• Refugiados temem bombardeios contra abrigo em Lviv

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  • 27/03/2022 07:55
    Por Gustavo Basso, especial para o Estadão / Estadão

    Aos 60 anos, todos passados em Kharkiv, Irina Kotliar não esperava estar a essa altura da vida dormindo em um beliche ao lado de outras 60 pessoas. Mas esta é sua rotina nos últimos dias, desde que conseguiu escapar da antiga capital ucraniana sob bombardeios.

    Hoje Irina evita sair do abrigo para refugiados improvisado em uma igreja batista em Lviv, pouco distante da estação de trem por onde havia chegado, três dias antes. O terror de um ataque aéreo leva ela e os pais de muitas das crianças a se manterem sob o teto do antigo depósito convertido em igreja, em 2018. Mas o enclausuramento não é algo novo para a aposentada.

    “Passei dez dias com outras 400 pessoas em um abrigo antibomba subterrâneo, enquanto ouvia o Exército russo destruir os edifícios do nosso bairro, que foi o mais devastado da cidade simplesmente por ser vizinho de uma academia militar”, contou. “Na primeira oportunidade, peguei apenas uma mala com os itens mais necessários e embarquei em um trem em direção a Lviv. Mesmo assim, foram 18 horas de viagem sem conseguir sentar com o trem abarrotado.”

    No sufoco do trem, Irina conheceu a amiga e parceira de refúgio, Lilya Jura, de 61 anos. Da viagem, ela lembra mais do temor do que do desconforto. “Eles continuavam bombardeando as proximidades do trem. Tivemos de passar três horas parados, só esperando o fim dos ataques, rezando para não sermos atingidos”, disse Lilya, também aposentada, que deixou tudo para trás, até os animais de estimação, para salvar sua vida.

    O pastor responsável tanto pela igreja quanto pelo abrigo já foi um refugiado no oeste da Ucrânia. Na visão de Elisey Pronin, a guerra com os russos não dura 30 dias, mas oito anos. A Província de Luhansk, onde cresceu e morava, foi tomada pelo conflito em 2014, quando tropas separatistas apoiadas pelo governo russo tomaram controle de parte da região, fundando a República Popular de Luhansk, parceira da vizinha República Popular de Donetsk, na região do Donbas.

    Crítico do movimento separatista, Pronin foi ameaçado de morte e teve a igreja onde pregava em Luhansk incendiada. Com o auxílio de igrejas batistas no exterior, ele articulou uma rede de doações e voluntários que garante colchões, cobertores, itens de limpeza e brinquedos para as mais de 230 pessoas atendidas em duas instalações – há uma segunda, ainda maior, nos subúrbios de Lviv. Os atendidos permanecem em média de três a quatro dias antes de partir para países da União Europeia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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