• Razão de nossa fé: Ele está vivo!

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  • 04/04/2021 08:00
    Por Monsenhor José Maria Pereira

    “Este é o dia que Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 117).

    O Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia!

    A todos formulo cordiais votos de Páscoa com as palavras de Santo Agostinho: “A Ressurreição do Senhor é a nossa esperança”. Com esta afirmação, Santo Agostinho explicava aos seus fiéis que Jesus ressuscitou para que nós, apesar de destinados à morte, não desesperássemos, pensando que a vida acaba totalmente com a morte; Cristo ressuscitou para nos dar a esperança.

    “Eu vi o Senhor” (Jo 20, 18), disse Maria Madalena, a primeira que encontrou Jesus ressuscitado, na manhã de Páscoa. Hoje, também nós, depois de termos atravessado o deserto da Quaresma e os dias dolorosos da Paixão, podemos entoar fortemente o hino de vitória: “Ressuscitou! Ressuscitou verdadeiramente!”

    Todo o cristão revive a experiência de Maria Madalena. É um encontro que muda a vida: o encontro com um Homem único, que nos faz sentir toda a bondade e a verdade de Deus, que nos liberta do mal, não de modo superficial e passageiro mas liberta-nos radicalmente, cura-nos completamente e restitui-nos a nossa dignidade. Eis o motivo por que Madalena chama Jesus “minha esperança”: porque foi Ele que a fez renascer, que lhe deu um futuro novo, uma vida boa, liberta do mal. “Cristo minha esperança,” significa que todo o meu desejo de bem encontra n’Ele uma possibilidade de realização: com Ele, posso esperar que a minha vida se torne boa e seja plena, eterna, porque é o próprio Deus que Se aproximou até ao ponto de entrar na nossa humanidade.

    A Ressurreição gloriosa do Senhor é a chave para interpretarmos toda a sua vida e o fundamento da nossa fé. Sem essa vitória sobre a morte, diz S. Paulo, vazia seria a nossa pregação e vã a nossa fé. (Cf. 1 Cor 15,14).

    A Ressurreição do Senhor é uma realidade central da nossa fé católica, e como tal foi pregada desde os começos do cristianismo. A importância deste milagre é tão grande que os Apóstolos são, antes de mais nada, testemunhas da Ressurreição de Jesus. Este é o núcleo de toda pregação, e isto é o que, depois de mais de vinte séculos nós anunciamos ao mundo: Cristo vive!  A Ressurreição é a prova suprema da divindade de Cristo. Jesus ressuscitou, não para que a sua memória permaneça viva no coração dos seus discípulos, mas para que Ele mesmo viva em nós, e, n’Ele, possamos já saborear a alegria da vida eterna. Na manhã de Páscoa, tudo se renovou. “Morte e vida defrontaram – se em um prodigioso combate: O Senhor da vida estava morto; mas agora, vivo, triunfa” (Sequência Pascal). Esta é a novidade! Uma novidade que muda a vida de quem a acolhe, como sucedeu com os santos. Assim aconteceu, por exemplo, com São Paulo.

    Portanto, a Ressurreição não é uma teoria, mas uma realidade histórica revelada pelo Homem Jesus Cristo por meio da sua “Páscoa”, da sua “passagem”, que abriu um “caminho novo” entre a Terra e o Céu (Cf. Hb 10, 20). Não é um mito nem um sonho, não é uma visão nem uma utopia, não é uma fábula, mas um acontecimento único e irrepetível: Jesus de Nazaré, filho de Maria, que ao pôr do sol de Sexta – feira foi descido da Cruz e sepultado, deixou vitorioso o túmulo. De fato, ao alvorecer do primeiro dia depois do Sábado, Pedro e João encontraram o túmulo vazio. Madalena e as outras mulheres encontraram Jesus ressuscitado; reconheceram – no também os dois discípulos de Emaús ao partir o pão; o Ressuscitado apareceu aos Apóstolos à noite no Cenáculo e depois a muitos outros discípulos na Galiléia.

    A Liturgia Pascal lembra, na primeira leitura, um dos mais comoventes discursos de Pedro sobre a Ressurreição de Jesus: “Deus O ressuscitou no terceiro dia, concedendo-Lhe manifestar-se… às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos” (At 10,40-41). Surge nestas palavras a vibrante emoção do chefe dos Apóstolos pelos grandes acontecimentos de que foi testemunha, pela intimidade com Cristo ressuscitado, sentando-se à mesma mesa, comendo e bebendo com Ele.

    A Ressurreição é a grande luz para todo o mundo: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12), dissera Jesus; luz para o mundo, para cada época da história, para cada sociedade, para cada homem.

