• Py, Fernando: poeta

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  • 27/05/2020 00:01

    Poeta é o ser humano especializado em beleza.

    Poeta é o arauto do mais doce sentimento, o amor.

    Poeta é o fingidor de Pessoa como é o condoreiro de Castro Alves ou o épico Luiz Vaz.

    Poeta é o romântico Casimiro e também a saudade lamentosa de Varela.

    Poeta é o cantor do quotidiano drummoniano pelas ruas da Ipanema de Vinicius como pelos caminhos de Bandeira, Cassiano, Del Pichia, João Cabral, Milano…

    Poeta é o cantor do cruel infortúnio de Augusto dos Anjos.

    Poeta é o iluminado helênico Leoni junto aos deuses olímpicos.

    Poeta é o Py da adoção petropolitana, clássico e moderno, inovador contemporâneo, Fernando Py.

    Com os novelos do talento, Py, hoje, tece fímbrias de novos acordes poéticos, na mansidão do eternal destino humano. Pegou os seus versos, entregou-os à humanidade, vestiu-se simplesmente com as luzes infinitas, ajeitou sua boina, e saiu por ai, nas sendas de nossos corações, onde pode ser encontrado na mansuetude da imortalidade, seu refúgio final.

    Fui seu amigo, confesso admirador, confrade nas principais agremiações de letras de Petrópolis, além de caminhar pelas trilhas mesmas e, em consequência, dar-nos em conversas de elevados teores e temas literários, sempre que ocorriam as solenidades das academias, que ele sempre prestigiava. Tive o privilégio de indicá-lo para ocupar uma cadeira na Academia Petropolitana de Letras e, mais, a honra de proferir o discurso de saudação, na memorável noite de 5 de março de 1990, quando disse: “[…]O meteorologista fica poeta e descamba para a crítica literária, atividade, sem dúvida, sujeita a chuvas e trovoadas; chuvas que encharcam de sensibilidade a terra da criação de beleza; trovoadas que ribombam a sonoridade de versos que falam à alma; tempestades de talento que assustam os desavisados descrentes da existência de raios luminosos que enfeitam a negritude dos céus carregados […]”.

    Em outro trecho a declaração da honra de sua presença na Academia: “[…] Com muito orgulho e honra recebemos esse intelectual na Academia. Por ele falam seus trabalhos, sua vida dedicada à Literatura, seu amor às Letras. Nenhum outro fardão seria maior, no entanto, do que a sua participação na Academia da Cidade que escolheu para residir e escrever; participar e viver, Veio Fernando Py juntar-se ao companheirismo do sodalício que o quer como um dos maiores e mais atuantes defensores da Instituição de agora por diante. Afinal, o poeta veio para Petrópolis cuidar da sua e da nossa sensibilidade, apropriar-se, no sentido poético, das nossas belezas, haurir o sopro de vida que os tortuosos caminhos da serra sugerem; veio, no dizer de seu poema a Dante Milano “Poema Infinito –  Valorizar toda manhã de sol / como se a derradeira fosse. / Toda manhã de sol sobre a verdura / como se nunca mais houvesse. / Valorizemos, pois, o sentido desta noite, / quando um belo poeta e grande literato, / chega e abraça e ama e beija / e vem lutar conosco”.

    E foi assim mesmo que Fernando Py foi entrando na Academia: na cabeça sua inseparável boina, trajando terno engravatado que o incomodava, calçado simples, entre sorrisos, sussurros, conversas eruditas, em nada assemelhado a um portador de tamanha cultura que ele ostentava com franciscana empatia e humildade. E como riam todos de suas mágicas tiradas no bem humorado ser escritor, poeta, tradutor poliglota, tudo enfeixado na figura esguia e encantadora desse mágico criador de ampla ternura poética.

    Benvindo à nova imortalidade, desprendida da materialidade, querido e talentoso confrade! 

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