• Restauração de quadro da Djanira é adiada para 2017

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  • 12/12/2016 12:45

    Uma obra de arte, localizada no Liceu Municipal Cordolino Ambrósio, que foi doada pela pintora Djanira em 1953, é alvo de questionamentos. Isso porque o quadro, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que retrata a cidade, reproduzindo figuras dos principais elementos que caracterizam o município, está em total estado de abandono há décadas. A obra, de valor imensurável, conforme apontam historiadores, ocupa uma área de 4 metros de largura por 25 metros de comprimento, do salão nobre da escola. 

    Depois de apresentar sérios sinais de deterioração, que a colocavam em risco, a prefeitura, por meio da Secretaria de Educação, contratou os serviços de uma empresa paulista, a Idear Engenharia para fazer o faceamento, ou seja, cobrir a pintura com um material chamado Beva, a fim de evitar que ela continuasse se deteriorando. O serviço durou três meses. Divulgado em Diário Oficial em 30 de abril de 2016, o trabalho custou R$ 35 mil aos cofres públicos e foi supervisionado por especialistas do Iphan, que não se manifestaram sobre como foi acompanhar esse processo.

    A empresa Idear Engenharia, que realizou a intervenção é de Guararema, em São Paulo. Ela venceu a licitação, que foi feita pelo modelo carta-convite no início desse ano. De acordo com o currículo da organização, disponível na internet, ela é especializada em assessoria e projetos, construção e terraplanagem, como movimentação de terras e estruturas de concreto armado; pintura industrial e isolamento – neste contexto destacam-se processos como de preparação de superfície, revestimento anticorrosivo e isolamento térmico; telecomunicações, limpeza industrial, predial e pública. Não conta na descrição de serviços prestados pela empresa, trabalhos de recuperação de obras de arte. A Tribuna tentou contato com a Idear Engenharia, por meio dos telefones que constam no site, mas não obteve sucesso até o fechamento da edição.

    A previsão era de que depois de finalizado esse processo, tivesse início uma nova licitação a fim de que pudesse começar de fato o trabalho de restauração. Desde o dia 2 de dezembro, a equipe de reportagem vem questionando a Secretaria de Educação, por meio da assessoria de imprensa do governo municipal, que também não se pronunciou sobre o assunto. 

    A inspiração futurista da obra de arte retrata de uma maneira mágica, a Petrópolis antiga, reproduzindo o Museu Imperial, a estação de Leopoldina, o tear. Para o historiador Joaquim Eloy é imprescindível a preservação dessa obra de arte. “A Djanira é considerada uma das principais artistas da pintura no país e residiu por muitos anos na cidade. Ela gostava muito daqui e por isso pintou esse quadro, que mostra como era Petrópolis naquela época. Foi uma obra encomendada, mas que ela fez com muito carinho”, comentou. Ele lamenta, entretanto, a falta de cuidado com o quadro. “Esta pintura tem um valor inestimável e marca a passagem da artista pela cidade. É o registro vivo que ela deixou”, destacou. 

    A denúncia sobre o péssimo estado de conservação do quadro não é recente. Segundo Mauro Correa, coordenador do Instituto Civis, há 6 anos vem relatando essa situação para o poder público. “É uma obra única que sofre com a omissão do governo municipal, que há muito tempo vem protelando com o processo de recuperação. Nossa preocupação é que isso se prolongue ainda mais”, afirmou ele, sugerindo que a obra deveria fazer parte do circuito turístico de Petrópolis, dada sua importância histórica. 

    Embora considerada de valor inestimável, o quadro da Djanira é valiosíssimo. A Tribuna entrou em contato com o leiloeiro da Bolsa de Artes a fim de avaliar a pintura, mas não recebeu retorno até o fechamento da edição. Entretanto, outras obras da artista que constam no arquivo da casa leiloeira, mostram quadros menores (em comprimento e largura), com valores que variam entre R$ 3 mil a R$ 111 mil. O preço depende do material com que ela é feita. As pinturas feitas apenas com guache, por exemplo, custam menos. A obra, intitulada Salinas, com 28,5 cm de largura e 41,5 cm de altura, feita a guache sobre cartão colado em madeira, está avaliada em R$ 10 mil. Enquanto o quadro que retrata a figura de São Francisco feita com óleo sobre tela, com 73 cm de largura e 60 cm de altura, tem o preço estimado em R$ 40 mil. 


    A Djanira

    Nascida em 20 de junho de 1914, em Avaré, no estado de São Paulo, Djanira da Mota e Silva, foi pintora, desenhista, ilustradora, cartazista, cenógrafa e gravadora brasileira. Seu primeiro quadro foi desenhado, quando tinha 23 anos, e foi internada em São José dos Campos. Na época fez o desenho intitulado como “Um Cristo no Gólgota”. Quando melhorou mudou-se para Santa Teresa, no Rio de Janeiro, por causa do clima. Já em 1930, instalou uma pensão familiar no bairro, e um dos hóspedes, era o pintor Emerio Marcier, que a incentivava a dar aulas de pintura. No fim daquela década, começou a dar suas primeiras instruções em um curso noturno de desenho no Liceu de Artes e Ofícios. Já sua pintura dos anos de 1940, é considerada sombria, com uso dos tons: cinza, marrom e preto. Djanira trabalhou ainda com xilogravura, gravura em metal e desenhos para tapeçaria e azulejaria.

    A pintora viveu em Petrópolis, durante os últimos anos de sua vida, em uma residência no bairro Samambaia. Por aqui, participou de exposições e eternizou sua estadia na cidade, doando a importante obra histórica ao Liceu. Ela morreu no Rio de Janeiro, em 31 de maio, de 1979, aos 64 anos. 


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