• Que tempos são esses?

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  • 13/02/2020 14:52

    Chegamos nestas paragens por obra e graça do Altíssimo e aqui passamos a dar os primeiros passos ao lado dos pais e de pessoas que, por força de pai e mãe desempenharem atividades profissionais, cuidavam-nos com carinho e dedicação: porém quando necessário, agiam com severidade, daí nos recordarmos eternamente da querida Dirce.

    Crescemos e estudamos com afinco e dessa maneira transcorreu nossa trajetória até que, concluído o então curso científico, ingressamos junto à Faculdade de Direito da UCP.

    Vida nova, década dos anos sessenta, sequer passava por nossa mente deixar a cidade onde nascemos e fomos criados; o convívio diuturno com familiares, amigos e colegas que conquistamos durante o período em que frequentamos o Colégio Carlos A. Werneck, sob a batuta do inesquecível mestre Carlos Werneck e de muitos outros professores de igual valor e talento, fez-nos que passássemos, cada vez mais, a apreciar o chão desta imperial cidade. 

    Os estudos subsequentes realizados na UCP onde conquistamos novas e sinceras amizades, até mesmo daqueles que se deslocavam de cidades próximas para aqui frequentarem a Faculdade de Direito. Tais deslocamentos prendiam-se ao fato de suas cidades não disporem de Faculdades que pudessem acolhê-los.

    Muitos deixavam suas famílias e aqui passavam a se radicar, temporariamente.

    Afinal, que tempos foram esses que não nos condicionaram a decidir pelo ingresso na Escola Preparatória de Oficiais da Marinha, como agiram meus primos ao elegerem as Forças Armadas e acabando por fazerem belas carreiras.

    A resposta, não há dúvida que esteja relacionada com a época em que vivíamos, a se destacar os profundos vínculos familiares, sem falar em amigos que aqui também optaram por permanecer pelas mesmas razões por nós dispostas.

    Na atualidade, na condição de avós, seis netos, três deles bem jovens, já estamos ouvindo com relação aos demais, é verdade que assustados: “pois é meu avô não vou permanecer em Petrópolis para cursar a Faculdade de Direito; vou, se possível for, para  São Paulo”. E avós, especialmente o avô, a indagarem: Vão nos deixar?

    Por outro lado, ante certamente a diferença de gerações, quedamos na dúvida acerca do que pensam os pais. Teriam aquiescido?

    E a moçada continuando a vivenciar momentos que só a eles dizem respeito – não há que se negar – e as ideias vindo à tona exatamente como um neto que acabara de completar dezessete anos, a mim relatando: “Pois é meu avô, vou cursar Universidade nos Estados Unidos!” O avô mais uma vez preocupado com a distância a nos separar! E o mesmo ainda completara: “E tem mais, vou e não pretendo retornar, a não ser no período de férias, meta que almejo alcançar”.

    Ante a tudo que ouvimos e considerando nossos argumentos nunca aceitos, mais uma vez baixinho resmungamos contrários à iniciativa.

    Após muito conversarmos, avô, avó e pais a respeito do que pensam os netos, e sem que agradasse ao avô tais decisões acabamos por concluir: o grande amor e carinho aos mesmos dedicados, talvez uma dose de egoísmo e preocupações em excesso, foram e continuam sendo fatores a preponderar quanto ao nosso modo de pensar.

    Contudo, depois de bem meditarmos, o que ficou claro sobre tais questões – e nós bem que já sabíamos sem que déssemos “o braço a torcer” – é que filhos e netos nasceram para o mundo e o livre arbítrio no tocante ao destino de suas vidas dá-lhes o direito de decidirem sobre o que para eles venha ser o melhor.

    Ainda que por tanto apego aos jovens, todavia sem que deles, nesta altura, possamos discordar! 

    Resta-nos seguir nossas trajetórias no sentido de que um dia possamos melhor compreender acerca do que pensam os mesmos a respeito de ideais que fizeram eleger com relação às suas vidas.

    Por tudo isso e ainda por carinho, dedicação e muita afeição, combinados com saudade, é que concordo com o poeta quando escreve:

    “Já nesta altura da vida, / quer na roça ou na cidade, / inda não se tem perdida / uma parceira: – a saudade”.

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