• Quem é Carla Zambelli, deputada que deixou o Brasil após condenação pelo STF

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  • 03/jun 14:45
    Por Maria Magnabosco / Estadão

    A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) informou na manhã desta terça-feira, 3, que deixou o Brasil para buscar tratamento médico, e que vai pedir licença não remunerada de seu mandato na Câmara dos Deputados para viver na Europa, onde tem cidadania. O anúncio ocorre dias após Zambelli ser condenada por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de prisão, além da perda do cargo, pela invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

    Considerada uma das apoiadoras mais fiéis do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Carla Zambelli foi eleita deputada federal em 2018 pelo Partido Social Liberal (PSL) e reeleita em 2022 pelo Partido Liberal (PL), como a segunda deputada mais votada de São Paulo.

    Antes disso, Zambelli foi fundadora do Movimento Nas Ruas, que ganhou notoriedade nas manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

    A deputada do PL tem 45 anos e é natural de Ribeirão Preto, São Paulo. Formada em Planejamento Estratégico Empresarial pela Universidade Nove de Julho (Uninove), atuou na área até 2015, quando pediu afastamento da empresa que trabalhava, a KPMG, para tratar um tumor no cérebro.

    Além da vida política, a deputada também é registrada na profissão de escritora, tendo lançado o livro Não foi Golpe – Os bastidores da luta nas ruas pelo Impeachment de Dilma, publicado pela LVM Editora, em 2018.

    Carla Zambelli condenada no STF

    Carla Zambelli foi condenada no dia 14 de maio por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de prisão, além da perda do cargo na Câmara dos Deputados, pela invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), junto do hacker Walter Delgatti Neto.

    No ataque ao sistema do CNJ, em 2023, foi emitido um mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. “Expeça-se o mandado de prisão em desfavor de mim mesmo, Alexandre de Moraes. Publique-se, intime-se e faz o L”, dizia o documento falso.

    A Polícia Federal (PF) apontou, no relatório da investigação, que documentos apreendidos com a deputada correspondem aos arquivos inseridos pelo hacker no sistema do CNJ, o que para os investigadores comprova que ela participou do ataque. Assim, a PF concluiu que o ataque foi planejado para colocar em dúvida a credibilidade do Poder Judiciário.

    Ela pode apresentar embargos de declaração após a publicação do acórdão. O recurso não tem poder de alterar a condenação, mas adia o trânsito em julgado do processo. Eventual prisão precisaria ser autorizada pela Câmara.

    A perda de mandato também teria que ser decidida pelos deputados. Porém, a jurisprudência do STF é que se a pena for superior a 120 dias de prisão em regime fechado, o próprio tribunal pode determinar a medida porque a Constituição prevê que o deputado perderá o mandato se faltar a um terço das sessões. Neste caso, cabe à Mesa Diretora da Câmara apenas declarar a perda de mandato.

    Quando houve a formação da maioria pela condenação no dia 9 de maio, a parlamentar divulgou nota na qual externa sua “irresignação” e afirma que houve cerceamento da defesa e “inúmeras nulidades desprezadas”. Ela também diz que a condenação é injusta porque não há “provas irrefutáveis e induvidosas”.

    Durante entrevista concedida ao vivo ao canal do YouTube AuriVerde Brasil na manhã desta terça-feira, 3, Carla disse ter escolhido a Europa como destino para poder atuar pelo fortalecimento da direita nos países da região e “resistir, voltar a ser a Carla que eu era antes das amarras que essa ditadura nos impôs”.

    Campanha para arrecadar dinheiro por Pix

    Ainda em maio deste ano, após a sentença do STF, Zambelli afirmou ter arrecadado mais de R$ 166 mil em um dia, por meio de doações via Pix feitas por apoiadores e seguidores nas redes sociais.

    O dinheiro, segundo a deputada, seria destinado para o pagamento das multas determinadas pelo Supremo.

    “Se você acredita na minha luta, se entende que o que está em jogo é muito maior do que uma condenação injusta, me ajude”, pediu Zambelli em publicação no Instagram no dia 20 de maio.

    Ameaça com arma nas eleições de 2022

    Carla Zambelli também responde a outro processo no STF por perseguir um homem com uma pistola na véspera do segundo turno das eleições de 2022.

    Já há maioria formada para condenar a deputada por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo e cassar o mandato dela, mas o julgamento está suspenso por um pedido de vista do ministro Kassio Nunes Marques.

    Na entrevista desta manhã, Carla disse ter sido usada como “bode espiatório” pela derrota de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, em especial pelo advogado Fábio Wajngarten. E que o episódio da perseguição a um cidadão de arma em punho na véspera do pleito a afastou do então presidente e a colocou em depressão.

    Carla Zambelli anuncia que vai viver na Europa

    Durante a entrevista Carla Zambelli ainda anuncia que pretende fazer campanha política durante o tempo em que estará vivendo na Europa. A deputada do PL elogiou a articulação feita pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos, onde ele vem se empenhando para tentar influenciar o governo Trump a impor sanções contra autoridades brasileiras. Segundo Zambelli, a atuação de Eduardo é um exemplo do que ela pode fazer na Europa.

    “(O trabalho de Eduardo) pode ser feito na Europa também. A (primeira-ministra da Itália, Georgia) Meloni precisa começar a entender o que está acontecendo. A Espanha precisa acordar, que a esquerda está fazendo muito mal no país. O que o (Emmanuel) Macron está fazendo com a França. Eu quero estar nesses lugares todos. Ajudar o Chega em Portugal. O conservadorismo precisa avançar, e o globalismo, a esquerda precisa recuar”, declarou.

    Zambelli delegou a administração de suas páginas nas redes sociais à mãe, Rita Zambelli. Antes de viajar, ela também emancipou o filho de 17 anos para que ele possa se candidatar nas eleições do ano que vem e herdar o seu espólio eleitoral.

    O Estadão procurou o STF, a Procuradoria-Geral da República e a Câmara dos Deputados, mas não recebeu uma resposta até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.

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