• Programa de atividade física estimula saúde e vitalidade depois dos 60

  • 03/06/2019 12:54

    Pesquisas apontam que o processo de envelhecimento da população se acelera. Por esse motivo, chegar à Terceira Idade com saúde e disposição – e mais do que isso, com autonomia para viver com qualidade o cotidiano – tem sido o objetivo de 10 entre 10 idosos no Brasil. Portanto, lidar com essa parte significativa da população requer cuidados especiais e é justamente isso que o projeto “Viver Mais” se propõe em Petrópolis.

    Para entender o mecanismo de funcionamento do projeto, é necessário entrar no túnel do tempo para compreender como ele começou a ser esboçado. Há três décadas, o então jovem professor de educação física, Renato Farjalla, se formou na profissão e o tema velhice sempre chamou a atenção, justamente em uma época em que poucos na sua área se atreviam a se debruçar em estudos relacionados ao envelhecimento da população geral. Naquela ocasião, sua visão sobre o tema o impulsionou a se aprofundar sobre o assunto.

    Foram anos de dedicação integral a pesquisas e estudos relacionados aos menos jovens. Durante alguns anos, pegou sua bagagem e foi morar em Portugal para realizar pesquisas de campo, aprender sobre as soluções governamentais e privadas sobre qualidade de vida e velhice, os mecanismos biológicos e físicos a respeito do processo de evolução de doenças associadas a senilidade. Atualmente, faz um doutorado que nada mais é do que a reunião de tudo que estudou para a sua aplicação na realidade. Daí surgiu o “Viver Mais”.

    Farjalla decidiu convidar a professora de educação física, Flávia Guimarães, para aplicar, em academias, um plano de atividade física voltada para a melhora da qualidade de vida dos idosos. Flávia, que já havia trabalhado com essa categoria da população, topou na hora e, desde o ano passado, a dupla escolheu a academia VO2 (Centro) para pôr em prática o projeto com um grupo de idosos, que segue à risca um programa individualizado de treinamento, associado a atividades sociais. O resultado tem sido positivo até aqui. “O projeto é fundamentado não apenas na atividade física, mas em outros aspectos importantes que fazem parte da vida do idoso. O social, sobretudo, faz parte do trabalho, assim como o psicológico. O aluno quer ver o resultado do esforço que faz na academia e sempre damos um retorno positivo a ele”, explica o professor.

    O “Viver Mais” é, também, um desdobramento de um projeto em que Renato Farjalla coordenou por cinco anos em uma universidade de Petrópolis. Através deste trabalho, pôde aprimorar todo o seu trabalho, que se materializou no programa esportivo que muda a vida dos idosos. Além disso, de acordo com seu levantamento de campo, a população considerada mais velha do município abarca 14%, um contingente inegavelmente enorme e que tende a crescer ainda mais nas duas próximas décadas, segundo ele. Por conta disso, o doutorando educador físico faz um alerta: para evitar que hospitais públicos e privados fiquem lotados de pacientes, é fundamental que a população faça atividade física regular e acompanhada, sobretudo para a turma da Terceira Idade.

    O desafio do “Viver Mais” é expandir o projeto para todo o município. Sendo assim, Renato Farjalla e mais Flávia Guimarães, ao lado do professor Michel Oliveira, desenvolveram uma metodologia própria para capacitar profissionais da educação física para trabalhar com a Terceira Idade. Farjalla vai oferecer neste ano a um grupo de educadores físicos e estudantes para trabalhar com esse grupo expressivo da população. “Nós casamos os conteúdos e experiências nossas com o trabalho e queremos nos tornar referências nesse campo. Podemos contribuir muito para a melhora da qualidade de vida da população, que a cada década aumentará. Além disso, queremos mostrar aos idosos a importância de fazer parte de um projeto como esse, que vai lhe dar uma boa condição física e melhorar sua autoestima, autonomia e alegria de viver”, detalhou Renato Farjalla.

