• Festival de LED na Educação: criatividade e rotina

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  • 16/07/2022 08:00
    Por Gastão Reis

    Foi, sem dúvida, meritória a realização pelo Grupo Globo do Festival LED, no Museu do Amanhã, nos dias 8 e 9 de julho corrente. A proposta é na direção de construir um futuro melhor para o País com uma visão 360º. O resumo foi publicado no Caderno Especial Educação 360 no Globo de quarta-feira, 13.7.2022. Vou fazer uma pescaria das melhores propostas e suas perspectivas que me pareceram mais relevantes, temperando com a visão de pensadores que se debruçaram sobre o tema em tela muito tempo atrás.

    Foram convidados nomes nacionais e estrangeiros que têm o que dizer nessa área tão mal-conduzida ao longo de décadas pela república brasileira. Esteve presente a futurista americana Amy Webb com propostas para revolucionar as salas de aula nos anos vindouros. O economista Eduardo Giannetti também participou. Sua proposta é repensar nossa pedagogia dando ênfase ao pensar, minimizando a velha decoreba.

    Roberta Ferraz, gerente de Projetos Especiais e coordenadora-geral do Educação 360, relembra que “é papel de toda a sociedade contribuir com os rumos da educação”. A exclusão social é uma de suas principais preocupações, justamente por identificar nela “um obstáculo para o caráter universal da educação e para o desenvolvimento do país”. Fica o sabor de elevar em muito o padrão de qualidade do ensino fundamental e médio, sem o qual vamos continuar como recordistas de analfabetismo funcional.

    Bruno Alfano, em sua matéria intitulada “Do Metaverso ao Tiktok: Tecnologia a Serviço do Saber” levanta pontos importantes. Metaverso é a fusão dos ambientes virtual e real através da tecnologia. São os espaços virtuais usados por pessoas reais que poderão realizar atividades, transações, se comunicar, entre várias outras possibilidades por meio do que temos de mais tecnológico. O TikTok é uma rede social de vídeos curtos divertidos para serem compartilhados com duração entre 15 e 60 segundos.

    Alfano cita Silvio Meira, professor, cientista e empreendedor na área de engenharia de software, nos informa que nada vai mudar com metaverso ou tecnologias similares sem reformar o sistema educacional em sua estratégia, métodos, processos e objetivos. Meira propõe “desenhar novas formas de aprender para que o aluno ter escolhas e aprender debatendo, divergindo para descobrir possibilidades, e convergir para escolher consensos coletivos”.

    Ele nos relembra ainda daquilo que foi esquecido, pelo jeito, por mais de dois milênios, afirmando o seguinte: “Era isso que fazia a escola de Aristóteles, cerca de 400 anos antes de Cristo”. E continua: “Descobrir as perguntas que a gente tem que responder no nosso contexto. Imagina se no Metaverso essa dinâmica for aberta, de forma instigante, emocionante, que engaja todo mundo, o que diminui a evasão. Aí eu acho que o metaverso iria mudar muito o que é o aprendizado. E a educação deixaria de ser a burocracia (e a burrocracia, acrescento eu) do aprendizado”.

    Meira está indo na direção de John Dewey (1859-1952), filósofo americano, um pragmatista sistemático. Dewey afirmava que ser “filosófico” significava ter inteligência crítica e manter uma abordagem científica dos problemas humanos. Ele batia na seguinte tecla: “Proponho que educacionistas não continuem a conceber as crianças não como jarros passivos, vazios, a serem preenchidos com informação, mas como resolvedores de problemas com mentalidade independente, que precisam ser continuamente desafiados”.

    A matéria de Pâmela Dias nos fala de projetos inovadores na área de educação, com potencial de reduzir desigualdades sociais. A meu ver, o melhor foi o que recebeu o título de “Desengaveta meu Texto”. Para estimular a leitura e a redação pelos alunos, a escola apostou em abastecer a biblioteca com contos dos alunos. Foi uma iniciativa da Profa. Patrícia Rosa, de Capina Grande, Paraíba. Escrever induz o aluno a pensar por si mesmo. Não basta ler.

    O dramático, no caso brasileiro, efeito de muitas décadas de descaso pela educação e de baixa remuneração dos professores, além de desprestígio social, é o fato de a formação dos professores ser proveniente do terço inferior dos universitários. Ou seja, aqueles com baixo desempenho em seus cursos. É o oposto da Coreia do Sul em que são provenientes do terço superior, bem remunerados e gozando de elevado prestígio social. Na Alemanha, ainda hoje a remuneração dos professores é superior a de outros profissionais. A boa notícia é que o salário dos professores aumentou significativamente na última década.

    Vejamos agora a questão criatividade versus rotina. Com certa frequência,

    somos convidados a sair da rotina. A proposta tem seu mérito no sentido de abrir espaço para a inovação. Mas a boa pedagogia exige certas rotinas sem as quais o aluno acaba prejudicado. Pontualidade, preparo e empenho dos professores, por exemplo. O ciclo básico em tempo integral é uma rotina que está longe de ser generalizada nas escolas públicas brasileiras. Estudos comprovam que ela eleva o desempenho dos alunos.

    Na rotina das salas de aula, é sempre possível abrir espaço para a criatividade. O Empretec, seminário de SEBRAE, que põe em prática dinâmicas individuais e de grupos no estímulo a comportamentos empreendedores, é realmente eficiente e eficaz. Eu me lembro de uma delas até hoje. Num grupo de seis participantes, fomos desafiados a melhorar um pente num período de 20 minutos. Minha primeira reação foi achar que era coisa boba. Pente é pente, e pronto. Qual não foi a minha surpresa com a qualidade das sugestões surgidas no grupo num tempo tão curto.

    A lição que fica é que existem rotinas que podem estimular a criatividade das pessoas. O exemplo do parágrafo anterior é mais que ilustrativo. Em outras palavras: criatividade e rotina são como corda e caçamba: uma não funciona sem a outra. Hoje, a tecnologia permite avanços incríveis através de vídeodinâmicas, como a citada neste artigo, no exercício da criatividade sem esquecer das rotinas. Mãos à obra.

    Nota (*): Entrevista minha, QUANDO O BRASIL PERDEU O RUMO DA HITÓRIA, com mais de 22 mil visualizações no YouTube. Basta digitar no Google o título em MAIÚSCULAS, que vem no ato. Contatos: gastaoreis2@gmail.com

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