Projeto comunitário muda a realidade de crianças e adolescentes do Neylor
Em parceria com a Ong Iniciativas de Mudanças, o projeto Nyumba-kaya, que no dialeto africano significa “Casa”, vem transformando a vidas de crianças e suas famílias, na comunidade do Neylor, no Retiro. Atendendo a quase 30 crianças, na faixa etária de 8 a 15 anos, de forma voluntária, a pedagoga Natasha Clarck coordena as atividades do projeto, com orientações, ensinamentos sobre respeito ao próximo, reciclagem e até mesmo auxilio com os estudos. A iniciativa tem impactado positivamente em famílias da comunidade.
O projeto acompanha cerca de 60 famílias da comunidade do Neylor, trabalhando com as crianças no contraturno do período escolar, de segunda a sexta-feira. Com a colaboração de voluntários, o oferece café da manhã para as crianças, atividades diversas e reforço escolar.
O Nyumba-kaya surge após reflexão sobre a utilização dos espaços do Sítio São Luiz, que muitas vezes era invadido por crianças e adolescentes que buscavam o campo de futebol e a piscina. Natasha observou a situação e com o apoio da Ong Iniciativas de Mudança, abriu o sítio para as crianças da Comunidade por meio do projeto. A coordenadora também busca acrescentar conhecimento e cultura nas atividades com as crianças e adolescentes.
“As crianças buscavam o sítio de uma forma não muito positiva, e foi a partir daí que o projeto foi aberto para os pequenos aqui do bairro. Sempre fui apaixonada pela educação e vi a oportunidade de despertar nos participantes uma nova forma de ver o mundo, em uma perspectiva regional e até mesmo global, gerando conhecimento” destaca Natasha.
O depoimento da coordenadora é sustentado nas palavras da menina Kaynara Carvalho, de 11 anos, que, com muito entusiasmo, fala sobre os benefícios que o projeto lhe proporcionou. “O projeto acrescentou muitas coisas boas na minha vida. Eu brigava muito em casa e na escola e não respeitava muito a minha mãe. Aprendi, aqui no projeto, a conversar mais e a respeitar as pessoas. Também passei a ter mais paciência e a ter mais cuidado com as coisas da nossa comunidade”, conta Kaynara.
A mãe da menina, Célia Regina Carvalho, de 55 anos, diz que a família foi beneficiada com a evolução de Kaynara. “Quando saía para o trabalho, ela e os sobrinhos ficavam em casa brigando muito. Ela era muito agitada e nervosa, não tinha muito controle, e o que aconteceu com ela foi
simplesmente uma bênção. Kayanara passou a ter respeito pelos outros. Na escola, as notas melhoraram. Não tenho palavras. Minha filha está mais humana”, diz a mãe.
O respeito e a comunicação entre amigos e a família também são pontos levantados por outras mães. “Meu filho passou a ter mais respeito pelas pessoas e, principalmente, por seus colegas da comunidade e da escola. Seu comportamento diante dos problemas do nosso bairro tem me tocado muito. A ocupação e as atividades têm tido um grande efeito para ele”, declara Leilane Pereira, de 34 anos, mãe de João Victor Pereira, de 10 anos.
“A única coisa que estava abraçando nossas crianças era a violência e o tráfico. Estamos mais tranquilas, sabendo que estão em boas mãos. Sou grata pelas orientações e o auxílio da Natasha, pois têm sido muito positivas para minha família”, relata a cozinheira Ana Carolina de Araújo, mãe do menino Bryan de Araújo.
Natasha Clarck destaca a mudança de mentalidade dos pequenos como principal foco do projeto. Segundo ela, a partir deles, a comunidade ganha agentes de mudança. Alguns projetos já têm sido desenvolvidos, com parcerias entre instituições e colaboração das crianças. Um outro tema, muito discutido nas rodas de conversa é a conscientização sobre cuidados com o lixo: reutilização, reciclagem e evitar despejos irregulares.
A coordenadora conclui que a relação entre ela, as crianças e as mães é a chave para o crescimento do projeto, sendo essencial para disseminação dos ensinamentos na comunidade. “Essa relação vem sendo construída aos poucos. Temos aqui um espaço de aprendizagem, crescemos e aprendemos juntos. As mães são agentes dessa transformação. Elas são nossas principais auxiliadoras, inclusive dentro da comunidade. A equipe ainda é muito pequena, mas nosso objetivo é desenvolver outras atividades dentro do sítio e também na região”, conclui.