• Quinze dias desde a maior tragédia socioambiental da história de Petrópolis e ainda faltam respostas sobre as vítimas

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  • 01/03/2022 18:13
    Por Vinícius Ferreira

    Duas semanas se passaram desde que o temporal sem precedente despejou sobre Petrópolis, em menos de três horas, 256,4mm de chuva. Um volume muito acima do que era esperado para todo o mês de fevereiro, cuja média, nos últimos nove anos, tem sido de 150mm. O desastre é ambiental, mas sobretudo social, porque teve seu maior impacto sobre as famílias que vivem nas áreas de maior vulnerabilidade – empurradas para o alto dos morros pela desigualdade social e pela especulação imobiliária. Áreas que já eram reconhecidamente de alto risco, como é o caso do Morro da Oficina, onde estudo encomendado pelo município havia mapeado, em 2017, 729 casas expostas a deslizamentos de terra. Apenas neste local, 80 imóveis foram atingidos, segundo levantamento feito pela Defesa Civil, e 93 vítimas foram encontradas.

    Hoje, a contagem oficial de mortes pela tragédia soma 231 nomes. Das quais 137 são mulheres e 94 homens. Dessas pessoas, 44 são adolescentes e crianças (alguns eram bebês, com dias de vida). O levantamento de desaparecidos da Polícia Civil aponta que seis pessoas ainda restam serem encontradas: Antonio Carlos Dos Santos, de 56 anos; Gisele Reis Bittencourt, 41; Heitor Carlos Dos Santos, 61; Lucas Rufino Da Silva, 20; Pedro Henrique Braga Gomes Da Silva, 8 anos; Wallace Reis De Andrade, 23. Depois de anunciar que havia encerrado as buscas no Morro da Oficina, o Corpo de Bombeiros chegou a informar, porém, que procurava por cinco vítimas (sem dizer quem eram), duas delas no Chacará Flora e outras três nos rios Quitandinha e Piabanha. Há, no entanto, muitas perguntas que precisam ser respondidas.

    A Tribuna de Petrópolis questionou tanto a Polícia Civil quanto o Corpo de Bombeiros sobre quais vítimas foram encontradas em cada área onde foram feitas buscas na cidade. Quem eram as 93 pessoas localizadas no Morro da Oficina? Quantas e quem são as pessoas que foram vítimas do afundamento dos dois ônibus da Petro Ita no Rio Quitandinha? Quantas pessoas perderam a vida presas em carros ou arrastadas pela correnteza na rua do Imperador? Quantas foram vítimas de soterramento na 24 de Maio, na Rua Nova, na Rua Teresa, no Floresta, no Vila Militar, no Chácara Flora, no Vila Felipe? Quem eram e onde foram resgatados os 24 sobreviventes? Nenhum dos questionamentos foram respondidos, 15 dias depois do desastre.

    O que se sabe desses casos, até agora, vem de relatos de sobreviventes ou de familiares. O Pedro Henrique Braga Gomes Da Silva, de 8 anos, que ainda está entre os desaparecidos no site da Polícia Civil, era uma das pessoas que foram arrastadas pela correnteza junto com os ônibus na Rua Washington Luiz. Nesse caso, é o relato de um passageiro que traz a informação de que ao menos 20 pessoas estavam em um dos veículos. O porteiro, que trabalha no condomínio ao lado de onde os ônibus pararam, ajudou a resgatar as vítimas e a dizer quantas delas conseguiram sair dos ônibus. “Conseguimos tirar dos ônibus em torno de 20 a 23 pessoas”, afirma Igor Fabiano Gonçalves, em uma reportagem para O Fantástico. Nas imagens dos ônibus sendo arrastados pela correnteza, que correram o país, após o rompimento da corda usada para ajudar as pessoas a saírem, ao menos 15 pessoas ainda estavam nos veículos.

    A busca, como informou o Corpo de Bombeiros, segue pelos rios no ponto posterior ao local onde os ônibus afundaram e também no Chacará Flora, onde resta localizar duas vítimas. Não é dos Bombeiros, no entanto, que vem a informação de que essas pessoas são da família do Sidney Andrade, que perdeu cinco familiares depois do desabamento: os pais, os avós e um irmão. Os dois corpos ainda soterrados são os da mãe, Gisele, e do irmão mais velho, Wallace. Desde o primeiro dia ele tem acompanhado as buscas na região.

    O local mais atingido no bairro foi próximo ao Centro de Educação Infantil – CEI Deise Eloi Gomes. Entre as vítimas do Chacará Flora, estava também Joyce Da Silva Affonso, de 23 anos. “Ela estava grávida de 8 meses, tinha feito o chá de bebê no domingo e na terça aconteceu a tragédia”, contou a vizinha, Andreza da Silva.

    Não fossem os relatos e as informações que eles trazem, faltariam nomes para explicar a dor daqueles que perderam entes queridos e ainda buscam por seus familiares desaparecidos.

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