• Rebio-Araras e o resgate de animais silvestres

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  • 24/07/2016 07:00

    Casos envolvendo o aparecimento de animais silvestres nos centros urbanos têm chamado a atenção do público. Em Petrópolis, as ocorrências envolvem espécimes raramente vistas como o lobo-guará e até mesmo uma onça. Porém, para os integrantes da Unidade de Conservação da Reserva Biológica Estadual de Araras, situações como essas são recorrentes.

    Criada em 1977, a Rebio-Araras está localizada no segundo distrito de Petrópolis e tem como objetivo assegurar a preservação da Mata Atlântica como um todo. Sua área abrange aproximadamente 2.131 hectares, e está parcialmente incluída na Área de Proteção Ambiental de Petrópolis, administrada pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis). Desde seu estabelecimento, pesquisadores registraram a ocorrência de várias espécimes como jaguatirica, suçuarana, cachorro-do-mato, gambá, bugio, mão-pelada, tiê-sangue, maitaca, sabiá, tangará, jacu e japu, dentre outros.

    Ao completar 39 anos neste mês, a Reserva destaca-se por seus trabalhos de conservação e conscientização da sociedade. Porém, as ações de resgate de animais silvestres chamam cada vez mais a atenção do público, principalmente por terem "contato" pela primeira vez com espécies da fauna raramente vistas.

    Chefe da Unidade de Conservação desde 2010, o geólogo Ricardo Ganem Leal, conta como é realizado esse projeto na Rebio-Araras. "O trabalho é feito por demanda induzida, ou seja, por acionamento da Unidade pela sociedade civil, pares governamentais e outros". 

    Vale destacar que cada ação é segmentada e envolvem diferentes setores, de acordo com a necessidade. "As ações de resgate são feitas quando há risco à integridade do espécime ou quando ele se encontra debilitado ou machucado. Já as apreensões são quando no exercício do Poder de Polícia Ambiental, o agente fiscalizador constatada o cativeiro, guarda e/ou transporte sem as devidas autorizações", explica Ricardo. 

    Há ainda as ações de manejo e trato, desenvolvidas pelos servidores quando a tutela do espécime está com a Rebio-Araras e, assim, deve-se adotar o melhor procedimento de abrigo, alimentação, revitalização, potencialização motora, entre outros. 

    De acordo com dados de uma pesquisa divulgada pela Reserva, a Unidade de Conservação já conseguiu resgatar 121 espécimes. Ganem destaca que esse trabalho tem sido feito com mais efetividade nos últimos sete anos. "Devido a tecnicidade e por possuir um corpo técnico melhor qualificado e funcional, a Unidade vem fazendo um bom trabalho. O aumento da estrutura física e aquisição de novos equipamentos também colaboraram para melhorar nossas ações".

    As espécies mais resgatadas são as aves. Dentre as de destaque estão o trinca-ferro, chanchão e coleiro. Porém, um caso que tem chamado a atenção nos últimos tempos foi o resgate de um mamífero, um Puma yagouaroundi, conhecido popularmente como jaguarundi. A foto do animal fez sucesso nas redes sociais e foi amplamente compartilhada. Segundo Ganem, a ocorrência desse espécime é rara, mas não foi o primeiro caso já registrado pela Unidade. Vale ressaltar que o animal passa bem e já foi devolvido a natureza.

    "Porém, um dos resgates que mais ficou marcado foi o de uma fêmea de cachorro do mato. Há 12 anos, recebemos um chamado para resgatar um animal que havia sido atropelado. Ela estava muito ferida e, mesmo com os cuidados veterinários, acabou tendo uma das patas amputada. Depois de um longo período de recuperação na unidade, decidimos devolvê-la a seu habitat. O risco era grande, já existia a possibilidade da fêmea não sobreviver. A surpresa veio tempos depois, quando durante uma patrulha avistamos uma fêmea de três patas, cuidando de três filhotes. Ficamos muito felizes de saber que ela consegiu sobreviver e procriar, apesar de sua limitação", conta Ricardo.

    De acordo com Ganem, a Unidade de Conservação atua em todas as situações, dentro de sua área jurisdicional e de suas atribuições (técnicas, jurídicas e logísticas). "Temos um telefone operacional onde o solicitante requer o serviço e, de acordo com a análise, são adotadas as medidas cabíveis. E as áreas onde mais agimos são Araras, Vale das videiras e Fazenda Inglesa".

    Atualmente, a Unidade de Conservação possui uma equipe com 13 servidores aptos para exercer ações de busca, resgate, captura, manejo e fiscalização, formando um eficiente sistema operacional para casos diversos de acionamento. Além disso, o grupo conta com dois guarda-parques especificamente para as questões de fauna. Porém, todo corpo funcional atua direta ou indiretamente nas questões quando necessário.

    Para Ricardo, a realização desse trabalho é muito gratificante. "Poder ajudar a salvar vidas significa fazer a diferença. As ações de resgate, recuperação e soltura são especiais, pois nelas temos a sensação de dever cumprido ao ver o animal em campo, livre".

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