• Protestos no Irã se espalham um mês após morte de Mahsa Amini

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  • 15/10/2022 17:55
    Por Redação, O Estado de S. Paulo / Estadão

    O Irã se aproxima de completar um mês de protestos que ganham cada vez mais força conforme o governo aperta a sua repressão. As manifestações começaram em 16 de setembro após a morte da jovem curda Mahsa Amini enquanto estava detida pela polícia da moralidade. Os iranianos voltaram às ruas em várias cidades neste sábado, 15, apesar dos bloqueios às redes sociais no país e buscando novos locais onde não haja concentração de forças de segurança.

    Respondendo ao chamado de ativistas, os jovens iranianos saíram às ruas gritando “mulher, vida, liberdade” (um antigo lema curdo) e “morte ao ditador”, direcionado ao líder supremo Ali Khamenei. Os ativistas pediram aos manifestantes que se mobilizassem em novas áreas para reduzir os riscos de confronto em locais de concentração policial e ao mesmo tempo tentar diminuir a presença das forças de segurança nas principais praças e estradas.

    Assim, protestos ocorreram em cidades como a capital Teerã, Isfahan, Mahabad, Ardebil, Karaj, entre outros locais, especialmente dentro das universidades, que tem sido um foco importante de manifestações.

    Os manifestantes receberam na sexta-feira, o apoio do presidente Joe Biden, que garantiu que os Estados Unidos estão “do lado dos cidadãos, das corajosas mulheres do Irã”. “O Irã deve pôr fim à violência contra seus próprios cidadãos que estão, simplesmente, exercendo seus direitos fundamentais”, afirmou Biden na Califórnia.

    Na Universidade de Arte de Soore, na capital, os estudantes pintaram as mãos de vermelho e pediram a libertação de detidos, de acordo com o coletivo ativista 1500tasvir. Por sua vez, os alunos da Universidade de Arte de Isfahan pintaram com as mãos vermelhas um mapa do Irã no qual colocavam “mulher, vida, liberdade” e os nomes dos mortos nos protestos.

    Em outros protestos na capital, manifestantes gritaram “nossa Masha, nossa Nika”, referindo-se a Amini e outra vítima. Além de Amini, outras vítimas se tornaram símbolos da repressão como Nika Shakarami, 17, e Sarina Esmaeilzadeh, 16, que morreram na repressão aos protestos, segundo relatos de suas famílias. As autoridades alegam que as mortes foram acidente.

    Bloqueio da internet

    As autoridades tentaram impedir este dia de protestos com fortes restrições à internet, como confirmado pela NetBlocks, plataforma que monitora a conectividade do usuário e a censura na internet. Ainda assim, os ativistas lançaram um chamado online sob o lema “O começo do fim!” do regime para se manifestar neste sábado.

    Vídeos publicados no Twitter mostram os manifestantes tomando as ruas da cidade de Ardabil. Os vídeos compartilhados nas redes sociais têm sido um forte motor dos protestos, apesar dos bloqueios do governo. Com eles, imagens de mulheres estudantes tirando seus hijabs em frente a autoridades e gritando palavras de ordem em escolas viralizaram.

    Lojistas entraram em greve em Saqez, a cidade natal de Amini, na província do Curdistão iraniano, e em Mahabad, também no noroeste, relata o veículo 1500tasvir, que acompanha os protestos.

    De acordo com o Hengaw, um grupo de defesa dos curdo-iranianos com sede em Oslo, também foram registrados protestos em Ney, no Curdistão iraniano. “Estudantes do ensino médio do povoado de Ney, em Marivan, atearam fogo à rua e entoaram palavras de ordem contra o governo”, afirmou.

    “Os mulás devem ir embora!”, gritou um grupo de alunas sem véu, na Escola técnica e profissional Shariati, de Teerã, segundo outro vídeo on-line.

    Apoio internacional

    Com isso, a despeito de uma violenta repressão por parte do governo, o movimento de protesto entra em sua quinta semana.

    A indignação provocada pela morte, em 16 de setembro, de Mahsa Amini, uma curdo-iraniana de 22 anos, sob custódia policial, deflagrou a maior onda de manifestações e de violência no Irã desde os protestos de 2019 contra o aumento dos preços da gasolina no país rico em petróleo.

    Amini foi presa em 13 de setembro pela polícia da moralidade de Teerã, por supostamente violar o rígido código de vestimenta da República Islâmica para mulheres.

    Desde então, jovens estão liderando esses protestos em que pedem mais liberdades, lançam palavras de ordem contra o governo e queimam véus, um dos símbolos da República Islâmica.

    As autoridades atribuem as mobilizações a conspirações de inimigos, um termo frequentemente usado para se referir aos Estados Unidos e Israel.

    A Polícia reprimiu duramente as mobilizações com o uso de cassetetes, gás lacrimogêneo, canhões de água e, segundo a ONU, com munição real e a prisão de milhares de pessoas. A repressão tem provocado condenação internacional e uma onda de solidariedade com as mulheres iranianas.

    A Anistia Internacional descreveu a resposta do Estado como “repressão brutal” com “ataques ilimitados contra crianças que protestam”.

    Estados Unidos e União Europeia determinaram sanções contra funcionários iranianos envolvidos na repressão. Mas antes que a UE imponha sanções a Teerã, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, pediu ao bloco que adote uma visão realista das manifestações. “O Irã é um pilar de estabilidade e segurança duradouras na região”, lembrou o chanceler em uma conversa por telefone, na sexta-feira, com o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

    Os números de mortos e detidos são incertos, já que o governo divulga poucos balanços e nega a repressão. Segundo a ONG Iran Human Rights, com sede em Oslo, cerca de 108 pessoas já morreram, incluindo 23 menores, entre 11 e 17 anos. Já o monitor de direitos humanos HRANA, aponta que o número de mortos já pode estar próximo de 233, com ao menos 32 menores de idade. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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