• Reino Unido procura viajante que testou positivo para variante brasileira

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  • 02/03/2021 08:37
    Por Estadão Conteúdo

    O governo do Reino Unido iniciou ontem uma “caça” a um viajante que testou positivo para a variante de Manaus do novo coronavírus. Apesar da preocupação e da pressão para adotar novas medidas restritivas, o premiê britânico, Boris Johnson, diz que não planeja endurecer o lockdown, mesmo diante da presença da cepa brasileira.

    A variante brasileira (P1) foi detectada pela primeira vez em três pessoas na Inglaterra e em outras três que voaram do Brasil para a Escócia. Apenas uma delas é desconhecida, porque não preencheu o cartão de identificação que acompanhava o teste. Apesar da descoberta, Johnson afirmou que a nova variante não impedirá a flexibilização do lockdown no Reino Unido.

    “Nossa estratégia é seguir em frente de forma cautelosa, mas irreversível. Não achamos que haja qualquer razão para mudar isso agora”, afirmou o premiê. “Temos uma das regras de fronteira mais duras do mundo para impedir a entrada de pessoas que possam ter variantes que causem preocupação.”

    Johnson disse ainda que o governo está fazendo um “esforço massivo” para conter a variante brasileira, que é duas vezes mais contagiosa, segundo estudo da Fiocruz Amazônia. “Se você observar o que fizemos no caso da variante sul-africana, um esforço enorme foi feito. O mesmo está acontecendo agora para conter qualquer propagação da variante brasileira.”

    O ministro da Saúde do Reino Unido, Matt Hancock, afirmou que está tentando rastrear o viajante desconhecido, mas que não houve contaminações locais, nem registros de quebra de quarentena. “Nosso objetivo é conter essa transmissão para apenas essas seis pessoas”, afirmou.

    A Public Health England (PHE) trabalha com os correios britânicos para localizar a pessoa infectada com a variante brasileira. Especialistas acreditam que o indivíduo contaminado realizou o teste em casa ou utilizou um kit de teste fornecido por autoridades locais, entre os dias 12 e 13 de fevereiro, mas não preencheu os dados de contato.

    Disseminação

    Ainda não há evidências de que a mutação seja mais letal que as outras, mas um estudo da Fiocruz Amazônia mostrou que a nova cepa tem uma chance até 61% maior de escapar da imunidade dada por infecção anterior. Em fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta sobre a possibilidade de redução da ação de anticorpos diante da cepa P1, mas ressaltou que estudos adicionais são necessários.

    O Grupo Consultivo de Ameaças de Vírus Respiratórios Novos e Emergentes do Reino Unido (Nervtag) designou a P1 como uma “variante de preocupação” e alertou que as vacinas podem não funcionar tão bem contra a cepa brasileira, considerada responsável pelo ressurgimento de infecções na capital do Amazonas no início do ano.

    A variante já foi identificada em países como França, Reino Unido, Alemanha, Espanha e Japão, assim como em 17 Estados brasileiros. O Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) listou três variantes como “preocupantes”: a do Reino Unido (B.1.1.7), a da África do Sul (B.1.351) e a brasileira P1. De acordo com o ECDC, a preocupação está ligada a uma taxa de transmissão mais elevada e à possível redução dos efeitos da vacina.

    Nesta segunda, 1º, o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, criticou a lentidão do governo em proteger as fronteiras e destacou o fato de o vírus entrar no país de maneira indireta. “Muitos vírus vieram de países onde não se originaram, mas as pessoas estavam vindo indiretamente”, disse. “Acho que não protegemos nossas fronteiras como deveríamos. Quanto mais cedo isso for feito, melhor.”

    A presença da variante brasileira também levanta dúvidas sobre a possibilidade normalização das viagens para o exterior durante as férias de verão na Europa, que estava sendo cogitada por parte da população à medida que a vacinação avançava e o governo britânico compartilhava um calendário para a reabertura da economia.

    Boris defende quarentena rígida em hotéis

    O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, defendeu ontem as medidas restritivas adotadas pelo governo. Ele negou que a quarentena em hotéis tenha sido implementada tarde demais. Segundo o premiê, os cientistas não acreditam que a cepa brasileira seja uma “ameaça à população em geral”e garantiu que um “esforço maciço” está sendo feito para impedir a propagação da variante.

    Johnson passou o dia tentando acalmar a população. Ele insistiu que “não havia razão para desconfiar que as vacinas não são eficazes” contra as novas variantes e defendeu a político do governo. “É um regime muito duro. Quando alguém chega, é imediatamente levado para um hotel, onde é mantido por 10 dias, 11 dias”, disse. “A pessoa é testada no segundo dia e no oitavo dia. Tudo foi feito para impedir a propagação de novas variantes enquanto continuamos o programa de vacinação.”

    A Public Health England (PHE) afirmou ontem que os testes em que a variante foi encontrada foram feitos antes da imposição das atuais medidas de quarentena obrigatória em hotéis – iniciada em 15 de fevereiro. O governo, porém, ainda não sabe se o infectado chegou do Brasil ou foi contaminado no Reino Unido.

    A variante P1 tem algumas das mesmas mutações da variante sul-africana, que é altamente transmissível, e foi identificada pela primeira vez em Manaus, em janeiro. Além da caçada ao anônimo contaminado, autoridades identificaram outras cinco pessoas que testaram positivo para a cepa do Brasil.

    Dois casos são de uma única residência no sul de Gloucestershire, no sudoeste da Inglaterra, vindos de uma pessoa que voltou do Brasil um mês depois que a variante foi identificada pela primeira vez e cinco dias antes de a política de quarentena dos hotéis entrar em vigor.

    Um dos contaminados teria desenvolvido sintomas antes de fazer o teste. Seus contatos foram identificados e ele foi testado novamente. Novos exames estão sendo realizados em pessoas nas áreas próximas de Bradley Stoke, Patchway e Little Stoke como precaução.

    Os outros três casos são de pessoas que vivem no nordeste da Escócia. Eles também testaram positivo para a variante P1 depois de voltar do Brasil via Paris e Londres. Eles foram identificados durante a quarentena e, desde então, completaram o isolamento de 10 dias. Outros passageiros do mesmo voo, que pousou em Aberdeen no início de fevereiro, estão sendo contatados por precaução. A PHE também está fazendo testes e rastreamento de todos os passageiros que chegaram no voo da Swiss Air Lines, o LX318, que saiu de São Paulo via Zurique e pousou em Londres no dia 10.

    A política de quarentena em hotéis, que foi arquitetada para proteger o Reino Unido contra novas variantes, entrou em vigor em 15 de fevereiro, após muito atraso. Na Escócia, todos os viajantes que chegam em voos internacionais devem entrar em quarentena em um hotel por 10 dias, enquanto na Inglaterra as regras se aplicam apenas às chegadas de 33 países da “lista vermelha”. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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