• Resgates de animais trazem esperança em meio à tragédia

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  • 01/03/2022 13:34
    Por João Vitor Brum, especial para a Tribuna

    Eles são sinônimo de companheirismo e amor sem limites. Os animais de estimação têm sido parte cada vez mais essenciais na vida das pessoas, e, na tragédia que atingiu Petrópolis, eles têm se tornado símbolo de esperança. Imagens de bichos sendo resgatados com vida, reencontrando suas famílias ou sendo adotados têm circulado nas redes sociais e emocionado todo o país. Até o momento, mais de 500 animais já foram resgatados, mas o total pode ser muito maior, já que muitos voluntários têm atuado nos resgates.

    Um dos resgates mais emblemáticos foi de uma gatinha, resgatada nove dias depois da tragédia embaixo dos escombros no Morro da Oficina. Hoje, ela está recebendo acompanhamento em uma clínica veterinária e passa bem. 

    A felina foi resgatada com uma desidratação grave e ferimentos na pata traseira, mas sem fraturas. Por ter sobrevivido tanto tempo no deslizamento, a gatinha recebeu o nome “Vitória”. Por enquanto, ela ainda não está disponível para adoção e seus donos não foram encontrados. Para as equipes que atuam nas buscas, casos como o da Vitória trazem um pouco de felicidade e esperança em meio ao caos.

    A gatinha Vitória após o resgate segue sob os cuidados veterinários. (Foto: Divulgação)

    “O resgate da gatinha, depois de tanto tempo, renova nossa esperança. É como se as equipes de resgate ganhassem mais um sopro em meio a um trabalho tão difícil. Esses pequenos eventos nos trazem à tona a importância do nosso trabalho e a missão de encontrar vida. Nunca descartamos encontrar vida, esse é o nosso foco”, disse o Major Fábio Contreiras, porta-voz do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.

    E pra quem pode, de alguma forma, ajudar, a sensação é de gratidão. É o caso da Danielle Purana, que trabalha como gestora de redes sociais de uma clínica veterinária no Alto da Serra – a mesma que acolheu e está cuidando da Vitória. Antes da tragédia, Danielle ia ao local apenas uma vez por semana para fazer fotos e vídeos do espaço, mas, desde o dia do desastre, a clínica se tornou a casa dela.

    “Quando vi a situação, não pensei duas vezes e fui direto para a clínica. Fomos várias vezes nos locais de deslizamentos buscar os animais em meio a escombros, casas vazias e tirar bichos presos na lama. Não tem como não se envolver. A cada resgate que a gente fazia, tinha menos vontade de ir pra casa, de parar. Fiquei mais de uma semana direto dormindo lá e fazendo o que podia”, explicou Danielle.

    Animais foram resgatados em escombros e imóveis vazios. (Foto: Divulgação)

    Entre os resgates, estava um cão que recebeu o nome de Túlio pelos voluntários. Ele foi encontrado em uma casa na parte alta do Morro da Oficina, um dos locais mais afetados pela tragédia. 

    “Fomos até a última casa do Morro e pegamos o Túlio. Depois de um tempo, conseguimos encontrar a dona dele, e descobrimos que o nome dele, na verdade, é Zeus. Infelizmente, a família teve que sair de casa e está em um abrigo, então ele está em um lar temporário até que a situação seja resolvida”, contou.

    Um outro caso que marcou a voluntária foi do filhote de gato Cartola, que recebeu o nome pois tem uma mancha no focinho que lembra o saudoso cantor e compositor. Nesta semana, ele ganhou um novo lar.

    Cartola ganhou um novo lar. (Foto: Divulgação)

    “Encontramos o Cartola dentro de uma casa que estava totalmente destruída. Ele estava magrinho, anêmico, mas foi bem cuidado e já melhorou. Em pouco tempo ele foi adotado e já está com a nova família, que manteve o nome que demos no resgate”, disse.

    O total de animais resgatados, adotados e mortos na tragédia ainda não pôde ser consolidado, em especial pelo fato de que muitas clínicas atuam de forma voluntária e muitos protetores levam os animais para suas casas ou encontram novos tutores.

    Apenas na clínica onde a Danielle trabalha, mais de 500 animais foram atendidos desde o dia 15, e a Cobea informou que mais de 300 animais foram retirados de áreas afetadas por deslizamentos. E a procura pelos tutores de animais encontrados também não parou.

    “É muito feliz quando encontramos um novo lar para eles, quando alguém adota. Mas mais gratificantes ainda é encontrar os donos, ver a felicidade das pessoas encontrando seus bichinhos. Essa experiência, sem dúvida, mudou minha vida”, concluiu Danielle.

    Pelo menos 84 pessoas estão abrigando, por enquanto, os animais, mas a busca por lares temporários continua, já que a demanda ainda é muito grande. Os interessados em acolher um dos animais resgatados para posterior encaminhamento para adoção responsável podem entrar em contato com o número (24) 9.9204-0647. 

    Para acolhimento, é necessário informar nome completo, telefone de contato atualizado, CPF do tutor temporário e comprovante de residência. O local para abrigo desses animais precisa ser seguro.

    Cães também têm papel importante nas buscas por desaparecidos

    Além do papel emocional, os animais também têm papel de destaque nas buscas por desaparecidos. Desde o dia 15, 58 cães já atuaram na tragédia, tanto em pontos de deslizamento quanto nos leitos dos rios, na busca por vítimas levadas pela enxurrada. Cachorros têm uma capacidade olfativa 40 vezes mais sensível do que a do ser humano, o que explica a maior facilidade na hora de localizar possíveis vítimas.

    Até o momento, cães farejadores já localizaram mais de 100 corpos em Petrópolis. O porta-voz do Corpo de Bombeiros, Major Fábio Contreiras, explica que, com os cães, as buscas acontecem de forma mais rápida e eficiente.

    Cães treinados e vindos de quartéis de vários estados. (Foto: CBMERJ)

    “Os cães ajudam a acelerar o trabalho, pois indicam um raio de busca menor, mais direcionado. Sem esse apoio, os militares não saberiam onde pode ter uma vítima, onde ficava uma casa. Eles são essenciais nesse processo tão difícil e trabalhoso”, disse Contreiras.

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