    O passo-a-passo do trabalho e a impressão dos alunos

    O plano de trabalho do “Viver Mais” consiste, antes de tudo, em fazer um mapa da situação global do idoso. A verificação de sua saúde vai dar uma noção daquilo que pode ou não ser feito, a medição dos exercícios e buscar aquilo que melhor poderá beneficiá-lo. Há centenas de exercícios e essa escolha individual se dá em conformidade com o próprio aluno, que necessita sentir prazer em fazer a atividade. Se, por exemplo, a pessoa tiver sofrido um infarto, será preciso direcionar um trabalho específico para melhorar sua condição cardiovascular, proporcionando aumento na qualidade de vida. 

    Ana Clara Souza de Almeida, de 75 anos, treina três vezes por semana. Foto: Bruno Avellar / Tribuna de Petrópolis

    Esse foi o procedimento adotado com Ana Clara Souza de Almeida, 75 anos, que por duas vezes foi vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e ainda tem Mal de Parkinson, diagnosticado em 2010. Essa combinação de problemas trouxe uma perda da qualidade de vida enorme. Por isso, seu médico a aconselhou a fazer exercícios físicos para melhorar sua condição de saúde. “Dona Ana”, como é conhecida, ingressou no “Viver Mais” na esperança de minimizar o impacto dos problemas de saúde. O resultado foi impressionante: exibe uma alegria incrível, que lhe dá a condição de treinar três vezes por semana. Os sintomas do Parkinson, por exemplo, são contidos a tal ponto de terceiros não perceberem que ela possui a doença – amplamente divulgada mundo afora pelo ex-boxeador Muhhamad Ali (Cassius Clay).

    José Francisco Cardoso recebe orientação de Flavia Guimarães durante o treino. Foto: Bruno Avellar / Tribuna de Petrópolis

    Os irmãos José Francisco Cardoso de Souza e Maria Ruth Cardoso Carvalho, respectivamente 71 e 84 anos, são assíduos frequentadores do projeto na VO2 e não faltam a uma aula sequer. O primeiro enfrentou uma cirurgia na cervical e associa a atividade física do programa com a reabilitação da intervenção médica, enquanto que a aluna – que é a mais idosa do grupo – combate uma artrite reumatoide que, até um tempo atrás, a limitava em sua vida cotidiana em casa. “Essa artrite é uma doença bastante chata e que me traz problemas. Mas venho as aulas três vezes por semana e digo que tenho uma excelente qualidade de vida, faço minhas coisas sozinhas e minha saúde é muito boa”, explicou Dona Ruth.

    Depois de desenvolver uma doença que custou para ser identificada pelos médicos, a carioca Sara Salvador, de 67 anos, viu a morte de perto após sofrer uma grave convulsão. Até descobrir, de fato, a doença que possuía, precisou de tratamento médico regular, que veio acompanhado da indicação para atividade física moderada. Ela entrou em uma academia e conheceu Flávia Guimarães, que a orientou durante muito tempo até ser indicada para fazer parte do “Viver Mais”. Hoje, a tradutora de línguas tem uma qualidade de vida que lhe permite executar todas as suas tarefas normalmente, associada à disposição enorme que ela garante ter. “Hoje não sinto nada de ruim. Faço o tratamento médico e realizo meus exercícios sem problema algum. Quer saber? Não paro mais de me exercitar. É excelente para minha saúde e minhas tarefas diárias”, brincou ela.

    Para acompanhar o trabalho e a evolução de cada idoso, Flávia Guimarães destaca pontos-chave da implementação do “Viver Mais”, como a união de diferentes conhecimentos para conseguir o sucesso. A parte social é considerada um pilar essencial para o êxito daquilo que o aluno busca, “Sempre procuramos dar retorno aos alunos sobre seu sucesso no treinamento. Mas fazemos atividades sociais que contribuem para a saúde de todos, sempre com alegria. A confraternização também faz parte do projeto”, ressaltou a educadora, que prevê a expansão do “Viver Mais” para outras academias locais.

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