• Profissões nostálgicas na cidade de Petrópolis

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  • Por Aghata Paredes

    A arte da ourivesaria 

    Pelas mãos de uma família húngara em Petrópolis

    Gisela Wider já nasceu num ambiente em que a ourivesaria era, tradicionalmente, a profissão de seu núcleo familiar. Essa arte chegou a sua família em 1942. Ela conta que sua família é húngara e que o seu avô, Adalberto Wider, trouxe da Hungria a tradição do trabalho com joias. Na infância, Gisela relembra que brincava com as pedras, as peças e as ferramentas do avô. Mais tarde, quando terminou os estudos, começou a trabalhar em uma fábrica de joias com o pai, Gustavo Wider, em Araras.

    Fotos: acervo pessoal de Gisela – avô e pai da ourives trabalhando em seus ateliês

    Gisela conta que, até hoje, mantém a tradição do trabalho de ourives – a solda, a fundição da prata e a laminação.  O trabalho artesanal de uma peça mais elaborada, segundo ela, leva de 2 a 3 dias para ser concluído. As etapas do processo de confecção das peças são todas feitas manualmente por Gisela. 

    O que há de mais bonito na profissão, segundo ela, é o poder de transformação de uma peça: “A alquimia de transformar uma coisa, aparentemente sem valor, numa joia, me fascina. Pego um pedaço de prata ou ouro, ainda bruto e, às vezes, feio, e vou trabalhando nele para encantar as pessoas através das formas e harmonia presentes.”

    Fotos: acervo pessoal de Gisela

    Sobre a tradição familiar, Gisela conta que não deseja que o trabalho de ourives se encerre com ela. Por isso, sem que alguém na família tenha desejado dar continuidade à tradição, ela se sente feliz em passar a arte adiante para os alunos dos cursos que oferece na cidade. 

    Uma valiosa profissão do passado, contada por quem a viveu

    A lapidação em Petrópolis

    Em Petrópolis, a profissão do lapidário surgiu nos anos 40, conta o Sr. João Carlos Fabre dos Reis: “Esse trabalho surgiu através de pessoas que fugiram da perseguição dos nazistas na Europa. Nos anos 80 e 90, o segmento chegou a ter mil profissionais na cidade. Ainda nos anos 90, as empresas foram encerrando suas atividades não apenas em Petrópolis, mas no Brasil. Atualmente, temos poucos profissionais atuando nessa área. O processo e a forma de lapidação mudaram bastante.”

    O ex-lapidário relembra quando aprendeu a lapidar diamantes: Meu pai tinha uma banca de lapidação nos fundos da nossa casa em Petrópolis. Em 1975, aos 14 anos, comecei a acompanhá-lo e aprender a arte da lapidação. Foi assim até 1996.” João Carlos conta, ainda, que a profissão é tradicional na família: “Meu pai, quatro tios, meu irmão e minha esposa eram lapidários.” 

    O trabalho do lapidário, segundo o Sr. João, é dividido em etapas: “O diamante bruto passa, primeiro, por uma serra; é dividido e, depois, vai para o forno. Lá, ele toma forma para ser lapidado como brilhante. Depois é a vez da lapidação. Nessa etapa, o trabalho é feito em seis fases: três na base do diamante e três do outro lado para dar brilho à peça.”

    O Sr. João comenta sobre a beleza do trabalho de outros tempos: “Eu podia contemplar peças que se tornaram, em dado momento, parte de joias valiosas. Isso era o que tinha de mais bonito em ser lapidário.”

    Foto: Freepik

    A tradição familiar no ramo de chapelaria e cutelaria

    A partir da memória afetiva de Hilário José Gonzalez

    Pode ser que você nunca tenha entrado na Chapelaria e Cutelaria Esmeralda, mas seus pais e avós, com certeza, já. Avelino Dias, um espanhol, fundou o negócio na década de 40. No entanto, devido à falta de experiência com o comércio, acabou repassando a Esmeralda às mãos de Hilário Gonzalez Dominguez e Henrique Dieguez – dois espanhóis e amigos de fé que encontraram refúgio, com medo da Guerra Civil Espanhola, no Rio de Janeiro. Lá, antes de assumirem a Esmeralda, ambos trabalharam como amoladores de rua. No entanto, a máquina usada para realizar o trabalho fazia muito barulho, além de ter sido proibida na época. Os amigos, então, resolveram tentar a vida em Petrópolis. 

    Em terras petropolitanas, levaram a chapelaria e cutelaria por alguns anos. Passado algum tempo, um deles faleceu de câncer e o sócio, Hilário Gonzalez Dominguez, ficou preocupado com o futuro do negócio. Foi quando decidiu trazer da Espanha um familiar para ajudá-lo na Esmeralda, Hilário Gonzalez Dominguez Sobrinho. Eugenio Lamelas Gonzalez, outro familiar, também foi chamado depois de alguns anos. Até a década de 70, os três trabalhavam juntos na chapelaria. Com a aposentadoria de Hilário Gonzalez Dominguez foi proposto ao filho, Hilário José Gonzalez, a continuidade do negócio. 

    O Sr. Hilário José, atualmente aos 70 anos, relembra com carinho dos tempos da Esmeralda: “Recebi do meu pai o convite para dar continuidade à Esmeralda e aceitei. O que mais me traz boas recordações é que, depois de mais de 45 anos de trabalho, continuo encontrando ex-fregueses que lembram de mim e da chapelaria, desejando a reabertura do negócio.” 

    Além de amolar facas de todos os tipos, incluindo facas cirúrgicas, alicates e outros objetos, a Chapelaria e Cutelaria Esmeralda também fabricava e consertava guarda-chuvas. “Além da fabricação, nós recebíamos, em média, de 100 a 150 guarda-chuvas para conserto em dias de chuva. Lembro de uma tarde em que chegamos a receber 300 guarda-chuvas. Minha mãe, Maria, e minha sogra, Elazir, chegaram a costurar centenas deles à mão. Era um trabalho artesanal que exigia tempo e dedicação.”, comenta o Sr. Hilário José. 

    Foto: Arquivo Tribuna de Petrópolis

    A loja também era famosa pelos chapéus, que atraiam os olhares dos petropolitanos na calçada, segundo o Sr. Hilário José: “Vendíamos muitos chapéus na loja, incluindo o verdadeiro chapéu panamá, que custava R$340,00, além de chapéus de feltro e chapéus de couro de lebre.” Com orgulho, o aposentado complementa: “Éramos a única loja com representação de chapéus na cidade.”

    Sobre as curiosidades da Esmeralda, O Sr. Hilário José conta que chegou a amolar mais de 50 facas do Presidente Figueiredo, como cortesia, quando o mesmo morava em Araras: “Amolamos diversas facas que ele trouxe de outros países como cortesia. Eram facas lindas e, por isso, não queríamos que ele as perdesse.” O proprietário da saudosa Esmeralda conta que o ex-presidente não foi o único beneficiado pela loja: “A Chapelaria e Cutelaria Esmeralda amolava também as ferramentas do Corpo de Bombeiros de Petrópolis, sempre que necessário, como cortesia. Outro lugar que ajudávamos era a Escola do Amparo. Doávamos à escola, anualmente, guarda-chuvas, tesouras e outros itens tradicionais da loja.”

    A Chapelaria e Cutelaria Esmeralda fechou em agosto de 2012, deixando os petropolitanos com saudades. Por outro lado, ainda hoje, é possível reviver os tempos dessa joia rara e familiar ao passar em frente ao local onde era a loja, na Rua do Imperador, números 210 e 214.

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