplarmente, porque a impunidade favorece o surgimento de outras falcatruas diante da certeza de que “tudo vai dar em nada”. A impunidade favorece a criminalidade. Nem sempre se pune para educar. Mas se deve educar para não punir.
“Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos” – essa conhecida frase de Pitágoras destaca a importância da Educação do Ciclo Básico, mas também aponta para muitos adultos mal educados que dão maus exemplos, com sérios desvios de caráter.
Ataualpa A.P. Filho