• Remédios contra a Soberba!

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  • 13/02/2022 08:00
    Por Mons. José Maria Pereira

    Este domingo, das bem-aventuranças, nos recorda que somos felizes por depositar nossa confiança em Deus e nossa esperança na pessoa de Jesus.

    Na primeira leitura (Jr 17, 5-8), diz o Senhor: “Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana, enquanto o seu coração se afasta do Senhor; bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o Senhor.” Jeremias mostra a situação do homem e em que consiste a sua riqueza e compara esse homem a uma árvore plantada ao longo de um riacho, que estende suas raízes para a torrente; não teme o calor, suas folhas continuam verdes e ele produz frutos. A imagem, repetida também no Salmo 1, intercalado com o refrão do Salmo 40(39),5: “É feliz quem a Deus se confia!”. Essa imagem descreve o homem que plantou sua vida na fé em Deus, como sobre uma fonte inexaurível de consolação e esperança. Quanto mais afunda nele suas raízes, ou seja, quanto mais aprofunda seu mistério e confia nele, mais verdejante é sua existência e produz frutos, mesmo quando ao seu redor perdura a seca. O homem que constrói sua vida, que projeta seu futuro, tudo e somente em função de si mesmo e com seus meios, como se o Reino de Deus não existisse, é exatamente alguém que constrói sobre a areia: basta uma tempestade, isto é, uma desventura qualquer, ou uma doença para que todas suas seguranças sejam abaladas e ele se encontre sem fundamento, desprotegido contra o vendaval. No Evangelho (Lc 6, 17. 20-26): Bem-aventurados vós, os pobres (….); mas ai de vós ricos.

        Sede, para mim, a rocha do meu refúgio, Senhor: a humildade pessoal e a confiança em Deus caminham sempre juntas. Só o humilde procura a sua felicidade e a sua fortaleza no Senhor. Um dos motivos pelos quais os soberbos andam à cata de louvores e se sentem feridos por qualquer coisa que possa rebaixá-los na sua própria estima ou na dos outros, é a falta de firmeza interior; o seu único ponto de apoio e de esperança são eles próprios.

      Não é outra a razão por que, com muita frequência, se mostram tão sensíveis à menor crítica, tão insistentes em sair-se com a sua, tão desejosos de ser conhecidos, tão ávidos de consideração. Agarram-se a si próprios como o náufrago se agarra a uma pequena tábua que não pode mantê-lo à superfície. E seja o que for que tenham conseguido na vida, sempre estão inseguros, insatisfeitos, sem paz. Um homem assim, sem humildade, que não confia nesse Deus que, como Pai que é, lhe estende continuamente os braços, habitará na aridez do deserto, em região salobra e desabitada (Jr 17,6).

    O cristão tem toda a sua esperança posta em Deus e, porque conhece e aceita a sua fraqueza, não se fia muito de si próprio.

    A humildade não consiste tanto no desprezo próprio – porque Deus não nos despreza, somos obra saída das suas mãos –, mas no esquecimento de nós mesmos e na abertura total para Deus: “Quando pensamos que tudo se afunda sob os nossos olhos, nada se afunda, porque Tu és, Senhor, a minha fortaleza (Sl 42, 2). Se Deus mora na nossa alma, tudo o resto, por mais importante que pareça, é acidental, transitório. Em contrapartida, nós, em Deus, somos o permanente” (São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, 92).

       Os maiores obstáculos que o homem encontra para caminhar em seguimento de Cristo têm a sua origem no amor desordenado de si próprio, que o leva umas vezes a supervalorizar as suas forças e, outras, a cair no desânimo e no desalento. É uma atitude permanente de monólogo interior, em que os interesses próprios se agigantam ou se exorbitam e o eu sai, sempre, enaltecido.

       Quem está cheio de orgulho exagera as suas qualidades, enquanto fecha os olhos para não ver os seus defeitos, e acaba por considerar como uma grande qualidade o que na realidade é um desvio do bom critério; persuade-se, por exemplo, de que tem um espírito magnânimo e generoso porque faz pouco caso das pequenas obrigações de cada dia, esquecendo que, para ser fiel no muito, tem de sê-lo no pouco. E por esse caminho chega a julgar-se superior, rebaixando injustamente as qualidades de outros que o superam em muitas virtudes.

       São Bernardo indica diferentes manifestações progressivas da soberba: “a curiosidade, o querer saber tudo de todos; a frivolidade de espírito, por falta de profundidade na oração e na vida; a alegria tola e deslocada, que se alimenta frequentemente dos defeitos dos outros e os ridiculariza; a jactância; o prurido de singularidade; a arrogância; a presunção; o não reconhecer jamais as falhas próprias, ainda que sejam notórias; a relutância em abrir a alma ao Sacerdote na Confissão, por parecer que não se têm faltas… O soberbo é pouco amigo de conhecer a autêntica realidade do seu coração e muito amigo de calcar os outros aos pés, seja em pensamento, seja pelas suas atitudes externas.”

    Se formos homens de oração, cresceremos em conhecimento próprio e não teremos nenhuma vontade de comparar-nos com os outros e menos ainda de julgá-los. Dizia São Josemaria Escrivá: “Se és tão miserável, como estranhas que os outros tenham misérias?” (Caminho, 446).

        Juntamente com a oração, que é o primeiro meio de que devemos socorrer-nos, procuremos ocasiões de praticar habitualmente a virtude da humildade: nos nossos afazeres, na vida familiar, quando estamos sozinhos…, sempre!

    Procuremos não estar excessivamente preocupados com as nossas coisas: com a saúde, com o descanso, com o êxito profissional, econômico… E, na medida do possível, falar pouco de nós mesmos, dos nossos assuntos, daquilo que nos exaltaria aos olhos dos outros…, procuremos evitar sempre a ostentação de qualidades, bens materiais, conhecimentos…

    Aceitemos as contrariedades sem impaciência, sem mau-humor, oferecendo-as com alegria ao Senhor; aceitemos sobretudo as pequenas humilhações e injustiças que se produzem na vida diária, pensando sinceramente: “Que é isto, comparado com o que eu mereço?” (Caminho, 690).

    Passemos por alto os erros alheios, desculpando-os e ajudando-os com uma caridade delicada a superá-los; cedamos à vontade dos outros sempre que não esteja envolvido o dever ou a caridade.

    Esforcemo-nos, enfim, por gloriar-nos das nossas fraquezas junto do Sacrário, aonde iremos pedir ao Senhor que nos dê a sua Graça e não nos abandone; reconhecendo uma vez mais que não há nada de bom em nós que não venha dEle, e que o nosso eu é, precisamente, o obstáculo, o que tolhe a ação do Espírito Santo na nossa alma.

    Aprenderemos a ser humildes se nos relacionarmos sempre mais intimamente com Jesus. A meditação frequente da Paixão levar-nos-á a contemplar a figura de Cristo humilhado e maltratado até o extremo por nós; Será aceso o nosso amor por Ele e um desejo vivo de imitá-Lo no seu aniquilamento.

      O exemplo da Mãe de Deus e nossa, Escrava do Senhor, possa aumentar em nós o amor à virtude da humildade. Recorramos a Ela, pois é ao mesmo tempo, uma Mãe de misericórdia e de ternura, a quem pessoa alguma jamais recorreu em vão. Peçamos à Maria que alcance para nós a virtude da humildade, que Ela tanto apreciou; tenhamos certeza de que Ela irá nos atender! Maria pedirá a virtude da humildade para nós a esse Deus que eleva os humildes e reduz ao nada os soberbos; e como Maria é onipotente junto do seu Filho, será ouvida com toda a certeza.

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