    No Evangelho (Jo 20,1-9) vemos que a Boa Nova da Ressurreição provocou, num primeiro momento, um temor e espanto tão fortes, que as mulheres “saíram e fugiram do túmulo… e não disseram nada a ninguém, porque tinham medo”. Entre elas, porém encontrava-se Maria Madalena que viu a pedra retirada do túmulo e correu a dar a notícia a Pedro e João: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde O puseram” (Jo 20,2). “Os dois saem correndo para o sepulcro e, entrando no túmulo, observaram as faixas que estavam no chão e o lençol…” (Jo 20,6-7). “Ele viu e acreditou” (Jo 20,8).  É o primeiro ato de fé da igreja nascente em Cristo Ressuscitado, originado pela solicitude de uma mulher e pelos sinais do lençol, das faixas de linho, no sepulcro vazio. Se se tratasse de um roubo, quem se teria preocupado em despir o cadáver e colocar o lençol com tanto cuidado? Deus serve-se de coisas bem simples para iluminar os discípulos que “ainda não haviam compreendido a Escritura, segundo a qual Jesus deveria ressuscitar dos mortos” (Jo 20,9), nem compreendiam ainda o que o próprio Jesus tinha predito acerca da Sua ressurreição.

    Ainda que sob outro aspecto, os “sinais” da Ressurreição são vistos ainda presentes no mundo: a fé heroica, a vida evangélica de tanta gente humilde e escondida; a vitalidade da igreja que as perseguições externas e as lutas internas não chegam a enfraquecer; a Eucaristia, presença viva de Jesus ressuscitado que continua a atrair a Si todos os homens. Pertence a cada um dos homens vislumbrar e aceitar estes sinais, acreditar como acreditam os Apóstolos e tornar cada vez mais firme a sua fé.

    A Ressurreição do Senhor é um apelo muito forte: lembra-nos sempre que vivemos neste mundo como peregrinos e que estamos em viagem para a verdadeira pátria, a eterna. Cristo ressuscitou para levar consigo os homens, na Sua Ressurreição, para onde Ele vive eternamente, fazendo-os participantes da Sua glória.

    O Senhor Ressuscitado faça – se presente em todo lugar com a sua força de vida, de paz e de liberdade. Hoje, a todos são dirigidas as palavras com as quais na manhã da Páscoa o Anjo tranquilizou os corações amedrontados das mulheres: “Vós não precisais ter medo! Ele não está aqui!Ressuscitou, como havia dito!” (Mt 28, 5-6). Jesus ressuscitou e concede – nosa paz. Ele mesmo é a paz. Por isso, vigorosamente a Igreja repete: “Cristo Ressuscitou”. Que a humanidade do Terceiro Milênio não tenha medo de abrir – Lhe o coração! O Seu Evangelho sacia plenamente a sede de paz e de felicidade que habita em todo o coração humano. Agora Cristo está vivo e caminha conosco. Um Mistério imenso de Amor!

    Ao amanhecer do dia, depois do sábado, encontraram o sepulcro vazio. Depois Jesus manifesta-Se à Madalena, às outras mulheres, aos discípulos. A fé renasce mais viva e mais forte do que nunca, e já invencível porque fundada sobre uma experiência decisiva: “Morte e vida combateram, mas o Príncipe da vida reina vivo após a morte”. Os sinais da Ressurreição atestam a vitória da vida sobre a morte, do amor sobre o ódio, da misericórdia sobre a vingança: “Vi o túmulo de Cristo, redivivo e glorioso; vi os Anjos que o atestam, e as mortalhas com as vestes”.

    “Ressuscitei e estarei sempre convosco”. Esta certeza dada por Jesus realiza-se sobretudo na Eucaristia; é em cada Celebração Eucarística que a Igreja, e cada um dos seus membros, experimentam a sua Presença Viva e beneficiam-se de toda a riqueza do seu Amor. No Sacramento da Eucaristia, o Senhor ressuscitado purifica-nos das nossas culpas; alimenta-nos espiritualmente e infunde-nos vigor para enfrentar as duras provações da existência e para lutar contra o pecado e contra o mal. É Ele o amparo certo da nossa peregrinação rumo à habitação eterna do Céu. A Virgem Maria, que viveu ao lado do seu Filho divino cada fase da sua missão na Terra, nos ajude a acolher com fé o dom da Páscoa e nos torne fiéis e rejubilantes testemunhas do Senhor ressuscitado.

    Feliz Páscoa para todos! 

    * Monsenhor José Maria Pereira é Vigário Geral da Diocese de Petrópolis, Pároco da Paróquia São José do Itamarati e Juiz do Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Niterói e Diocesano de Petrópolis.

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