• Reino Unido amplia arsenal nuclear pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria

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  • 17/03/2021 07:46
    Por Redação, O Estado de S.Paulo / Estadão

    O governo britânico pretende aumentar seu estoque de armas nucleares para conter as crescentes ameaças globais. O anúncio foi feito nesta terça-feira, 15, pelo primeiro-ministro, Boris Johnson, e significa uma grande revisão da política externa e de defesa do Reino Unido. É a primeira vez que Londres aumenta sua capacidade atômica desde a Guerra Fria, que terminou 30 anos atrás.

    De acordo com o plano estratégico de Johnson para a próxima década, o Reino Unido reduzirá o número de tropas, de tanques e de alguns caças, enquanto aumentará seu arsenal de ogivas nucleares, que passará de 180 para 260, um acréscimo de mais de quase 45%. A política externa britânica, segundo Johnson, deve se voltar para a região do indo-pacífico.

    Para isso, bases britânicas serão reformadas em Omã, Quênia, Cingapura, Chipre, Gibraltar e Alemanha, para aumentar a eficiência de uma eventual resposta militar em várias partes do mundo. A mudança de rumo, após o compromisso assumido em 2010 de reduzir seu arsenal nuclear até meados da década de 2020, é justificada por uma “crescente gama de ameaças tecnológicas e doutrinárias”.

    “A história mostra que as sociedades democráticas são as defensoras mais fortes de uma ordem internacional aberta e resiliente”, diz Johnson, no prefácio. “Para estarmos abertos, também devemos estar seguros. Isso exige o fortalecimento do programa nuclear britânico.”

    O primeiro estágio do projeto foi apresentado ontem em um relatório de 110 páginas, intitulado Global Britain in a Competitive Age (“Grã-Bretanha Global na Era da Competitividade”), que os funcionários de Johnson estão classificando como “a mais ampla reavaliação da segurança e do lugar do Reino Unido no mundo desde o fim da Guerra Fria”.

    Rivais

    O relatório alerta que o Reino Unido está sob a ameaça de países “desonestos”, “terroristas” e até mesmo de grandes empresas de tecnologia, argumentando que, como resposta, as capacidades militares britânicas e as alianças internacionais devem ser reformuladas. O documento caracteriza a China como um “competidor sistêmico”, linguagem não muito diferente da usada pelos EUA.

    Já a Rússia, segundo o relatório, continua sendo uma ameaça, três anos depois de envenenar Sergei e Yulia Skripal com novichok, um agente nervoso mortal, em Salisbury, na Inglaterra, provocando uma crise diplomática entre os dois países. “É estruturalmente inevitável, dadas nossas outras relações, que devemos nos voltar para os EUA”, disse Simon Fraser, ex-chefe da chancelaria britânica. “Para nós, Joe Biden é uma grande oportunidade.”

    A decisão de reforçar a capacidade nuclear do Reino Unido encerra uma era de desarmamento gradual que marcou o fim da Guerra Fria. As autoridades britânicas acreditam que a mudança é necessária porque outros países também estão “aumentando e diversificando seus arsenais nucleares”, adotando tecnologias “novas”, de acordo com o documento.

    “Continuamos comprometidos em manter o poder destrutivo mínimo necessário para garantir que a dissuasão nuclear do Reino Unido permaneça confiável e eficaz contra toda a gama de ameaças nucleares estatais de qualquer direção”, afirma o texto.

    Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, o maior de oposição no Reino Unido, criticou a decisão de Johnson de romper com a política de sucessivos governos de reduzir o arsenal nuclear britânico sem dar explicações detalhadas. Jamie Davies, porta-voz do premiê, rebateu as acusações de muitos parlamentares de que a medida seria uma violação do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). “O TNP não exige que reduzamos o número de ogivas”, garantiu Davies.

    No Parlamento, o premiê defendeu o decisão de aumentar o arsenal nuclear. “O objetivo principal desta revisão, a mais abrangente desde a Guerra Fria, é tornar o Reino Unido mais forte, mais seguro e mais próspero, ao mesmo tempo em que defendemos nossos valores”, afirmou Johnson aos deputados. (Com agências internacionais).

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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