Queda do dólar e expectativa de cortes pelo Fed respaldam fechamento da curva
O boletim Focus e o noticiário político sem grandes novidades abriram espaço para que o exterior agisse como principal gatilho para a curva de juros doméstica nesta quarta-feira de cinzas, 5, com pregão reduzido. A forte correção nas taxas, com destaque para a longa fechando mais de 20 pontos-base, foi respaldada pela queda brusca do dólar, a R$ 5,75, e por apostas de que o Federal Reserve iniciará o afrouxamento monetário em junho, com redução acumulada de 75 pontos-base em 2025.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu a 14,785%, de 14,973% do ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 cedeu a 14,765%, de 15,037% do ajuste, e o para janeiro de 2029 recuou a 14,750%, de 15,044%.
“Juros estão caindo por um ajuste do movimento dos últimos dias, ajudado pelo exterior após relatório ADP abaixo do esperado”, afirma o economista-chefe do Banco Bmg, Flavio Serrano. A ADP mostrou que o setor privado dos Estados Unidos criou 77 mil empregos em fevereiro, abaixo da previsão da FactSet de geração de 143 mil postos de trabalho.
Na mesma linha, o diretor de Investimentos da Nomos, Beto Saadia, considera que os últimos dados de atividade dos Estados Unidos “falaram muito em favor da tese de juros menores nos Estados Unidos, e isso impacta os juros aqui também”, destacando que o ADP indica uma desaceleração da economia americana.
Mesmo após PMI de serviços e encomendas à indústria dos Estados Unidos acima do esperado, a ferramenta FedWatch do CME Group mostrou que o mercado manteve junho como mês mais provável de retomada de corte de juros pelo Fed, com chance de uma redução acumulada de 75 pontos-base nos juros em 2025.
A divisa americana se desvalorizou globalmente, cedendo 2,71% ante o real hoje, e isso também propiciou o fechamento da curva brasileira, segundo Saadia, da Nomos.
Na pesquisa Focus, a projeção para a inflação suavizada nos próximos 12 meses caiu pela terceira semana consecutiva, de 5,64% para 5,49%. Já a mediana de IPCA 2025 seguiu em 5,65%, bem como a previsão para a Selic ao fim de 2025 permaneceu em 15%. “Focus não trouxe muitas novidades, então não teve muito impacto no mercado”, acrescenta Serrano, do Bmg.
Apesar da queda nas taxas de juros mais longas nesta quarta-feira, o diretor de Investimentos da Nomos pondera que a repercussão negativa sobre a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, na Secretaria de Relações Institucionais cresceu no fim de semana. “É sinalização ruim porque mostra uma inclinação de que o governo adote medidas mais populistas, então ainda há receio fiscal”, diz Saadia.