• Que Tal Usar A Porta Da Frente?

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  • 04/01/2020 09:27

    O Papa Francisco, em 15 janeiro de 2015, disse ao ser entrevistado: “É verdade que não se pode reagir violentamente, mas se Gasbarri (seu assisten-te), grande amigo, ofender minha mãe, pode esperar um murro. É normal”. Ele, de fato, surpreendeu muita gente ao deixar claro qual seria sua reação. Disse ainda que não se pode provocar ou insultar a religião dos outros. 

    O humorista e roteirista Fabio Porchart, por sua vez, publicou em O Globo, de 30/12/2019, um artigo intitulado “Com religião não se brinca”. Ao ler o título, pensei com meus botões: “Será que vai-se redimir?” Ledo engano. O texto começa assim: “Se você concorda com o título desse artigo, ele é pra você. Sinto lhe informar, mas com religião se brinca sim”. E lá foi ele fazendo a defesa da brincadeira de mau gosto que ele e seu grupo fizeram. Claro, na linha de que a liberdade de imprensa não tem qualquer limite. Foi então que me passou pela cabeça qual seria a reação dele se algo semelhante envolvesse a mãe, o pai e respectivos membros de sua família. Pior: que as brincadeiras descambassem para a difamação e insultos acompanhados de mentiras, como fizeram com esses personagens bíblicos respeitados e venerados por quase 90% da população brasileira, se incluirmos católicos e evangélicos. 

    Segundo Fabio Porchat, “A “lei de Deus” não existe para nosso país. Ela existe para o indivíduo. Sua lei pessoal não pode valer para mim.” Essa cambalhota dialética é curiosa. Ele se esquece que o cristianismo representou um corte profundo com a visão greco-romana sobre a escravidão, a diferença radical entre as pessoas, as livres e as escravizadas. Diante de Deus, passamos a ser todos iguais. A raiz da igualdade nas constituições modernas nasceu desse conceito religioso cristão ignorado por ele. 

    A peça de (mau) humor pegou pesado. Avacalhou, insultou e mentiu sobre os personagens bíblicos. Esse tipo de humor brega bem poderia ter sido descartado pela porta dos fundos sem vir à tona. Até mesmo porque apelou para mentiras evidentes quanto ao relacionamento afetivo entre Cristo, Maria e seus apóstolos. Em alguns países do Oriente Médio, onde Cristo viveu, houve e há o costume de homens se darem as mãos na rua ou andando em praça pú-blica sem que haja qualquer conotação homossexual como se dá no Ocidente. 

    Merece especial registro o fato de o articulista ter pisado em falso quando disse que a liberdade de expressão é coisa “nova” entre nós, brasileiros. Deveria ter sido mais específico e se referir ao período republicano, que vem desde o malfadado golpe de 15 de novembro de 1889. Esqueceu do meio século de ampla liberdade de pensamento, de expressão e de imprensa ao longo do meio século do Segundo Reinado. E da visão avançada e esclarecida de Pedro II ao afirmar que “imprensa se combate com a própria imprensa”. A própria Europa naqueles tempos tinha dificuldade em seguir a máxima à risca. Nesta réplica, estou apenas pondo em prática o princípio tão caro a Pedro II, a mim e a você.

     A rigor, nesse particular – desinformação sobre nossa própria história, em especial sobre o século XIX –, Porchat se irmana a uma parte significativa de intelectualidade pátria empanturrada de Marx e Gramsci. Este pariu a ideia cretina de que a verdade é apenas a da classe social dominante. O barbudo via na luta de classes o motor (enguiçado, claro!) da História. Intelectuais e historiadores, dentre outro(a)s, como Iza Salles, autora de “O coração do Rei” e Regina Echeverria, que escreveu “A História da Princesa Isabel”, reconheceram suas deficiências e se redimiram em seus livros. Brincar é diferente de ofender. Foi humor de engraçadinhos, ofensivo para quase toda a população do País. 

    Certamente, você e seu grupo tem condições de produzir peças de humor capazes de saírem pela Porta da Frente com brilho e verve. Humor apelativo está muito abaixo da competência de sua equipe. Por fim, mas não menos importante, manifesto meu repúdio ao atentado que sofreram. Autor: Gastão Reis Rodrigues Pereira Empresário e economista 

     

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