“Quem me dera agora eu tivesse a viola”
O título deste artigo é uma referência à música Ponteio, de Edu Lobo e Capinam. Estaria o compositor desta linda canção querendo dizer o mesmo que eu pensei ao cantarolar esta estrofe em particular? É que, para mim, fez sentido não se ter à mão o que se precisa no exato momento em que algo nos é necessário. Existem pessoas que têm o dom de pensar rapidamente e responder “na lata”, enquanto outras, entre as quais me incluo, percebem as situações que mereceriam uma intervenção, mas não se manifestam imediatamente. Ficam então matutando – e se cobrando – uma forma de recriar a cena e poder finalmente fazer o que deveria ter feito e não fizera, falar o que deveria ter dito e não dissera. E assim reparar a atitude que não desejara omitir.
As oportunidades que se apresentam na vida não costumam se repetir, pelo menos não da mesma maneira. E se a pessoa em questão sente-se forçada a usar de criatividade para realizar finalmente o que lhe deixou em falta consigo mesma e assim acalmar sua consciência, isso definitivamente não seria o processo básico de qualquer produção? Possivelmente este pode ser o detonador inconsciente das nossas motivações. Acredito que, embora não seja o único, esteja por trás das situações, estados de espírito e necessidades de cada indivíduo.
Como ninguém é perfeito, mas, ao mesmo tempo, pode, e normalmente, deseja se aperfeiçoar, sendo o sujeito capaz de ter auto=consciência deste paradoxo que caracteriza sua existência, ele experimenta o assim chamado “dilema humano” (Rollo May em seu livro: Psicologia e Dilema Humano). Este é um dos aspectos deste conceito do autor que vai analisá-lo também quanto ao problema da liberdade. Viver corajosamente com esse “dilema” é, para ele, a fonte da criatividade humana.
Motivações normalmente não nos faltam para realizar o que quer que seja, a não ser que estejamos deprimidos ou desesperançosos o que costuma acontecer de forma casada. Ou seja, quando alguem perde a esperança, começa a trilhar o caminho para a depressão e vice-versa.
O que poderia nos “salvar” desta destinação numa circunstância como esta? Nada mais nada menos que a…viola! Simples assim, me questionarão? Simples e complexo pois a viola, que no caso do Capínam, era o que lhe faltava naquele momento, é uma metáfora a ser interpretada por cada um segundo o que lhe aparece como imagem salvadora. Implica num esforço de elaboração criativa, numa busca, numa procura.
E por que é salvadora? Porque ao se colocar à procura, a pessoa já está em movimento, portanto saindo de um estado de inércia, paralisante.
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