Residências Terapêuticas buscam a ressocialização dos pacientes psiquiátricos
A Secretaria de Saúde atua para a reestruturação do atendimento psiquiátrico no município. Com cerca de 150 pacientes internados em unidade hospitalar especializada, o objetivo é conseguir a ressocialização e a reintegração familiar dos assistidos pela rede. Para isso, as Residências Terapêuticas têm sido importante alternativa. Seguindo orientações do Ministério da Saúde para a implantação do serviço, 23 pacientes são acompanhados nas três unidades, duas femininas e uma masculina, que funcionam no município. O trabalho será intensificado com outras duas residências que serão implantadas até o fim do ano.
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“Gosto muito mais de viver aqui”, “aqui é muito melhor”, “essa casa é muito boa, tenho meu próprio quarto” são algumas das declarações de pacientes de uma das unidades que funcionam como Residência Terapêutica feminina, na Rua Monsenhor Bacelar. No local, moram oito pessoas, que antes estavam internadas há mais de um ano em hospital psiquiátrico, muitas vezes sem contato com familiares e distantes de convívio social.
E é em um ambiente familiar que tem se registrado avanços no quadro clínico das pessoas que deixam de ser vistas unicamente como pacientes. Nas residências, passam a ser integrantes de um lar, seguem a rotina normal de uma casa, construindo novos laços de amizade que contribuem para a reintegração social. Nas residências há casos de pessoas que, por conta dos transtornos mentais, não interagiam, não conseguiam se expressar, nem mesmo falar. Com o acolhimento, voltam a ter autonomia, resgatando os traços da personalidade, muitas das vezes perdidos em anos de tratamento e convívio no ambiente hospitalar.
Cada residência pode acolher até 10 pacientes que são acompanhados por cuidadoras e técnicas de enfermagem que auxiliam na rotina e cuidados do dia a dia. Os pacientes recebem todo o acolhimento nas residências e seguem rotina de tratamento com os profissionais da rede de saúde. “Esse é um primeiro passo para promover a ressocialização, para que um dia, quando possível, voltem a ter convívio com os familiares”, destaca a secretária de Saúde, Fabíola Heck.
Além dos atendimentos garantidos pela rede de atenção básica, o cuidado especializado é garantido pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), como o Nise da Silveira, com sede na Rua Monte Caseiros. Na unidade recebem acompanhamento individual e participam de grupos com atividades terapêuticas como de artesanato, música, roda de conversa, entre outros. O município conta ainda com outras quatro unidades terapêuticas como o Ambulatório Especializado em Saúde Mental, na Rua D. Pedro; o Ambulatório Escola, em Cascatinha; o Caps II – Sylvia Orthof, para o cuidado de crianças e adolescentes; e a unidade de urgência no Hospital Municipal Nelson de Sá Earp, com os leitos de estabilização de 72 horas.
Reintegração familiar faz parte do trabalho
Muitos dos pacientes, por conta do despreparo da família, perdem o contato. O resgate dos laços com mães, pais, filhos, irmãos e demais relações pessoais de cada paciente também faz parte do trabalho dos profissionais que atuam nas residências terapêuticas.
“Muitas das vezes os pacientes foram deixados pela família no hospital e perderam totalmente o convívio familiar. Tentamos resgatar isso. Quando conseguimos que voltem para casa, é feito todo trabalho de preparo com os familiares”, destaca o diretor do Departamento de Saúde Mental, Oswaldo Alberto Filho, ressaltando que quando o resgate familiar não é possível, os pacientes permanecem definitivamente nas Residências Terapêuticas.
Também há situações em que se desconhece a história familiar do paciente, e nesses casos, o trabalho é ainda mais delicado. Como o da moradora L.P.S, de 70 anos, que chegou na Residência Terapêutica após ter sido achada perdida, pedindo carona pelas ruas. “A partir de relatos feitos por ela já a levamos para tentar achar a sua família em outras cidades, mas ainda não conseguimos”, destaca a técnica de enfermagem Edlaine de Souza Marinho.
A residência tem moradoras de todas as faixas etárias. A mais nova nessa unidade feminina tem 35 anos, que começou o tratamento há mais de 10 anos, a partir de transtornos causados por depressão pós-parto. A paciente guarda na memória as lembranças dos filhos, com os quais os profissionais da unidade tentam o resgate do convívio. Outra moradora, P.F, de 38 anos, mantém contato com as filhas já adolescentes, que vivem com o pai, e espera um dia, poder viver perto delas. “Espero que quando elas crescerem possam cuidar de mim. Agora eu não tenho para onde ir. Vivo feliz aqui”, conta a moradora.